A inquietude da fé

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Encontrar respostas, aprofundar as incertezas, convencer-me ainda mais da minha e da nossa ignorância, é um meio que vem contribuindo para o meu o autodesenvolvimento.

A fé não pode ser passiva, tem que permitir questionamentos. Será que é o ceticismo que conduz à fé? Essa inquietude me faz ora pensar que sou crente, ora ateu, agnóstico, politeísta, panteísta ou deísta. Não importa! A busca é o que importa.

Porém, eu ainda não estou convicto de que consiga me comportar menos para a satisfação da própria conveniência. Ou consiga me aproximar mais do plano divino e não o substituir por meu próprio plano. É comum a nós, humanos.

Em sua condição mais elevada, todo ser tem a tendência de reivindicar uma autoridade divina para si e sua voz tende a soar como se fosse a própria vontade de Deus.

Escrevo alguns dos inúmeros questionamentos que assombram os meus pensamentos:

De onde viemos e para onde vamos?

Qual o sentido da nossa existência?

Há alguma meta a ser alcançada com a vida?

A existência do ser humano ter ocorrido é puro acaso?

Por que estamos aqui?

De que causas derivo a minha existência e a que condições regressarei?

A quem devo pedir favores e de quem tenho de temer a ira?

Sobre quem tenho influência, ou quem tem influência sobre mim?

Todos os homens querem a felicidade. Mas em que consiste a felicidade?

O que o homem deve saber, como e por quê?

De onde veio o sentimento humano de busca pelo sagrado?

O que acontece após a morte?

Se existe vida após a morte, por que não vida antes da vida?

Após a morte seremos o que fomos antes de nascer?

A intencionalidade da vida se esgota apenas em uma existência?

Qual o sentido e a necessidade de se terminar o processo criativo em uma vida?

É possível imaginar o cristianismo, o islamismo e o hinduísmo em um mundo sem mortes?

O tempo foi inventado pela mente?

O que é a realidade? A maioria das pessoas acha que realidade é o que nossos sentidos projetam para nós.

Há males morais como os genocídios, as guerras, incluindo as religiosas, inquisição, o sofrimento de crianças, doenças, fome etc. O Deus do teísmo, por exemplo, não é apenas o que tem poder de intervir, é também o que criou tudo o que existe. Se estamos mergulhados nessa ordem tão perfeita, como explicar os males que assolam o mundo?

Crença e descrença são criações humanas? São ilusões?

Os humanos criaram estórias que viraram verdades e se incorporaram ao nosso sistema de crenças?

As religiões que se conhece hoje, tanto as do ocidente como as orientais, datam de aproximadamente 3000 a.C., milhares de anos depois da descoberta de evidências da existência dos Homo sapiens, que datam de aproximadamente 30 mil anos. Assim, os humanos dos tempos primórdios tinham alguma crença em divindades? Quais eram essas divindades?

Os humanos primordiais foram para o céu ou para o inferno, quando morreram, conforme acreditam as religiões monoteístas atuais (os textos judaico-cristãos não tinham autoridade há mais de 5 mil anos)?

O inferno passou a existir a partir de quando? Existe, de fato?

Arqueólogos descobriram, na Alemanha, o homem-leão de Stadel, o mais antigo artefato esculpido por humanos que se conhece e que se acredita ter cerca de 30 mil anos. Quais eram os deuses dos humanos primitivos?

Os Homo primordiais, assim como nós, nasceram condenados pelo pecado natural de Adão e Eva, segundo a tradição judaico-cristã?

As religiões foram invenções humanas?

Os outros seres do gênero Homo (os Homo erectus e os neandertais, por exemplo) tiveram alma, ou a alma é uma exclusividade da espécie sapiens, conforme a doutrina cristã?

Da primeira vez, a Bíblia diz que Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e que criou o homem e a mulher no sexto dia (Gênesis 1, 26-27). Da segunda vez, a Bíblia diz que Deus formou o homem do limo da terra e que concluiu Eva de Adão depois do repouso do sétimo dia (Gênesis 2, 7). Ademais, em Eclesiastes (18, 1), Deus criou tudo simultaneamente. Os dois textos de Gênesis representam duas partes diferentes do homem?

