Budismo

Banner Background

O budismo é um sistema ético, religioso e filosófico fundado pelo príncipe Sidarta Gautama (563-483 a.C.), ou Buda. Sidarta nasceu na cidade de Lumbini, em um clã de nobres e viveu nas montanhas do Himalaia, entre a Índia e o Nepal. Seu pai era um regente e sua mãe morreu quando Gautama tinha poucos dias de vida. Apesar de viver confinado dentro de um palácio, Sidarta se casou aos dezesseis anos com a princesa Yasodharma e teve um filho, ao qual chamou de Rahula.

Aos vinte e nove anos, saiu de casa e, chocado com a doença, com a velhice e a com morte, partiu em busca de uma resposta para o sofrimento humano. Juntou-se a um grupo de ascetas e passou seis anos jejuando e meditando. Após esse período, sem encontrar as respostas que procurava, separou-se do grupo de hinduístas. Depois de 49 dias sentado debaixo de uma figueira, disse ter conseguido a iluminação, a revelação das Quatro Verdades. Ao relatar sua experiência, seus cinco amigos o chamaram de Buda e assim passou a pregar sua doutrina pela Índia. Todos aqueles que estavam desiludidos com a crença hindu, principalmente os da casta baixa indiana, deram ouvido a esses novos ensinamentos. Como todos os outros fundadores religiosos, Buda foi deificado pelos seus discípulos após sua morte, com 80 anos.

A palavra budismo é derivada de bodhi, que no sânscrito significa “despertar”. A doutrina busca a realização plena da natureza humana. O seu principal objetivo é revitalizar a vida e atingir a felicidade plena (um estado mental de consciência que leve à paz e à felicidade duradoura). Um dos estados que indicam esse estado de felicidade é a ausência do medo.

Os quatro grupos básicos dos ensinamentos do Buda se baseiam no Vinaya (normas para a vida monástica), Suttas (conselhos para a vida diária), Abhidharma (metafísica e teologia budista) e Vajrayana ou Mantrayana. Foram 84.000 ensinamentos, ou, caminhos distintos, que conduzem a um só objetivo. O Buda histórico não foi ou é um ser divino. Ele usou, conforme a doutrina, a sabedoria e o estado de iluminação para difundir ensinamentos e mostrar caminhos para superar o sofrimento.

Assim, o budismo não acredita em uma divindade criadora ou permanente e não faz distinção entre divindade e o ser humano. Seus ensinamentos possibilitam que as pessoas atinjam a iluminação e se tornem Budas, desde que tenham fé, estudem os ensinamentos, meditem, façam as orações e coloquem em prática o resultado dessas ações.

Os primeiros ensinamentos de Gautama foram “As Quatro Nobres Verdades” e formam a essência da filosofia budista. São formulados: o sofrimento, a origem do sofrimento, a cessação do sofrimento e o caminho que conduz à cessação do sofrimento. O budismo dá uma grande ênfase ao sofrimento e à ignorância humana e ao apelo à libertação. Alternativamente, as Quatro Nobres Verdades podem ser formuladas como: a verdadeira felicidade existe; o seu oposto, a infelicidade; os impedimentos para a verdadeira felicidade e o caminho para encontrar a verdadeira felicidade.

Após a morte de Gautama, no primeiro concílio que reuniu os seus discípulos, a doutrina se dividiu, em razão do posicionamento de monges mais tolerantes e progressistas, que postularam a flexibilização das regras monásticas. A doutrina foi dividida nas escolas Hinayana ou Theravãda, e a Mahasanghika. Posteriormente essa escola deu origem à escola Mahayana, que migrou da Índia em direção à China, Tibete, Japão, Coreia e outros países asiáticos. No budismo Mahayana existem sub-escolas, como a Terra Pura, a Vajrayana – que às vezes é vista como uma terceira escola (o budismo Tibetano), o lamaísmo Kadampa e o de algumas escolas japonesas, como o budismo Zen e o Nichiren. Além disso, as sub-escolas deram origem a outros ramos.

