Xamanismo

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Xamanismo é um conjunto de crenças ancestrais que engloba práticas de magia e evocações para estabelecer contato com o mundo espiritual. Não é possível situar historicamente ou geograficamente o xamanismo, mas, como ensina Mircea Eliade, eram técnicas do êxtase dos tungues (povos do nordeste da Sibéria), iacutes, mongóis, turco-tártaros, e de outros povos. Ele constitui, desde remotas eras, segundo antropólogos, uma herança da espiritualidade para o ser humano. Usava (ou usa, pois o xamanismo ainda é exercitado por povos da Amazônia legal) práticas de tratamentos e de magias, animistas e primitivas, envolvendo cura, transe, transmutação, adivinhação e contato entre corpos e espíritos de outros xamãs, de seres míticos, de animais e dos mortos. Não se pode considerar o xamanismo como religião originária. Cada tribo tinha seus ritos, que podiam até ser diferentes dentro de uma mesma tribo, dependendo da circunstância.

Durante os rituais, o sacerdote (xamã) entrava em transe, manifestando poderes incomuns, invocando espíritos, plantas, animais, através de objetos rituais do próprio corpo ou do corpo de assistentes ou dos devotos. A comunicação com esses aspectos sutis da vida poderia se processar por meio de estados alterados de consciência, alcançados através de batidas de tambor, danças, sonhos e de ervas enteógenas. A experiência extática era considerada a experiência religiosa por excelência.

De acordo com Eliade, entre os manchus e os tungues da Manchúria a tradição dos dons xamânicos costumava ser feita de avô para o neto, pois o filho ocupava-se em prover as necessidades do pai. O reconhecimento como xamã só era feito pela comunidade depois de uma prova iniciática. Entre os manchus, a iniciação incluía a passagem do candidato sobre as brasas: se o aprendiz dispusesse dos espíritos que alegava ter, caminharia impunemente sobre o fogo. Outra prova era mergulhar, no inverno, em buracos feitos no gelo.

O poder xamânico deriva diretamente do ser supremo ou de outras entidades divinas. Entre os esquimós, por exemplo, umas das etapas da iniciação consistia na visão, pelo neófito, de seu próprio esqueleto: “Essa experiência exige um longo esforço de ascese física e de contemplação mental cujo objetivo é a obtenção da capacidade de ver-se como esqueleto”.

Ainda segundo Eliade, das referências a distúrbios psicológicos (especialmente no processo de formação) o ideal iacuto de um xamã era ser um homem sério, que sabia convencer os que estavam à sua volta (a arte de persuadir), não presunçoso, nem colérico. Entre os kazak-quirguizes (grupo étnico turcomano), a profissão de baqça, guardião das tradições religiosas,  era também ser cantor, poeta, músico, adivinho, sacerdote e curandeiro.

Ao se abranger as diversas culturas xamânticas, pode-se dizer que os xamãs tinham o poder de ascender aos céus. Veneravam um grande deus celeste. Graças à sua capacidade de viajar para os mundos sobrenaturais e de ver os seres sobre-humanos (deuses, demônios, espíritos dos mortos etc.), o xamã tinha o conhecimento da morte. É provável que muitas características da “geografia funerária” e que certo número de temas da mitologia da morte seja resultado das experiências extáticas dos xamãs.

Tratando das “ideologias e técnicas mágicas ou extáticas da religião indo-europeia”, Eliade cita que “havia magias e técnicas de êxtase alheias à estrutura ‘xamânica’, como por exemplo, a magia dos guerreiros e as técnicas de êxtase ligadas às Grande Deusas Mães e à mística agrícola, que nada tinham de xamânicas.”

Mircea Eliade e outros autores têm inúmeras publicações e livros sobre o tema. Do citado autor, pode-se mencionar “O Xamanismo e as técnicas arcaicas do êxtase”, “O Sagrado e o Profano”, entre vários outros.

Na imagem, um homem com o falo ereto está deitado ao lado de um bisonte com uma cabeça de pássaro ao seu lado; o próprio homem parece ter a cabeça de pássaro e presume-se que represente um xamã em transe. Essa interpretação foi popularizada na década de 60 por Andreas Lommel, no livro Shamanism: The Beginnings Of The Art.