Por que dos livros sagrados – o Corão (islamismo), o Bagãvhat-Gitã (hinduísmo), o Sutra de Lótus e o Dammaphada (budismo), o Tao Te King (taoísmo), o Analectos (confucionismo), o Livro dos Espíritos (espiritismo), somente os textos dos judeus admitem o sacrifício de animais para salvar os pecados do homem? É moral? É ético?

Antes da criação existia o nada? Existem outras formas de vida semelhantes à humana no Universo? Que seres nos rodeiam?

O mistério sobre o início da vida se resume a reações químicas e físicas “sem vida” se tornando reações “vivas”. Será que a vida é simplesmente uma consequência do comportamento químico e físico universal ao longo da criação?

A vida evoluiu em nosso planeta independentemente do que estava acontecendo em bilhões de outros mundos?

Como se chega à incrível organização do DNA humano com seus 3 bilhões de bases químicas? É acaso ou obra criacionista?

Por que Deus criou o mundo em tal momento e não naquele?

Deus realmente escolheu criar um mundo, mesmo Ele não podendo assegurar que ninguém jamais escolhesse fazer algo moralmente incorreto? O bem do livre-arbítrio libertista exige a possibilidade do mal moral?

Existe o Deus a quem se deve temer? O Deus irado, do Velho e do Novo Testamento? O Deus vingador? – “Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizerdes o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador para castigar o que pratica o mal.” – Romanos 13, 4.

Supondo-se que o inferno exista, conforme as Igrejas Católica Romana e as fundamentalistas protestantes, e que boa parte dos humanos acabará nele, pode o Deus criador ser caracterizado como um Deus amoroso?

A decisão de Yahwed de afogar todos os homens, mulheres e crianças num grande dilúvio, com exceção de uma só família, decisão descrita na arca de Noé (Gênesis 6, 8); a ação do mesmo Yahwed de matar todos os primogênitos, incluindo os animais, de todas as famílias egípcias (Êxodo); a ordem dada por Yahwed a Saul para matar todos os amalequistas, povo descendente de Amaleque, neto de Abraão (1 Salmos 15, 3), tornam o Deus judaico caracterizado como bom e moralmente perfeito?

O amor do Deus irascível ficou limitado apenas ao clã escolhido por Deus (o povo judeu), conforme o Velho Testamento?

Por que as pessoas acreditam que há um Deus, que é todo-poderoso, sumamente sábio, totalmente bom e que criou o mundo?

Se Deus é Absoluto de tudo que existe na Natureza e no Universo, o mal provém senão da própria Matriz, do Absoluto?

O aumento populacional na Terra faz Deus criar permanentemente almas (espíritos)?

Por que o Deus judaico-cristão reclama submissão e serviço?

David Hume, no seu Tratado sobre a natureza humana, questionou: “Onde estou, ou o que sou? De que causas derivo a minha existência, e a que condição regressarei? Que seres me rodeiam? E sobre quem tenho qualquer influência, ou quem tem influência sobre mim? Fico confundido com todas essas perguntas e começo a ver-me consternado, rodeado das mais profundas trevas e totalmente privado do uso de todos os membros e faculdades.” Nascemos desamparados e descobrimos a nossa solidão.

Essas são perguntas que cientistas, religiosos, filósofos, estudiosos, psicólogos, médicos, enfim, toda a humanidade faz e para as quais não tem respostas. Chamam-se mistérios. Aqui não pretendo refletir sobre eles, se não ao menos comentar sobre as crenças, as religiões, as que sobreviveram neste tempo moderno. Embora eu tenha apenas conhecimentos elementares a respeito da filosofia, antropologia, teologia, e disciplinas afins, comecei a estudar cada uma das principais religiões do mundo atual: quando surgiram, suas histórias, suas crenças, seus rituais, o quanto as culturas as influenciaram e o quanto os humanos desenvolveram crenças religiosas e as tornaram justificadas. Os humanos criaram estórias que viraram verdades e incorporaram os nossos sistemas de crenças?

Ao se ler sobre as religiões abraâmicas e se conhecê-las, por exemplo, verifica-se uma enormidade de estórias, na minha opinião, muito bem escritas e contadas, às vezes incompreensíveis e, eventualmente, contraditórias. Muitos estudiosos afirmam que a Bíblia é uma coleção de numerosos textos diferentes escritos por autores humanos em séculos subsequentes aos eventos que se propõem descrever, e que esses textos só foram reunidos num único livro sagrado muito depois dos tempos bíblicos.