O registro dos ensinamentos do Buda foi inicialmente oral, sendo transmitido de gerações a outras por dezenas de anos e, depois, escrito nos Suttas. Há duas coleções de Suttas que são reconhecidas por estudiosos e acadêmicos como contendo os ensinamentos originais do budismo: os Nikayas (consiste em 152 discursos e se destaca dos demais livros do Sutta Pitaka), na língua páli, e os Agamas, em chinês. Os demais Suttas, principalmente aqueles que fazem parte da tradição Mahayana, são reconhecidos como tendo sido compostos depois da morte do Buda.

O Vinaya é o conjunto das regras monásticas também estabelecido por Buda, segundo os estudiosos. A sangha, ou a comunidade de monges e monjas, adota com mais ou menos rigor as regras definidas no Vinaya. Os budistas acreditam que o caminho para a libertação está na consciência que pode ser alcançada por práticas, como a meditação, os ensinamentos e as orações, que levam à consciência física e espiritual, à iluminação e elevação, ao estado de nirvana, o plano mais alto de consciência. As escrituras referem-se à iluminação com o termo sânscrito anuttara-samyak-sambodhi, que significa sabedoria perfeita e insuperável. Paramita é interpretado como perfeição ou ter alcançado a margem oposta. No budismo, o mundo da ilusão, em que vivemos, é comparado a um lado da margem do rio, ao passo que o do Buda, o ser iluminado, é comparado à outra margem. Os seis paramita são as práticas que devem ser realizadas para se atingir a iluminação, ou, as práticas de bodhisattva são comparadas ao processo de atravessar da margem da ilusão para a margem da iluminação.

O primeiro dos seis paramita é a doação – significa fazer oferecimentos, tanto materiais como espirituais. O segundo é a observância das regras. O terceiro é a perseverança e implica resistir pacientemente a quaisquer oposições ou dificuldades que surgirem no caminho. O quarto, é a assiduidade – empenhar-se assiduamente. O quinto é a meditação – a contemplação da verdade. E o último é a prática da compreensão da verdade. As margens representam os caminhos; o homem vai de uma margem para a outra, a da iluminação, que é comparada ao estado de Buda.

As funções espirituais ou percepções (as nove consciências), no budismo, são: visão, audição, olfato, paladar e tato. A sexta consciência é a integração das percepções dos cinco sentidos em imagens coerentes e faz julgamentos a respeito do mundo exterior (ex. um objeto belo, mas que exala mau cheiro). A sétima consciência é a expressão da existência e o significado dos fenômenos (apego a personalidade – o “eu” –, a distinção entre o bem e o mal). A oitava consciência, ou consciência alaya, é o repositório. O carma fica depositado nela. O inconsciente armazena as impressões percebidas pela mente e causa novas ações mentais.

Quanto à cosmologia, o budismo incorporou elementos do hinduísmo e de outras religiões menores do entorno de onde nasceu. Defendem que existem vários universos, que cumprem uma lei cíclica e aparecem e desaparecem. No budismo, a ideia de que tudo é intermitente prevalece. Assim, o nosso universo foi criado a partir de partículas de outro universo. Também defendem que não é a primeira vez que existe esse universo.

A doutrina, não se levando em conta cada escola e sub-escolas, individualmente, ensina muitos conceitos. Porém, cada escola, ramificação e sub-ramificação faz as suas interpretações. A escola Nichiren, por exemplo, acredita que todos os seres renascem, inclusive os animais e as plantas. Os renascimentos estão ligados ao carma: toda ação tem uma consequência e ela pode ser positiva, negativa ou neutra. É a lei da causa e do efeito e é ação intencional. Assim, todo carma, ou ação intencional, produz consequências. Esse domínio pode ser obtido de imediato, mais tarde nesta vida, ou em alguma outra vida. Os resultados do carma determinam as nossas experiências de vida e as sensações que marcam essas experiências. O carma também determina em qual mundo e em quais condições ocorrerá o renascimento. O budismo ensina que a felicidade humana se baseia, portanto, na lei da causa e efeito, diferentemente do conceito de casualidade das ciências naturais e sociais.

