Os deuses egípcios – O Livro dos mortos egípcio – O Paraíso de Osíris
O Antigo Império egípcio se desenvolveu entre 3000 e 2100 a.C. São desse período as grandes pirâmides dos faraós, construídas nas proximidades de Mênfis, a capital do Egito na época. Os egípcios acreditavam que os faraós eram os representantes diretos dos deuses na Terra. Seguiu-se o Médio Império – 2100 a 1580 a.C. –, e por último o Novo Império – 1580 a 715 a.C. Em razão do enfraquecimento do Estado, o Egito foi conquistado sucessivamente pelos assírios (670 a.C.), persas (525 a.C.), gregos (332 a.C.) e romanos (30 a.C.), que tiveram influência na cultura e crenças dos egípcios.
Não existiu uma religião no Egito, mas um conjunto de crenças – diferentes em cada região. Esse conjunto de crenças foi exercido desde cerca de 3000 anos a.C. até o surgimento do cristianismo. Havia a crença em várias divindades como forças da natureza. Posteriormente, a crença comum passou a considerar uma divindade criadora do universo, tendo outras forças independentes, participantes da criação e manutenção da realidade, mas ainda assim inferiores ao Supremo. O culto era praticado em santuários domésticos.
O Livro das Pirâmides (surgido no Reino Antigo) é uma compilação de fórmulas mágicas e hinos cujo objetivo era proteger o faraó e garantir a sua sobrevivência no pós-vida. Os textos eram escritos sobre as paredes dos corredores das câmaras funerárias das pirâmides de Sakkara (foi erguida para o sepultamento do faraó Djoser em 2630 a.C. e fica no Deserto de Al Giza). Outro livro, o Livro dos Sarcófagos, tinha textos escritos em caracteres hieroglíficos cursivos no interior de sarcófagos de madeira da época do Império Médio e também tinha o propósito de ajudar os mortos no outro mundo. Por último, o Livro dos Mortos inclui os textos do Império Novo, escritos em rolos de papiro pelos escribas.
As várias divindades egípcias existentes caracterizavam-se pela sua capacidade de estar em vários locais ao mesmo tempo e de sobreviver a ataques. A maioria delas era benevolente. Um deus também poderia assumir várias formas. A divindade solar Rá, por exemplo, conhecida como Khepri (divindade que criou-se da matéria primordial), recebia o nome de Atum, ao entardecer. Durante o dia, Rá andava pela Terra como um falcão. Essas divindades eram agrupadas de várias maneiras, como em grupos de nove deuses (as Enéades), de oito deuses (as Ogdóades), ou de três deuses (tríades).
A Enéade de Heliópolis
Segundo a criação de Heliópolis (próximo à atual cidade de Mallaui), capital do Alto Egito, no princípio existiam as águas do caos, Nun. Um dia uma colina de lodo chamada Ben-Ben levantou-se dessas águas, tendo na sua parte superior Atum, o primeiro deus. Atum tossiu e expeliu Shu (deus do ar) e Tefnut (deusa da chuva). Shu e Tefnut tiveram dois filhos, Geb, deus da terra, e Nut, a deusa do céu. Shu ergueu o corpo de Nut, colocando-o acima de Geb, e esta tornou-se a governanta do céu. Nut e Geb tiveram quatro filhos: Osíris, Isís, Seth e Néftis. Osíris tornou-se deus da terra; Isís foi a sua mulher, rainha e irmã. Seth, o deus seco do deserto, invejava o estatuto de Osíris e um dia o matou. Osíris foi para o mundo subterrâneo e Seth tornou-se o rei da terra. Osíris teve um filho com Ísis, Hórus, que vingou a morte do pai, derrotando Seth, tornando-se o novo rei da terra. Néftis era apaixonada secretamente por Osíris, e um dia se disfarçou de Ísis, deitou-se com Osíris, dando à luz a Anúbis, o deus com corpo de homem e cabeça de cão, que presidiu o mundo dos mortos. Tot, também de Heliópolis, foi a divindade lunar associada à escrita, e identificado pelos antigos gregos com o seu deus Hermes.
