Taoísmo e o Tao Te King

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Tao significa princípio. Segundo os seguidores, é o princípio e o fim do todo manifestado. É comparado a um caminho circular que parte e termina no mesmo ponto, pelo qual todos os seres transitam até a sua reabsorção no Tao que lhes deu origem. O taoísmo tem seu nascimento no xamanismo, no período entre 3000-800 a.C. Esses conhecimentos dos xamãs antigos foram incorporados, mais tarde, às práticas e cerimônias religiosas taoístas. Segundo a tradição, o Tao é a fonte de todos os seres, o princípio Absoluto e sem forma que lhes dá a origem e outorga-lhes uma forma. O taoísmo visa ao estado ideal coletivo e individual do homem; o esvaziamento dos desejos. Prega que o conhecimento deve ser profundo e não extenso, e que o que é bom afasta o egoísmo. O conceito da não-ação não significa inércia, mas não agir por desejo pessoal. Ele recomenda que o homem deve afastar-se da obra egoísta e do conhecimento vão, enaltece a delicadeza e o altruísmo, a invisibilidade, a flexibilidade e a prudência, a segurança e a serenidade. A visão taoísta é a de que não existe o bem e o mal, existe o necessário. E o necessário é que cada um cresça como ser vivente, pois tudo no universo confere essa possibilidade. No Tao te King, Lao-Tsé fala sobre a existência de um Tao permanente – inominável, incognoscível, inapreensível, uma causa sem causa, um absoluto, uma origem primordial, não sujeito ao tempo, nem ao espaço, eterno, sem começo e sem final –; e um Tao que não o é – uma emanação do primeiro, que pode ser conhecido pela mente humana, a partir do qual se deu origem à existência do Universo. Dessa unidade (o Tao), engendra-se a dualidade do Yin-Yang, que aparecem sempre unidos e não podem se dissociar. No taoísmo nada é certo, a não ser a própria subjetividade que participa dessa dualidade; o homem está pronto sempre a estabelecer, inconscientemente, comparações (alto e baixo, grande e pequeno, perto e longe, feio e bonito). Além disso, para o taoísmo, a percepção humana, através dos sentidos, desvirtua a realidade unitária do Tao. A mente é que vê a Natureza como desagregada e diversa e, portanto, a dualidade existente é produção da mente. A consciência julga segundo juízos prévios que são irreais, pois dependem da posição relativa do observador. Segundo a filosofia, todas as linguagens, imagens, símbolos, palavras, ideias, pensamentos, sentimentos e emoções são manifestações passageiras, temporárias, e correspondem a formas limitadas.  A condição absoluta de ser é encontrada por meio da experiência pessoal; o Absoluto existe somente quando o homem se integra a ele. Os pensamentos, as ideias, as intenções, as visualizações, as formas e os símbolos são considerados linguagem; o além da linguagem é a quietude, que não deve ser compreendida como ausência de todas as coisas, mas como algo anterior que permite que todas as coisas se manifestem de maneira natural e espontânea.

 

O Livro Tao Te King do taoísmo

O Tao Te King diz: “O Tao produziu o Um, o Um produziu o Dois, o Dois produziu o Três, o Três produziu todas as coisas”.

O livro atribuído ao chinês Lao-Tsé é um texto curto. São conhecidos quarenta e dois exemplares originais, dos quais catorze estão escritos em pedra. O mais antigo apareceu quando arqueólogos escavavam um túmulo da época de Han e encontraram as versões em seda, do século II a.C. A estrutura atual ordena 37 capítulos dedicados ao Tao, seguidos de 44 dedicados ao Te (que significa a força da energia e assemelha-se ao conceito de virtude – virtus). São 81 capítulos no total. O texto refere-se ao Tao como Vacuidade (a vasilha pode conter as coisas porque está vazia). Nesse sentido, aconselha a esvaziar a mente de desejos e intenções para, uma vez isenta de interesses pessoais, poder agir como o Tao. O sentido da reta-ação é a de querer pelo dever e não pela imposição. Outros mestres taoístas como Chuang Zi e Lie Zi, também escreveram suas obras no período entre 770 a 476 a.C. O Tao Te King foi provavelmente escrito em 1300 a.C.