O ciclo de renascimentos é chamado de samsãra. Renascimento se refere a um processo pelo qual os seres passam por uma sucessão de vidas como uma das muitas formas possíveis de senciência. De acordo com a doutrina há vários planos de existência nos quais ocorre o renascimento. O conceito de paraíso e de inferno não são de propriamente lugares, mas estados de existência em que a mente experimenta prazer ou dor. O budismo Nichiren, que surgiu em 1930, no Japão, ensina que são dez os estados que o homem pode vivenciar: inferno, fome, animalidade, ira, tranquilidade, alegria, erudição, absorção, bodhisattva e iluminação. Os dez mundos indicam os estados que se manifestam em diferentes momentos: 1 – mundo do inferno (estado de sofrimento e desespero extremos); 2 – mundo dos espíritos famintos (estado de ganância e de desejos egoístas); 3 – mundo dos animais (os instintos predominam); 4 – mundo dos asura (falta de compreensão de como as coisas são); 5 – mundo dos seres humanos (permite o uso da razão); 6 – mundo dos seres celestiais (a libertação do sofrimento); 7 – mundo dos ouvintes da voz (estado de contentamento duradouro e de busca do autoconhecimento); 8 – mundo dos que despertaram para a causa (a observação dos fenômenos e a consequente aprendizagem para a autorreforma); 9 – mundo dos bodhisattvas (estado de compaixão – a felicidade do outro); 10 – mundo dos budas (as ações de um bodhisattva). O ser humano, em vida, oscila entre esses estados, sendo os quatro últimos, estados de Buda ou estados iluminados. A vida nesses planos, no entanto, é temporária e depois haverá um novo renascimento que poderá ocorrer inclusive entre os humanos. Então, a principal diferença entre o plano humano e os outros planos é a qualidade da experiência mental. Esse processo de renascimento continuará enquanto as condições que o causarem persistam (samsãra).

Existem vários tipos de meditação no budismo. Para atingir os objetivos de entender a mente e de treiná-la, cita-se a meditação da concentração (que é a que aquieta a agitação natural da mente para se poder observar o que está acontecendo) e a meditação de insight (a que possibilita ao meditador enxergar e entender o que está ocorrendo na sua mente). Os dois tipos também são conhecidos como samadhi e vipassana.

Os cinco Budas Dhyani são Budas celestiais, visualizados durante meditações dos devotos da escola Therevãda. A palavra dhyani é derivada do sânscrito dhyana, significando meditação. Cada Buda Dhyani é associado a certos atributos e símbolos: Vairochana (aquele que é como o Sol), Akshobya (imutável ou inabalável), Ratnasambhava (origem das joias), Amitabha (luz infinita) e Amoghasiddhi (aquele que alcança a sua meta). Cada Buda é assessorado por um ou vários grandes bodhisattvas, que são os que estão próximos da iluminação.

Como já foi dito, o budismo engloba dezenas de diversas interpretações doutrinárias. O Vajrayana emprega práticas de meditação na forma de rituais, com leitura de textos litúrgicos. Possui uma tradição com ênfase no relacionamento entre alunos e lamas e é monástico. Apesar de não se organizar como uma instituição, tem sua representação maior na figura do Dalai Lama. O termo lamaísmo significa mestre ou superior, e que designa, geralmente, os monges tibetanos, em especial os hierarquicamente superiores. Existem linhagens dentro do budismo tibetano, como a Nyingma. O sub-ramo Zen é o nome japonês da tradição Ch’an, que surgiu na China por volta do século VII. Faz parte do ramo Mahayana. A prática básica do Zen japonês é o Zazen, tipo de meditação contemplativa que se propõe a levar o praticante à experiência direta da realidade através da observação da própria mente. Para alguns estudiosos, o Zen segue os métodos utilizando as artes tradicionais do Japão.

