A brevidade da vida

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As coisas humanas são breves e mesmo a mais longa das vidas é um ínfimo instante em comparação com a infinidade do tempo. A morte não deve ser considerada a passagem para um estado totalmente novo e estranho, mas, antes, apenas o retorno ao estado que é próprio desde a origem e do qual a vida foi somente um breve episódio. Quase sempre, e para muitos, a vida se dispersa em ocupações irrelevantes, correndo de um lado para outro atrás de bens que se tornam desinteressantes tão logo sejam alcançados. Sêneca, ao consolar sua amiga Márcia, escreveu: “Viver muito não é viver por muitos anos …, mas viver bem …”. O fato de que, em breve, os vermes roerão o corpo é um pensamento que não se consegue suportar. O Eclesiastes está incluído entre os livros sapienciais das Escrituras hebraicas. Suas visões da vida não são fruto de nenhum tipo de revelação divina, mas de uma compreensão do mundo e de como ele funciona. Fala da existência efêmera. A sabedoria transmitida pelo Eclesiastes não se baseia no conhecimento acumulado por gerações de sábios; é baseada nas observações do autor enquanto pensa na vida em todos os seus aspectos e na certeza da morte. Em Eclesiastes a vida não faz sentido, e no final todos morrerão. Esse é o fim da história. O autor diz ser Salomão. Os estudiosos, porém, têm uma razoável certeza de que quem quer tenha escrito o livro, não poderia ter sido Salomão. O hebraico do livro foi influenciado por formas posteriores da linguagem aramaica, e contém duas palavras emprestadas ao persa, o que só seria possível depois que os pensadores de Israel foram influenciados pelos pensadores da Pérsia, isto é, depois do exílio babilônico. Eclesiastes é datado por volta do século III a.C., cerca de setecentos anos depois de Salomão.

A palavra chave em Eclesiastes é a vaidade. Toda vida é vaidade. Ela passa rapidamente e se acaba. A palavra hebraica é hevel, que pode ser traduzida como vazio, absurdo, inutilidade. Literalmente se refere a um vapor que se desfaz, a ideia de efêmero.  Não há valor e importância em demasia às coisas deste mundo, que é inútil, vão. Esse autor tentou dar sentido à vida. Buscou uma grande sabedoria, entregou-se ao prazer, envolveu- se em grandes projetos construtivos, acumulou uma enormidade de bens (Eclesiastes 1, 16 e 2, 23), mas depois refletiu sobre o significado de tudo (Eclesiastes 2, 11). Ele detesta a vida (Eclesiastes 2, 17) e seu coração ficou desenganado (Eclesiastes 2, 20). No final ele chega à sua conclusão: “Eis que a felicidade do homem é comer e beber, desfrutando do produto do seu trabalho” (Eclesiastes 2, 24). O professor (o autor) não desistiu de Deus e da vida, ao contrário, ele achava que desfrutar das coisas simples da vida vem da mão de Deus (Eclesiastes 2, 24).

Não há recompensas ou punições depois da morte; a vida é só o que há, e, portanto, deve ser acalentada enquanto se a tem. “Os vivos sabem ao menos que morrerão; os mortos, porém, não sabem nada. Não há para eles retribuição, uma vez que sua lembrança é esquecida. Seu amor, seu ódio e ciúme já pereceram, e eles nunca mais participarão de tudo o que se faz debaixo do sol” (Eclesiastes 9, 5-6). A razão pela qual tudo é efêmero é que todos morrem, e esse é o final da história: “Tudo é o mesmo para todos (…) o mesmo destino cabe a todos” (Eclesiastes 9, 2-3).