Com relação à morte, o taoísmo prega que não se deve ser apegado à vida material, mas se libertar sem repudiar a vida. Considera que, após a morte, a consciência entra em um estado que a leva para a transmigração, que é a eterna e infinita repetição de uma vida após a outra, ou seja, a consciência infinitamente vive diversas vidas. A autonomia espiritual é a libertação através de cantos, mantras e meditação.

A seguir, alguns trechos do Tao Te King, traduzido por Richard Wilhelm, a partir dos quais faço interpretações.

 

Capítulo II

“Se todos na Terra reconhecerem

a beleza como bela,

dessa forma, já se pressupõe a feiura.

Se todos na Terra reconhecerem o bem como

desse modo, já se pressupõe o mal.

Porque Ser e Não ser geram-se mutuamente.

O fácil e o difícil se complementam.

O longo e o curto se definem um ao outro.

O alto e o baixo convivem um com o outro.

A voz e o som casam-se um com o outro.

O antes e o depois se seguem mutuamente.

Assim também o sábio:

permanece na ação sem agir.

Ensina sem nada dizer.

A todos os seres que o procuram,

ele não se nega.

Ele cria e, ainda assim, nada tem.

Age e não guarda coisa alguma.

Realizada a obra, não se apega a ela.

E, justamente por não se apegar, não é abandonado.”

“[…] Abranda a tua dureza.

Desata os teus nós.

Modera o teu brilho.

Une-te com a tua poeira. […]”

“[…] O maior bem é como a água.

A virtude da água está em beneficiar

a todos os seres sem conflito.

Ela ocupa os lugares que o homem despreza. […]”

 

Comentários

No taoísmo o Zero representa o que é anterior à manifestação, o Vazio. O Um é o demiurgo, aquele que manifesta todas as coisas. O Dois, o Céu e a Terra, representa a dualidade, o espírito e a matéria. O Três, a multiplicidade do Universo. O Cinco é o número que compreende os sentidos humanos.

O agir (a ação) é o egoísmo e a não-ação é a Lei da Natureza.

A moralidade está associada à coerção. O moralista tem regras para sustentar essa moralidade.

A escuridão e a luz representam a ignorância e o conhecimento.

O nobre diz respeito à nobreza humana; o Príncipe, o princípio, é o que dá o exemplo, o primeiro; e Rei, a retidão.

O rio significa o que flui segundo a necessidade e segue o seu curso; a água é o que preenche a necessidade, que penetra e ocupa todos os lugares e não assume formas.

O homem chega à Unidade dominando o egoísmo e não deve criar necessidades que não sejam aquelas naturais.

No taoísmo o acaso não existe. Extrai-se das circunstâncias o que se quer extrair.

A moral não deve ser imposta, mas uma convicção. Além disso, o bem deve ser um ato de consciência e não de adestramento.

A personalidade deve ser maleável, flexível, e o homem tem que dominá-la.

Todo o ensinamento se dá por meio do exemplo. Já a evolução, pela reflexão ou pela experiência.

Saber lidar com os inimigos internos é a verdadeira coragem.

Quanto mais espiritual se é, menos se tem a necessidade de estabelecer a posse sobre alguma coisa (matéria).

Aquele que não se excede nem se escassa está sempre em harmonia.

A guerra somente se justifica para sanar uma injustiça.

Não se disciplina o homem pelo medo, mas pela virtude.

A excessividade gera vícios. O que é supérfluo é vicioso, e o vício leva ao sofrimento.

A prioridade de um homem deve ser a bondade.

Saber é conhecer (é ter informação); já ser é ter formação, caráter. O útil é uma ferramenta, como um meio, e não um fim. O manipular é manejar (que pode ser para o bem ou para o mau). As riquezas são os valores, as virtudes.

Os taoístas entendem que todos os fenômenos são cíclicos e que há que se buscar a harmonia entre as dualidades (yang e yin).