O budismo de Nichiren Daishonin fundamenta-se na afirmação de que todas as pessoas têm o potencial para atingir a iluminação. O Gohonzon é o objeto de devoção. Os seus principais conceitos são a dignidade e a igualdade entre os humanos, a unidade da vida e seu meio ambiente, o inter-relacionamento das pessoas que fazem do altruísmo o caminho viável para a felicidade pessoal e o potencial ilimitado de cada pessoa para a criatividade. Todas as coisas do Universo, incluindo a vida humana, se inter-relacionam, permeiam e influenciam-se entre si. A escola prega o ciclo de nascimento e morte que os humanos, que estão no estado de ilusão, sentem. Os Seis Caminhos são experimentados por todos os homens: Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade e Alegria.

Na cosmologia do budismo Theravãda, por exemplo, há mundos habitados por iluminados, e mundos que correspondem ao inferno, mundo animal, famintos, titãs e seres humanos. O nascimento nesses mundos é temporário e não há nenhum mundo em que a existência seja permanente ou eterna. Todos os seres, em todos os mundos, estão sujeitos à morte e ao renascimento no mesmo mundo ou em algum outro. Os seres renascem em cada um desses mundos de acordo com o seu carma. Os iluminados possuem distintas características de refinamento ou pureza e de profunda concentração e absorção mental. Portanto, o que caracteriza os renascidos de um determinado mundo são as qualidades mentais desenvolvidas e presentes.

Já o Honmon Butsuryu-Shu, ou Budismo Primordial HBS no Brasil, por exemplo, é uma sub-ramificação e tem como mestres Nitiren Daibossatsu, Nitiryu Daishounin e Nissen Shounin, este último, o fundador da religião. Prega os ensinamentos dos versos de autoria do mestre Nissen Shounin; são 3.400 versos, dos quais 1.772 estão traduzidos para o português e contidos na Coletânea de Versos do Budismo Primordial. A imagem sagrada que veneram é o Namumyouhourenguekyou, que é a causa, a essência e a semente da iluminação, contidos nos oito primeiros capítulos do Caminho Primordial do Sutra Lótus, transmitida pelo Jyougyou Bossatsu. O objetivo final da prática é se tornar um bodhisattva, um ser salvador, capaz de converter todos os seres e encaminhá-los à iluminação. Para almejar ser capaz de ajudar outras pessoas, os praticantes devem melhorar a própria prática, acumulando virtudes através das atividades religiosas, os gohoukos, por meio de ações como participação nos cultos matinais, cultos de grupo, visitas assistenciais e oferendas ao altar sagrado. A prática da oração sagrada que contém toda a sabedoria e compaixão de Buda traz tranquilidade aos que vivem neste mundo transitório e efêmero, na Era Mappou (era da incerteza, da impaciência, de apegos extremados), através das bênçãos recebidas. A base da prática é a entoação diuturna da oração sagrada, acumulando virtudes e eliminando o carma negativo de vidas passadas. De maneira geral, a ênfase do ensinamento budista está na mente e não no mundo; o mundo é neutro. A fonte do sofrimento, de acordo com o ensinamento do Buda, é a cobiça e a raiva atuando na mente confusa. Essas características não são do mundo, mas do próprio homem.

 

A morte no budismo

Para o budismo, com a morte se reestabelecem a consciência com todas as suas tendências, as preferências, as habilidades e as características desenvolvidas e condicionadas em vidas passadas. Dessa maneira, o ser cresce, nasce e desenvolve uma personalidade condicionada pelas características trazidas pelo carma e pelo novo ambiente, além de outros fatores condicionantes, como a hereditariedade. Essa personalidade está sujeita a mudanças que podem acontecer por meio do esforço consciente e por fatores condicionantes tais como a educação, a influência dos pais e da sociedade, da cultura e outras, externas. A existência, portanto, é um ciclo contínuo de morte e renascimento (há um renascer, como a chama de uma vela que acende o pavio de outra vela), no qual vidas presentes e passadas estão interligadas.