Ogdoáde de Hermópolis
Na cidade de Hermópolis dominava um panteão de oito deuses, quatro casais. Eram filhos de Atum ou de Shu: Nun e Naunet, o caos, o oceano primordial; Heh e Hehet, o infinito; Kek e Kauket, as trevas; e Amon e Amaunet, o oculto. Esses oito deuses atuavam coletivamente, ao contrário dos deuses dos outros lugares, que eram autônomos. As divindades masculinas desse panteão eram representadas como homens com cabeça de rã, enquanto que as femininas eram representadas como mulheres com cabeça de serpente (a serpente do Gênesis do Pentateuco judaico?). Considerava-se que esses quatro deuses foram os primeiros seres que existiram. A divindade solar Rá, que daria forma ao mundo, nasceu de um ovo depositado pelos deuses. Outra variante do mito afirmava que das águas do oceano primordial emergiu uma ilha, onde mais tarde seria construída Hermópolis. Nessa ilha existia um poço, no qual flutuava uma flor de lótus. As divindades masculinas ejacularam sobre a flor e fecundaram-na. A flor de lótus fechou-se durante a noite e, ao se abrir pela manhã, dela saiu o deus Rá na forma de um menino que criou o mundo.
Cosmogonia de Mênfis
A cidade de Mênfis era dominada por uma tríade composta pelos deuses Ptah, sua esposa Sacmis e o filho, Nefertum. Conforme as inscrições na Pedra de Xabaca, o texto original tinha sido conservado num papiro guardado nos arquivos de um templo de Ptah, já que se encontrava num avançado grau de deterioração quando o faraó Xabaca (século VII a.C.) ordenou que fosse inscrito numa pedra de granito. Ptah era o deus criador e criou o mundo usando o coração e a língua, além do Ka, a alma de cada ser. Para os egípcios, o coração era o centro da inteligência, sendo a língua o centro criador. Ptah era simultaneamente Nun e Naunet (feminino de Nun), e gerou Atum. Não rejeitavam a Enéade de Heliópolis, simplesmente consideravam Ptah como criador dessa Enéade. Atum era um agente da vontade Ptah. Sacmis era uma deusa feroz, que segundo o mito, tinha atacado a humanidade que havia desrespeitado Rá. Era representada como uma mulher com cabeça de leoa. Nefertum era o deus da felicidade, representado como um jovem com uma flor de lótus na cabeça. Mais tarde, Nefertum seria substituído por Imhotep (o arquiteto do rei Djoser da III Dinastia).
Doutrina de Tebas
Tebas foi a capital egípcia no Império Novo. O principal deus de Tebas era Amom, representado como um homem com uma túnica preta e duas plumas na cabeça. Amom passou a ser visto como o demiurgo, retirando o crédito que era do deus Rá. Na cidade de Tebas, a esposa de Amom não era Amaunet, como referia a cosmogonia hermopolitana, mas Mut. Esse casal tinha um filho, Quespisiquis, uma divindade lunar.
Princípios de Elefantina
Elefantina, uma pequena ilha no Rio Nilo, dominava uma tríade encabeçada por Quenúbis, divindade com uma cabeça de carneiro, representando a criatividade e o vigor. Para os egípcios, Quenúbis criava os seres humanos no seu torno. As esposas de Quenúbis eram Sátis e Anúquis. Sátis era responsável pela inundação do Nilo, que gerava a fertilidade do solo.
O Livro dos Mortos egípcio
O povo egípcio entendia que o Livro dos Mortos eram capítulos que ajudavam o morto a sair para a luz do dia, ou voltar à vida. Eram papiros que foram encontrados por arqueólogos e egiptólogos, junto com as múmias egípcias.
Uma das evidências do livro foi encontrada no sítio arqueológico de Sakkara, que funcionou como necrópole da antiga cidade de Mênfis, uma das várias capitais que o Antigo Egito conheceu ao longo da sua história. A Pirâmide de Pepi I, da VI Dinastia (2268 a.C.) é o complexo de pirâmides construído para o faraó com o mesmo nome.
Outra evidência aparece na Pirâmide de Unas (2350 a.C.). Não se trata de um corpo textual unitário, mas de um conjunto de diversos textos escritos em papiros e gravados nas paredes das câmaras funerárias. Acredita-se que os textos foram escritos visando assegurar a ressurreição e a divinização do faraó morto.
