A bestialidade humana que causou sofrimento em nome de Deus

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Em 23 de agosto de 1572, católicos franceses, que enfatizavam a importância de boas ações, atacaram comunidades de protestantes franceses. Nesse ataque, o Dia do Massacre de São Bartolomeu, entre 5 mil e 10 mil protestantes foram assassinados em menos de 24 horas. Quando o papa Gregório XIII, em Roma, ficou sabendo do ocorrido na França, foi tomado de tanta alegria que organizou preces festivas para celebrar a ocasião e encarregou Giorgio Vasari (pintor e arquiteto) de decorar um dos aposentos do Vaticano com um afresco retratando o massacre (o aposento atualmente está inacessível aos visitantes).

A divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe, em 1947, tem levado à morte milhares de pessoas durante anos naquela região.

Entre 1968 e 1998, na Irlanda do Norte, um conflito dividiu a sociedade entre unionistas protestantes e republicanos católicos. Embora o conflito tenha tido sua origem no século XII, com os recém-chegados protestantes que ocuparam terras na então Irlanda católica, eles se estenderam até pouco tempo.

No Sudão, há mais de 46 anos, muçulmanos e não-muçulmanos misturam motivações étnicas e religiosas, já tendo deixado mais de 1 milhão de sudaneses refugiados.

No Estado de Gujarat (oeste da Índia) aconteceu uma onda de violência entre hindus e muçulmanos. Ao menos 295 pessoas foram mortas (muçulmanas, em sua maioria) numa vingança hindu desencadeada pela morte de 58 ativistas que voltavam de cerimônias religiosas realizadas na cidade de Ayodhya. Em dezembro de 1992, uma multidão hindu do Shiv Sena, um grupo nacionalista hindu (o Exército de Shiva), fundado em Mumbai em 1996, cujo objetivo era libertar o hindu das influências estrangeiras (destacadamente muçulmanos e cristãos), saqueou e incendiou propriedades pertencentes a muçulmanos e destruiu uma mesquita do século XVI (a mesquita Babri Masjid), o que provocou a morte de mais de 3 mil pessoas. Um dos motivos por detrás da demolição do templo era a crença de que Ramã, uma encarnação de Vishnu, teria nascido no local onde fora construída a mesquita. Os hindus queriam construir um templo naquele local, liderados pelo Concílio Mundial Hindu. Novamente, a crueldade atingiu Gujarat, quando uma multidão em Ahmadabad, a principal cidade do Estado, prendeu oito pessoas de uma mesma família dentro de um carro e as queimou vivas. Hindus lançaram bombas de gasolina no local, matando 52 pessoas quando elas dormiam, e ferindo mais 17. Numa aldeia chamada Pandarvada, perto de Ghodra, mais de 58 pessoas morreram queimadas vivas, quando muçulmanos atearam fogo ao trem que levava ativistas hindus que voltavam de Ayodhya. Em Ahmadabad, hindus bloquearam estradas com pneus em chamas e incendiaram lojas e casas de muçulmanos, além de esfaquear ou queimar qualquer muçulmano que encontrassem pelo caminho.

Na Nigéria, desde 2002, os muçulmanos que vivem no norte e cristãos que habitam o centro e o sul nigeriano estão em conflito, o que resultou na morte de mais de 10 mil pessoas e milhares de refugiados.

No norte do Estado de Rakhine, em Mianmar (antiga Birmânia), de 2012 a 2017, mais de 690 mil muçulmanos da etnia hohingyas fugiram em direção a Bagladesh. Seus vizinhos, da comunidade budista de Inn Din, executaram dezenas de hohingyas e os jogaram em covas abertas pouco antes do massacre. Fala-se em “limpeza étnica” em um país com 53 milhões de habitantes, majoritariamente de budistas. A liderança do movimento é atribuída ao monge (Ashin) Wirathu, do mosteiro de Masoeyein, na cidade de Mandalay, que abriga outros 2500 monges.

Em 1999 líderes religiosos reforçaram “o respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião”, da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU – Organização Mundial das Nações Unidas, e assinaram o “Apelo Espiritual de Genebra”, documento que pedia que a religião não fosse mais usada para justificar a violência.

Porém, nos Livros Sagrados, do cristianismo, do islã e do hinduísmo, por exemplo, as batalhas são ordens divinas:

“Quando o Senhor, o seu Deus, os fizer entrar na terra, para a qual vocês estão indo para dela tomar posse, ele expulsará de diante de vocês muitas nações: os hititas, os girgaseus, os amorreus, os cananeus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. São sete nações maiores e mais fortes do que vocês; e quando o Senhor seu Deus as tiver entregue a vocês, e vocês as tiverem derrotado, então vocês as destruirão totalmente. Não façam com elas tratado algum, e não tenham piedade delas.” – Velho Testamento, Deuteronômio 7, 1-2.

Continue lutando contra eles até que todo o dano cesse e o caminho prescrito por Alá prevaleça. Mas se eles desistirem saiba que a hostilidade é só contra os malfeitores.” – Corão, Capítulo 2, verso 193.

“Pense em seu dever e não duvide. Não há honra maior para um guerreiro que participar de uma guerra justa.” – Baghavad Gitã, 2, 31.

O homem mata pelo poder, em nome ou não de Deus, não importa!