A morte e a vida são ciclos da existência, que pode ser definida como a manifestação de alguma forma assumida pela essência – assume uma forma ou aspecto físico. Importante destacar que o renascimento budista difere da reencarnação hinduísta, que é a ideia da existência de um espírito separado do corpo. Com a morte do corpo, no budismo, esse mesmo espírito reassume outra forma material e segue evoluindo. O renascimento, portanto, não é a transmigração de um espírito, de uma identidade substancial, mas a continuidade de um processo, no qual vidas sucessivas estão conectadas umas às outras por meio de causas e condições. Esse processo, ou fluxo, não ocorre apenas com a morte, mas está presente constantemente na vida. É como se cada existência fosse apenas uma etapa de um ciclo, sendo a morte um período de dormência (de não substancialidade). A energia continua de forma eterna.

Os budistas oferecem as orações para que a pessoa tenha uma amenização do carma. Os ensinamentos não buscam a salvação após a morte; a vida não vai para nenhum outro lugar, tampouco continua a existir como um espírito. A vida universal se expande por todo o Universo.

Os lamaístas reconhecem o Bardo Thodol, um livro que ensina a doutrina dos passos do morrer e orientações para um bom renascimento. O renascido não lembra das personalidades de vidas passadas, porém a experiência continua e se traduz no crescimento espiritual que o renascido precisa alcançar.

 

O budismo e o sofrimento

Quanto ao sofrimento humano, é uma experiência universal que pode ser definida, experimentada e medida e tem uma causa, que é o desejo pelo prazer dos sentidos. O sofrimento termina não com a ajuda de um ser supremo, através da fé ou de orações, mas com a eliminação e consequente remoção da sua causa. Uma importante causa do sofrimento é a ignorância, que gera o desejo (a cobiça), a maldade, a raiva, o orgulho e muitos outros pensamentos ruins, próprios ou dos outros. Algumas causas são naturais, mas a maioria é decorrente de atitudes assumidas pelo próprio ser. De acordo com as doutrinas da escola Hinayana, os sofrimentos são causados pelos desejos e egoísmo inerentes à vida humana. A fim de cessar os sofrimentos deve-se extinguir todos os desejos, que é o ideal do nirvana.

A palavra sofrimento traduzida do sânscrito é dukkha. Há três tipos de sofrimento, segundo o budismo: a dor em nível físico e mental, chamado de sofrimento comum; um outro que adentra o psicológico humano e, por fim, outro que se manifesta nos agregados que compõem o eu. O primeiro aspecto é aquilo que se poderia chamar de sofrimento do nascimento até a morte, o sofrimento de ser vivo. O segundo é derivado da realidade da impermanência das coisas, por se perceber que tudo é um grande estado de mudança. O terceiro aspecto vincula-se ao pensamento, resultante de compreensões erradas derivadas de equívocos cognitivos e de ilusões mais profundas. Portanto, o sofrimento, segundo o budismo, é ativo, mental e físico, causado por se estar preso em um mundo de ilusão constantemente mutável.

Existem, no mundo, cerca de 13 milhões de seguidores do budismo, sobretudo na Ásia. No Japão, é a segunda maior religião do país, depois do xintoísmo.

 

O cosmos e o mito no budismo

O budismo é fundamentado nos ensinamentos de Buda. Consiste em como superar o sofrimento e atingir o nirvana por meio da disciplina mental e de uma conduta correta, ética. Os seguidores creem na lei do carma, segundo a qual as ações de uma pessoa determinam sua condição na vida em curso ou futura. Admitem que a existência implica a dor. O nascimento, o avanço da idade, a morte e os desejos são as razões dos sofrimentos.

A superação da dor só pode ser alcançada através de oito ações, que são: 1 – a compreensão correta: aceitar as Quatro Verdades e os Oito Passos de Buda; 2 – o pensamento correto: a renúncia de todo prazer advindo dos sentidos; 3 – a linguagem correta: não mentir, enganar ou abusar do outro; 4 – o comportamento correto: não destruir nenhuma criatura ou cometer atos viciosos e ilegais; 5 – o modo de vida correto: não trazer prejuízo a nada ou a ninguém; 6 – o esforço correto: evitar comportamentos maus; 7 – o desígnio correto: observar, estar alerta, livre de desejos e da dor; 8 – a meditação correta: entrar nos quatro graus da meditação, que são produzidos pela concentração.