Os textos dos sarcófagos (textos dos ataúdes – 2100 a.C.) foi uma nova maneira dos egípcios encararem a morte. Os sepultamentos tornaram-se menos elaborados e a tumba raramente era decorada. Foi dada, então, uma maior atenção para o ataúde, o último receptáculo do corpo. Usava-se com frequência caixões de madeira, geralmente decorados nas partes internas com textos e ilustrações, que tinham o objetivo de assegurar o bem-estar do morto por meios mágicos. Esquifes dessa espécie eram muito comuns durante a XI dinastia (2040-1991 a.C.).
A sustentação para a existência do Livro dos Mortos são os pedaços de faixas feitas de tecidos, expostas no Museu Egípcio de Munique, no Ataúde, que era escrito na face do rosto, para que o morto pudesse enxergar facilmente.
Há o entendimento de que o Livro dos Mortos egípcio foi um guia para que o morto chegasse ao mundo dos deuses.
O Paraíso de Osíris
O ritual de abertura simbólica da boca da múmia era feito no dia do enterro. Purificavam o ambiente com incensos e espargiam água sobre a múmia, para purificá-la (forma de ilibação). Assim, voltariam as funções vitais e a múmia estaria preparada para voltar à vida no outro mundo.
Os egípcios tinham a compreensão de que seus corpos eram compostos pelo corpo material, pela sombra que acompanhava o indivíduo, pelo coração, órgão da consciência e da inteligência, onde todas as boas e más ações ficavam registradas, e por um nome, que era a identificação do indivíduo.
Ba era a ideia de personalidade, ligava o mundo dos vivos ao mundo dos mortos, e era retratado na forma de um pássaro com a cabeça humana.
Ka era a energia vital, uma espécie de alma. Na morte essas partes se separavam e a mumificação buscava preservar o corpo, uma das partes do ser.
O Tribunal do deus de Osíris
Encantamento 125 do Livro dos Mortos
Esse ritual ocorria na sala das duas verdades. Nesse local, o morto era conduzido por um deus, Anúbis, que significa “aquele que abre caminhos”. Ele ingressava na sala levando o coração do morto (para os egípcios, a consciência do indivíduo). O coração era então colocado numa balança com dois pratos. Em um prato era colocado o coração do morto e no outro havia uma pena, que simbolizava a ordem, a medida, a justiça para a organização do mundo. Perante os deuses, o ser fazia a sua confissão negativa. Afirmaria diante dos juízes presentes, em número de 42, que ele não havia cometido nenhuma das quarenta e duas ações contra a ordem divina. O coração era pesado 42 vezes e a partir daí o indivíduo era julgado. Se a pessoa tivesse sido virtuosa, ela seria levada à presença dos deuses, por Tot, escriba divino. Então era apresentado ao deus Osíris, que o julgaria. Se o coração tivesse pesado mais que a pena, o morto seria levado para a deusa Amnut, que ficava próxima da balança. Amnut tinha a cabeça de crocodilo, a parte anterior do corpo de um leão e a parte posterior de um hipopótamo, os três animais mais temidos pelos egípcios. Essa criatura híbrida, então, devorava o coração do morto, que deixaria de existir. A destruição da consciência, representada pelo coração, impedia o homem de reviver. Nunca houve a representação de um coração mais pesado que a pena.
O Livro dos Mortos era um ritual mágico. Era a garantia de que o morto ascenderia para o mundo dos deuses. Na tradição, também havia amuletos (peças dotadas de poderes) que eram depositadas sobre os mortos, onde eram inscritas palavras, na base da pedra, que garantiriam que o morto não mentiria para os deuses.
Há referências sobre como era o imaginário egípcio no pós-morte: o retorno à vida, a ressurreição. O novo mundo era agrário e rico, e os renascidos viveriam na mesma casa onde moraram na terra (a repetição da vida). Esses textos eram utilizados pelos reis, oficiais e sacerdotes, não sendo acessíveis à população em geral.
O Livro dos Mortos não é um livro único, tem cerca de duzentos encantamentos, que eram escolhidos, e em média compunham de trinta a quarenta encantamentos.
