A morte clínica

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A morte celular programada, em que células antigas são substituídas por outras, idênticas, vai se desacelerando, e em algum momento para. Os prováveis responsáveis por isso são os telômeros, estruturas localizadas nos extremos dos cromossomos, onde fica empacotado o DNA não codificante e fileiras repetitivas de proteínas. Essas capas protetoras vão se encurtando ao longo das divisões e, por fim, param de ocorrer. Primeiro as novas células cessam de nascer, depois as antigas morrem. Um distúrbio do processo, por exemplo nas usinas de força celulares, as mitocôndrias, tem consequências para o organismo. O processo de envelhecimento humano em geral sobeja na falência de diversos órgãos: sistema cardiovascular, pulmões e cérebro entram em colapso, ocorrendo o óbito.

Do ponto de vista da medicina, o sistema cardiovascular falha, a respiração para e os órgãos deixam de receber oxigênio. O cérebro, cerebelo e tronco cerebral deixam de funcionar. Quando o coração para, após onze segundos a consciência e a atividade elétrica cerebral cessam, então nenhuma área de função cerebral permanece para manter a consciência. Até os sistemas mais básicos da vida são destruídos; reflexos de respiração, frequência cardíaca e cerebrais ficam completamente ausentes.

Quando há falta de oxigênio no cérebro, este responde liberando certos compostos químicos para se proteger. Os estoques de oxigênio do cérebro são perdidos em questão de vinte segundos, tempo em que a glicose e os altos índices de energia armazenados também se vão. Portanto, em alguns segundos de parada cardíaca, as células cerebrais se viram para outras fontes especiais de energia, chamadas ATP – trifosfato de adenosina -, para se manterem vivas. Entretanto, devido à enorme necessidade de energia, essa armazenagem é usada muito rápida e intensamente, geralmente em cinco minutos, e então as células são deixadas sem nenhuma fonte de energia e começam a morrer.

O choque da falta de oxigênio para o cérebro faz com que as células liberem um transmissor químico chamado glutamina, que normalmente possui a função de estimular outras células. Há, portanto, uma grande liberação desse composto químico por todo o cérebro, que consequentemente se torna extremamente excitado. Isso torna-se danoso às células, produzindo uma excitotoxicidade. O volume excessivo de glutamina faz com que as células inchem, danificando a membrana que envolve a estrutura, acarretando o vazamento dos conteúdos da célula. Ao mesmo tempo, a falta de oxigênio faz com que a membrana se parta em minúsculas partículas de gordura. O corpo possui receptores internos de pressão sanguínea e, tão logo eles reconhecem a ausência de fluxo sanguíneo ou de pressão, procuram aumentar a pressão do sangue e seu fluxo para o cérebro, ao liberarem diversos hormônios na corrente sanguínea, como a epinefrina – níveis mil vezes mais altos do que a quantidade normalmente encontrada. Outros hormônios liberados incluem norepinefrina e vasopressina, todos poderosos no aumento da pressão sanguínea; a prolactina, endorfina, lipotropina, com a função de melhorar os efeitos adversos da falta de pressão sanguínea. Há parada do coração e, portanto, da queda da pressão sanguínea, e as ondas do EEG – eletroencefalograma – mudam para uma fase inicial e, em média após vinte segundos, para as linhas retas, que indicam uma falta de atividade elétrica mensurável no cérebro.