A crença considera que o Universo é composto por vários mundos e que cada um deles possui um ciclo de nascimento, desenvolvimento e declínio, que pode durar milhões de anos. Os Sutras descrevem que os seres renascem durante a sua perambulação pelo samsãra. A existência em cada um dos planos é temporária e, passado o tempo de vida, ocorre o renascimento, conforme o carma. Os mundos em geral são agrupados nos reinos imaterial (sem forma), o da matéria sutil (com forma) e o da esfera sensual.

Como o budismo teve o hinduísmo como gênese, é necessário crer que o universo surgiu da respiração de Brahma (a alma do mundo, o supremo Criador) e que a cada movimento respiratório cria (expiração) e destrói (inspiração), formando o espaço e o tempo, a matéria e as formas com a medida de eternidade. Em síntese, os budistas acreditam que o mundo não foi criado de uma só vez, mas milhões de vezes a cada unidade de tempo e isso continuará a acontecer e terminará por si mesmo.

Todas as religiões possuem mitos e histórias que tentam responder às complexas questões da vida e do Universo. Sob forma imaginativa e simbólica, os mitos servem para expor uma doutrina, uma ideia, um fato ou uma verdade.

Muitas histórias e símbolos facilitavam ensinar as pessoas sobre os fenômenos que não se entendia por que ocorriam. Suas origens eram atribuídas a algo ou a um ser sobrenatural.

A Cerimônia no Ar e o surgimento da Torre de Tesouro, por exemplo, menciona uma quantidade incalculável de seres, humanos e não-humanos, como seres celestiais e com forma de animais, que se reuniram de todas as partes do universo, para ouvir a pregação do Buda.

“Havia doze mil homens de erudição liderados por Shariputra; oitenta mil bodhisattvas; Yashodhara (esposa de Sakyamuni), que foi acompanhada por seis mil seguidores e servidores; Ajatashatru (rei de Magadha), junto com milhares de seguidores e servidores; cada um dos oito tipos de seres não-humanos (seres celestiais, dragões, yakshas, gandharvas, asuras, garudas, kimnaras e mahoragas) levou seus seguidores e servidores, os quais chegavam ao número de dezenas de milhares.”

O cálculo demonstra que centenas de milhares participaram da assembleia no Pico da Águia. Verdadeiramente, aqueles que se reuniram foram os homens de erudição e os bodhisattvas que viviam na própria vida de Shakyamuni. Os milhares mencionados no Sutra de Lótus simbolizam as diferentes funções e atividades da vida.

O budismo não considera nenhum desses seres como entidades onipresentes que governam, mas como funções inerentes à vida humana e ao universo. As pessoas naquela época acreditavam que a proteção, os benefícios e a punição partiam de alguma força superior e externa. Shakyamuni, em suas preleções, atribuía a eles características irreais.

A Torre de Tesouro, por exemplo, recebe dimensões gigantescas e um aspecto majestoso, adornado com todo os tipos de joias. Com essa riqueza de imagens, Shakyamuni quis transmitir a existência do estado de Buda que se encontra dormente em cada pessoa, afirma a doutrina.

No budismo, o conceito de deus difere grandemente de outras religiões. Ele define deus como a função da natureza de Buda, que indica a benevolência ou a suprema qualidade do Buda, que remove os sofrimentos das pessoas e proporciona-lhes felicidade. Os deuses budistas são a manifestação dessa qualidade.

Nos sutras de Shakyamuni são mencionadas várias divindades míticas como Bonten, Taishaku, Nitten, Gatten, Myojoten, Quatro Reis Celestiais e Kishimojin, este último considerado um demônio nos ensinos provisórios ou pré-Sutra de Lótus. Além deles, podem ser encontrados em alguns sutras os nomes de Dosho e Domyo, que segundo a crença, vivem em cada ombro das pessoas desde o seu nascimento.