Um outro livro, o de Abaúde, relata o que acontecia nas primeiras doze horas noturnas. A concepção dos egípcios era de que o inferno se dividia em doze regiões e o deus Sol, no decorrer das doze horas noturnas, levava uma hora para atravessar cada uma delas em sua barca. Trata da geografia do outro mundo e das dificuldades que o deus Sol tinha durante as noites.
Outros livros criados (Livro dos Portões, Livro dos Céus, Livro das Cavernas, entre outros) ajudavam os faraós na viagem para o mundo dos mortos.
O Canto de Intef não se opunha à ideia de uma vida eterna, a ser conquistada durante a vida terrena através do cumprimento irrepreensível de todas as obrigações religiosas e sociais que um egípcio deveria observar. O poeta egípcio era bastante explícito: mesmo uma tumba repleta de provisões não garantiria uma vida eterna. Aliás, completava ele, ninguém voltou do Duat, o reino subterrâneo de Osíris, para contar alguma coisa sobre ele. Muitos séculos mais tarde, Horácio, entre os romanos, resumiria na expressão Carpe Diem: colhe o teu dia, aproveita o momento, evita perder tempo com coisas inúteis.
Cosmogonia
Os egípcios antigos acreditavam que sua história começava com o reinado de Osíris, e que antes dele existiam três grandes reinos divinos: o Reino do Ar, governado por Shu; o Reino do Espírito, cujo senhor era Ra; e o Reino da terra, nas mãos de Geb.
Ra era o espírito absoluto, luz e consciência do Universo. Ele viveu à sua própria imagem e se manifestou em Shu (espaço-ar), Telmut (movimento-fogo), na terra, Geb, e nos ciclos, Nut, ocorrendo assim o fim do Caos, uma imensa esfera sem luz, e dando o equilíbrio à vida no Universo.
Então tiveram início as forças criadoras da vida na Terra: a força fecundadora de Osíris, a árvore da vida, que supre com água e alimento; a força do amor das criaturas e da procriação, Ísis; e a força destruidora de Seth e Neftis, a deusa da magia.
Em um poço (Caos) flutuava uma flor de lótus. As divindades masculinas ejacularam sobre a flor e a fecundaram. A seguir, a flor de lótus se fechou durante a noite e, ao se abrir pela manhã, dela saiu o deus Sol-Ra (Thot e Ptah), originando a vida.
Dos olhos de Ra desceu toda a luz do Universo e caíram lágrimas que produziram as criaturas humanas. Da boca de Ra nasceram todas as criaturas divinas.
Osíris, o deus, rei e homem, era um monarca de ilimitada bondade e sabedoria, que reuniu três tribos nômades e lhes ensinou a se beneficiarem das inundações do Nilo; entregou os instrumentos para a extração e elaboração dos metais; e, com That, ensinou as escrituras e as artes. Cumprindo a sua missão, deixou o trono para a sua amada esposa, Isis, e marchou até as terras do Oriente para instruir a outros povos. No seu regresso, seu irmão Seth lhe prepara uma cilada e o mata, apoderando-se do trono, e espalhando pedaços de Osíris por todo o Egito. Isis reúne os pedaços de seu esposo e, com a ajuda de Anúbis, recompõe o corpo dele. Graças às lágrimas de Isis, Osíris ressuscita e sobe aos céus e de lá traz um filho, Hórus. Adulto, Hórus enfrenta seu tio Seth, derrota-o e retoma a obra de seu pai.
Principais deuses egípcios
Amon
De modo geral, os deuses egípcios possuem representações definidas, com corpos, aparência e poderes determinados, o que não se aplica a Amon, cujo nome significa “O Oculto” ou “O Invisível”. Por não possuir uma forma palpável ele foi muito associado ao ar e ao vento, ou representado como um carneiro, um homem ou a mistura dos dois, sendo ele um símbolo da própria natureza misteriosa da vida. Devido a esse caráter maleável, Amon foi associado a outros deuses egípcios, unindo-se a eles e incorporando seus atributos, fenômeno que era muito comum nas histórias mitológicas. E foi assim que surgiu Amon-Rá, por exemplo (aquele que ilumina e emerge diariamente).
Amon era um deus adorado localmente e, progressivamente, ganhou importância, sendo associado a Rá, o deus Sol, tornando-se Amon-Rá, o “Rei dos Deuses”. Amon-Rá veio a se tornar a mais poderosa e popular divindade de todo o Egito Antigo.
