Espiritualidade
Espiritualidade não é o mesmo que religiosidade. Espiritualidade, para mim, significa a experiência de algo muito maior do que aquilo que se pode apreender e conceber. Segundo Leonardo Boff (brasileiro, teólogo, filósofo e professor), “espiritualidade é o modo de ser pessoa como um todo e não apenas nos momentos de silêncio, de paz, de meditação, de contemplação do ser humano. (…) O espírito é aquele momento da consciência mediante o qual captamos o significado e o valor das coisas. Mais ainda, aquele estado de consciência pelo qual apreendemos o todo e a nós mesmos como parte e parcela do todo”.
A evolução é, portanto, a jornada do espírito em direção à maior consciência ou autoconhecimento.
Ken Wilber (psicanalista americano, fundador da psicologia transpessoal) afirma que 70% da população mundial encontra-se nos níveis mais baixos de desenvolvimento espiritual, isto é, no plano mítico, ou abaixo dele. Segundo ele, tais níveis permitem, por exemplo, ver a imagem de um Jesus mágico, capaz de andar sobre águas, ressuscitar os mortos, transformar água em vinho, multiplicar pães e peixes e assim por diante.
Espiritualidade é uma experiência de graça e acontece onde as pessoas suportam todas as probabilidades e no vazio. “A questão que eu sou para mim” (Karl Rahner, sacerdote católico alemão, 1904-1984) torna-se aberta à dimensão incompreensível de Deus.
Até para começar a entender o problema da fé é preciso diferenciar entre fé racional e fé irracional. Por fé irracional entende-se a crença (em uma pessoa ou em uma ideia) baseada na submissão do indivíduo a uma autoridade irracional. Em contraste, a fé racional é uma convicção arraigada na própria experiência de pensamento ou sentimento. A desventura é que a fé não é algo para todos, como disse o apóstolo Paulo. Alguns acreditam que podem sobreviver sem fé, mas isso também não é uma espécie de crença? Alguns precisam de um estímulo de cima, seja ele uma doença, um acidente, uma perda, que então os leva a refletir.
A espiritualidade é científica, objetiva e universal. A religião é apegada às escrituras, subjetiva e paroquial. Espiritualidade engloba uma ampla gama de significados entre o bem-estar holístico e o misticismo. Um O homem espiritual mantém um diálogo permanente com o Universo e com Deus.
É comum hoje em dia as pessoas dizerem que são “espirituais, mas não religiosas”. A ideia geral é que religioso diz respeito a formas institucionais de religião – seus dogmas, mitos, crenças obrigatórias, seus antigos e desgastados rituais; enquanto espiritual significa valores pessoais, realidades internas, expressão do interesse último e experiência direta de um fundamento do Ser (Deus).
As pessoas estão procurando por algo que elimine o seu vazio, que as faça despertar de uma vida destruída e enfadonha e as preencha novamente com esperança e vigor. A humanidade está em busca de uma nova sabedoria que lhe dê um direcionamento verdadeiro e um objetivo, tanto para o indivíduo como para a sociedade.
O espírito finito e imperfeito do homem não pode ter produzido por si mesmo a ideia de um ser infinito e perfeito, ainda que, não obstante, ele encontre tal ideia em si mesmo.
O que o espírito humano aspira não o deixa em paz. Nessa tentativa, o conhecimento se transforma em fé: esforça-se para ser a fé da razão e não, a fé revelada, embora as vozes das grandes religiões também façam parte do testemunho ao qual se possa escutar. Ao se fazer isso sem a capacidade de prova, aqui recusada, parte-se, ainda uma vez mais, em direção a uma aproximação da resposta à questão de todas as questões, sem poder se apropriar do que quer que seja de validade obscura nas sempre fracassadas tentativas de uma teologia baseada na razão e na experiência, explicando os deuses racionalmente, como parte do mundo físico.
Então, como ocorre o desenvolvimento espiritual? Como e em qual extensão as complexidades individuais e a predisposição fazem com que um indivíduo reaja à influência de agentes exteriores? As vidas de todas as pessoas estão relacionadas com esse desenvolvimento? Quais são as diferentes dimensões do desenvolvimento espiritual, por exemplo, envolvendo a capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento, as emoções, o corpo, o sentido do eu, moralidade, relações sociais e interpessoais etc.? Como essas diferentes dimensões se relacionam umas com as outras? Até que ponto o despertar espiritual é um redespertar de potenciais psíquicos já existentes?
Platão e Aristóteles sustentaram, e antes deles Pitágoras, que o espírito, uma vez sendo capaz de contemplar ou pelo menos tocar o imutável, o eterno, o divino, já deve estar desde o início aparentado a ele de algum modo e tanto mais passa fazer parte do que é conhecido no ser quanto mais ele o conhece. Assim a parte mais elevada do espírito, a razão, eleva-se além de toda a natureza, que está imersa no vir a ser e no transitório; ela é eterna e divina.
A espiritualidade, o autodesenvolver-se, é um tema permanente na atualidade. É necessário tornar-se um ser humano maduro, coerente em si, que não está mais dividido entre as suas diferentes necessidades e possibilidades, que não se desfaz mais em diversos papéis.