Bonten, Taishaku, os Quatro Reis Celestiais dos indianos, assim como os antigos deuses japoneses — Tensho Daijin e Hatiman — são todos deuses que protegem o budismo e os budistas. São chamados de shoten zenjin. Shoten significa vários céus. Na Índia antiga, acreditava-se que o céu era dividido em várias camadas e que em cada um habitava um deus. Zenjin significa deuses que trazem felicidade às pessoas.

Nos tempos antigos, as pessoas consideravam as forças dominantes dos elementos naturais como deuses e reverenciavam-nas. Com o desenvolvimento da cultura e da instituição de sistemas sociais, como cidades e estados, o próprio sistema social ou os que detinham o poder de mover as massas passaram a ser considerados como divinos e até mesmo reverenciados como deuses.

No Japão, os deuses foram símbolos das forças da natureza e de grupos de pessoas. Por exemplo, Tensho Daijin, um deus japonês, representa algo que ilumina o céu e foi considerado como símbolo da força e da energia do Sol.

Os deuses budistas são expressões simbólicas das condições externas que alimentam a vida humana. Não são, como muitos imaginam, entes com uma forma definida, um anjo da guarda, por exemplo, que vêm ao socorro das pessoas quando precisam.

Pelo princípio de esho funi (inseparabilidade do ser e seu ambiente), o Sol, a Lua e as estrelas funcionam como funções protetoras, por estarem intimamente relacionados com as atividades vitais e seus movimentos regulares serem indispensáveis para a vida.

Mistificar a ação dos deuses budistas é um erro, pois no budismo nada acontece por acaso. A ocorrência dessa proteção está ligada à lei de causa e efeito.

Assim como os deuses budistas, as maldades não assumem formas definidas. Comumente, a primeira imagem que vem à mente das pessoas, é a de um ser sobrenatural, horrendo e animalesco.

Em vários sutras, as maldades são descritas de modo figurativo. No Sutra de Lótus, elas estão associadas à teoria dos Dez Mundos, ou seja, às condições inferiores da vida humana.

Os seis reinos com os seus devas são os seguintes: o primeiro reino é o dos infernos, que está na parte inferior. Os seres que habitam no inferno (que é temporário, não é um castigo divino, mas consequência do mau carma) libertam-se dele assim que o mau carma que os conduziu ali se esvai. Há infernos quentes e infernos frios.

O segundo reino está acima, do lado direito do reino dos infernos, onde se encontra o mundo dos espíritos ávidos ou fantasmas. Os que ali permanecem sentem constantemente sede ou fome, sem nunca serem saciados. A arte budista representa os habitantes desse reino como tendo um estômago enorme e uma boca pequena.

O terceiro reino está acima, do lado esquerdo do reino dos infernos, o reino animal, perceptível aos seres humanos e onde vivem várias espécies que não enxergam o verdadeiro sentido da vida.

O quarto reino é o dos asura (dos antideuses). Os seus habitantes são frutos de ações positivas realizadas com um sentimento de inveja e competição e vivem em litígio constante com os deuses.

O quinto reino é o dos seres humanos. A vida, enquanto humana, é vista como uma via intermediária, sendo caracterizada pela alternância das alegrias e dos sofrimentos, o que, segundo o budismo, favorece a tomada de consciência sobre a transmigração das almas. Os humanos povoam ilhas que se encontram no grande mar, do qual Jambudvipa é a mais importante: a única ilha onde pode nascer um Buda. Os homens, ali, por causa de sua ignorância, sofrem, mas têm acesso à doutrina de Buda.

O sexto reino e último é o dos deuses (devas inferiores e superiores) e é composto por vários níveis. Nos níveis mais próximos do reino humano vivem seres que, devido à prática de boas ações, levam uma vida harmoniosa. Os níveis situados entre o vigésimo terceiro e o vigésimo sétimo são os Residências Puras, sendo habitados por seres que se encontram perto de atingir a iluminação e que não voltarão a renascer como humanos.

Na cosmologia budista, o monte Sumeru é um marco norteador na vida espiritual do devoto em seu processo encarnatório, pois ele é o centro de referência na busca de perfeição e plenitude.