Maat
Maat era uma figura divina considerada a deusa da verdade, justiça, moralidade, ordem e harmonia. De acordo com a mitologia, ela era, simultaneamente, mãe, filha e esposa do deus Rá. A retratação da sua imagem era tipicamente de uma mulher com uma pena de avestruz na cabeça. Os mitos egípcios contam que ela era a responsável pela cerimônia da “Pesagem do Coração”, que está descrita no Livro dos Mortos, como um rito ou julgamento para as pessoas mortas, a fim de decidir se elas iriam ou não para “a outra vida”. Nesse julgamento, as pessoas deveriam contar todas as ações que realizaram em vida, tudo devia ser confessado à Maat.
Mut
Mut era vista como uma deusa poderosa, venerada como mãe divina. Ela desempenhava um papel protetor, seja nesta vida, seja no além, livrando as almas da opressão dos demônios. Sua representação física mais usual era de uma mulher com duas coroas na cabeça, que representavam o Alto e o Baixo Egito, mas ela também era retratada com a cabeça ou corpo de um abutre ou de uma vaca. Posteriormente ela passou a ser associada com Hator, outra figura materna da religião egípcia, representada como uma mulher com rosto e chifres de vaca. Com o tempo, a imagem das duas deusas fundiu-se.
Osíris
Osíris é considerado o primeiro faraó egípcio e o mais importante descendente do deus Rá. Esse deus egípcio estava relacionado à vida no além, dado que ele era o responsável pelo julgamento dos mortos.
O julgamento dos mortos acontecia no Tribunal de Osíris, que junto com a deusa Maat pesava o coração e julgava as ações das pessoas. A esse processo davam o nome de “psicostasia”, que ocorria na “sala das duas verdades”, fazendo de Osíris o deus responsável pelo destino das pessoas. Por sua relação com o ciclo da morte e renascimento da vida, ele também costumava ser cultuado como o deus da agricultura. Depois do período de colheita, os campos ficavam vazios até que fossem novamente cultivados. Desse modo, Osíris simbolizava o renascimento, a ressurreição, a justiça e a fertilidade. Osíris era filho de Geb (deus da terra) e de Nut (deusa do céu e matriarca dos deuses), que tiveram outros filhos: Seth, deus da guerra, da violência e do caos; Néftis, deusa da morte; e Ísis, deusa do amor, da natureza e da magia. Os irmãos formaram dois casais: Seth casou-se com sua irmã Néftis e Osíris com sua irmã Ísis.
Como primeiro faraó do Egito, Osíris era responsável por governar o império antigo, enquanto seu irmão Seth ficou responsável pelo deserto, causando muita inveja em Seth, que fez um plano para matá-lo e conseguiu. Mas sua irmã, Ísis, insistiu em procurar seu marido para enterrá-lo com dignidade. Receoso, Seth recuperou o sarcófago que havia atirado ao Nilo e dividiu o corpo do irmão em catorze pedaços, distribuindo suas partes por todo Egito. Néftis ajudou a irmã a encontrar Osíris e, depois que o encontraram, Ísis ressuscitou seu esposo. Depois de ressuscitado, ele e Ísis tiveram um filho, Hórus, que vingou a morte do seu pai, assassinando seu tio Seth. Então, o poder de governar o Egito foi passado para Hórus, ao passo que Osíris ficou responsável pelo submundo e pelo julgamento de todos os mortais.
Seth
Seth é um dos irmãos de Osíris. As representações desse deus o descreviam como um homem de cabeça de cão e cauda bifurcada, aparecendo, às vezes, como um porco, crocodilo, escorpião ou hipopótamo. No entanto, a representação com a cabeça de um tamanduá é a mais recorrente. Seth era a divindade responsável por governar o deserto e as tempestades, posteriormente sendo associado ao caos e à escuridão. Essas associações fizeram com que a popularidade do culto a Osíris crescesse bastante, sendo Seth demonizado e suas imagens retiradas dos templos. Contudo, em algumas regiões do Egito Antigo, Seth continuou a ser adorado como uma das principais divindades.
Ísis
A mais popular dentre os deuses egípcios, Ísis era uma divindade muito cultuada. É tida como a deusa da fertilidade, do amor e da magia. Ela ficou conhecida como uma deusa extremamente altruísta, generosa, além de piedosa e protetora, sempre disposta a atender às necessidades dos outros. Ela é comumente representada com corpo humano e asas de águia. De acordo com a mitologia egípcia, Ísis era mãe de Hórus e esposa-irmã de Osíris. Depois de trazer seu marido de volta à vida, Ísis foi responsável por introduzir na noção religiosa o conceito de ressurreição, que influenciou muitas religiões, incluindo o cristianismo.
Hórus
Outra figura muito importante no panteão dos deuses egípcios foi Hórus. Enquanto deus solar, sua imagem foi constantemente associada ao firmamento, representando a luz, o poder e usado como símbolo da realeza. Antes mesmo do período dinástico, Hórus era amplamente cultuado. A partir de 2200 a.C., ele passou a ser símbolo do Egito unificado, depois de vencer Seth numa batalha, e o faraó passou a ser tratado como sua encarnação. A representação física dessa divindade é uma cabeça de falcão com o corpo de homem.
Anúbis
A representação do deus Anúbis como chacal vem da associação dos cães e chacais usados para proteger as covas, que eram rasas, da ação dos saqueadores, no período da primeira dinastia egípcia. O culto a Anúbis, representado com a cabeça de chacal e corpo de homem, teria começado entre os anos 3100 e 2686 a.C., na época da primeira dinastia do Egito. Na mão direita ele segura um cetro e na esquerda a chave que representa a vida e a morte. Algumas versões dos mitos contam que da suposta união entre Osíris e Néftis nasceu Anúbis, ficando ele responsável por governar o submundo e organização dos ritos funerários.
Depois que Osíris foi ressuscitado, ele tomou o governo do submundo e o julgamento dos mortos. Nos rituais, ele possuía sacerdotes que o auxiliavam no processo de embalsamamento dos corpos, ajudantes estes que usavam máscaras de chacais. Quando a mumificação estava completa, o coração do morto era entregue a Anúbis e passado para o Tribunal de Osíris. O processo de julgamento, chamado de “pena da verdade”, dizia que, caso o coração pesasse mais que a pena, ou seja, um coração cheio de maldade, o órgão era levado para ser devorado por Ammit. Caso o coração fosse mais leve que a pena, indicando que era uma pessoa repleta de bondade, a alma era guiada por Anúbis até o mundo do além, governado por seu pai, Osíris.
Rá
Conhecido na mitologia como o responsável pela criação do mundo, Rá foi o primeiro no panteão dos deuses egípcios. Suas representações são sempre relacionadas com o sol do meio dia, sendo o obelisco sua insígnia, considerado um raio de sol petrificado. Apesar das diversas formas que ele tomou na cultura egípcia, a mais comum foi a com face de ave de rapina. Em virtude de suas habilidades de transmutação, ele conseguia transformar-se em outros animais, como um falcão, leão, gato, ou no pássaro Benu.
Sekhmet
Sekhmet, conhecida como a “poderosa” filha de Rá, foi retratada como uma figura com cabeça de leoa ou leão e corpo de mulher. Essa representação frequentemente incluía o disco solar, que era símbolo da realeza e da autoridade divina dos faraós. Ela costuma ser associada com o aspecto destrutivo do Sol, que ajudou a destruir os inimigos de Rá, e auxiliava os faraós contra seus oponentes. Por isso ela era reconhecida como a deusa da destruição, da guerra e protetora do Sol. Também estava associada à medicina e à saúde.
Thoth
Thoth era considerado o deus da sabedoria, cura, escrita e magia, sendo associado a todos os tipos de conhecimentos e frequentemente retratado com corpo humano e cabeça de babuíno. Não existe consenso sobre sua origem, alguns textos dizem que ele era filho de Rá, enquanto outros o consideram filho de Seth. Patrono da Lua, Thoth era tido como o deus mais instruído da história antiga e desempenhava o papel de escriba do submundo, mestre das leis físicas e divinas, que mantinha a biblioteca dos deuses. Ele foi o responsável por escrever os feitiços contidos no “Livro dos Mortos” e “Livro de Thoth”, que contavam os segredos do Universo.