Deidade é o conjunto de forças e/ ou intenções que se materializam nas/ numa divindade(s). Buda denota não apenas um mestre religioso que viveu em uma época em particular, mas toda uma categoria de seres iluminados que alcançaram a realização espiritual.

Bodhisattva é um ser (sattva) iluminado (bodhi). É qualquer pessoa que, movida por grande compaixão, gerou o desejo espontâneo de atingir a mesma espiritualidade de Buda, querendo a felicidade para todos os seres sencientes. É um dos quatro estados sublimes que um ser humano pode alcançar em vida, sendo os outros três arhat, buddha e pratyekabuddha.

O bodhisattva está sujeito ao nascimento, envelhecimento, enfermidade, morte, tristeza e contaminações. Algumas das vidas anteriores de Buda como um bodhisattva são destaques no Jãtaka – textos relativos aos nascimentos anteriores do Buda. A palavra refere-se a uma divisão do texto do cânon páli do budismo Theravãda, incluída no Khuddaka Nikaya do Sutta Pitaka.

Asura é equivalente a um semideus, com três cabeças com três faces em cada uma delas, e quatro ou seis braços.

Embora todos os deuses estejam sujeitos às paixões, os asuras distinguem-se de todos os outros por terem outras vicissitudes, especialmente a ira, orgulho, inveja e falsidade. O estado de um asura reflete o estado mental de um ser humano obcecado pelo ego, força e violência, constantemente procurando um pretexto para lutar, incapaz de manter a calma e resolver problemas pacificamente. Diz-se que os asuras experimentam uma vida muito mais aprazível do que os humanos, mas são atormentados pela inveja que têm dos devas. Porém, os asuras de alguns mundos inferiores são malévolos (como Mãra) e podem ser vistos como demônios. Em termos de poderes, os asuras estão num nível superior aos humanos, mas abaixo da maior parte das outras divindades. Vivem na área do sopé do monte Sumeru.

Um deva, no budismo, é um dos diferentes tipos de seres não-humanos. Os que conseguiram abrir o terceiro olho (divya-cakshus), um dom extrassensorial que permite enxergar seres de outros planos, podem ver os devas. Suas vozes também podem ser ouvidas por aqueles que treinaram. A maioria dos devas é capaz de construir formas ilusórias pelas quais eles podem se manifestar diante de seres de mundos inferiores. O termo deva não se refere a uma classe natural de seres, mas é definido de modo antropocêntrico, para incluir todos os seres mais poderosos ou mais bem-aventurados que os humanos.

Os devas budistas não são imortais. Eles vivem por muito tempo, porém são finitos. Quando eles morrem, eles renascem como outro tipo de criatura, possivelmente um outro tipo de deva, ou talvez um humano. Eles não criam nem moldam o mundo. Veem a existência baseados em seus carmas passados e eles são tão sujeitos às leis da natureza de causa e efeito quanto qualquer outro ser no universo. Também não têm papel nas periódicas dissoluções de mundos e não são venerados. Apesar de alguns indivíduos entre os devas serem criaturas de grande autoridade moral e prestígio nenhum deva pode escapar do samsãra.

Preta, também conhecidos como fantasmas famintos seres sobrenaturais, descrito no hinduísmo, budismo e no taoísmo como alguém sofrendo mais que os humanos, particularmente um nível extremo de fome e sede.

Acredita-se que os pretas tenham sido pessoas falsas, corruptas, compulsivas, enganosas, invejosas ou gananciosas em alguma vida anterior. São invisíveis ao olho humano e descritos com os membros estreitos, barrigas enormemente distendidas e pescoços longos e finos. Essa aparência é uma metáfora para sua situação mental: eles têm enormes apetites, representados por suas barrigas gigantescas, mas uma capacidade muito limitada de satisfazer esses apetites, simbolizada por seus pescoços esguios.

Os pretas são frequentemente retratados na arte japonesa lambendo água derramada em templos ou acompanhados por demônios. Habitam lugares ermos e desérticos da terra e sofrem de calor e frio excessivos.