Criacionismo e evolucionismo

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Criacionismo

O mito de Adão e Eva

Os humanos produzem mitos para transmitir suas interpretações sobre o mundo.

O livro do Gênesis, por exemplo, é baseado em uma mistura de mitos mesopotâmicos. Adão, do hebraico, adamah, é relacionado a “do barro vermelho”. Deus o criou a sua imagem e semelhança para dominar a Terra.

Os hebreus adotaram Adão em repúdio ao politeísmo predominante na época. A exemplo do dilúvio de Noé, Adão, o primeiro homem, pode ter sido inspirado no épico de Gilgamesh:

“Enkidu, criado por uma deusa, vivia como um animal, comendo capim e bebendo água do rio junto com os animais. Era selvagem. Um caçador queixou-se aos deuses que Enkidu destruía suas armadilhas, e então Shamhat, uma prostituta do templo, foi enviada para seduzi-lo. Enkidu nunca tinha visto uma mulher e se apaixonou por ela, esquecendo-se dos animais. No caminho para Uruk, Shamhat lhe deu pão e vinho. Ele inicialmente recusou, mas acabou convencido. Depois de comer, tornou-se humano e então aceitou as roupas dadas pela prostituta. Enkidu foi viver em Uruk.”

O Homem nasce no pecado. Eva nasce da costela de Adão e não da argila, como ele. A serpente incita a transgressão. Cria-se com o mito uma eterna dependência, um aprisionamento, a razão estrutural da religião judaica.

O livro herético A realidade dos governantes (Hipóstases dos Arcontes), da literatura clássica gnóstica, reconta a criação de Ialdabaõth (Satã) até Noé e o dilúvio:

A criação do Adão animado

“’Vamos, façamos um ser humano segundo a imagem de deus e segundo nossas imagens, de modo que a imagem do ser humano sirva como uma luz para nós.’ E eles realizaram o ato da criação por meio do poder de cada um de acordo com as características dadas a eles. E cada um pôs na alma desse ser uma característica correspondente à representação da imagem que eles tinham visto. E eles fizeram uma entidade subsistente, à imagem do primeiro ser humano perfeito. E disseram: ‘Vamos chamá-lo de Adão, de modo que tenhamos seu nome como um poder luminoso’.

Mais tarde, o espírito viu o ser humano animado no chão, desceu e veio habitar dentro dele, e o ser humano passou a ser uma alma vivente. Eles pegaram Adão e o puseram no jardim (paraíso), para que o cultivasse e o vigiasse. E emitiram uma ordem para ele, dizendo: ‘De todas as árvores do jardim você comerá, contudo de a árvore do conhecimento do bem e do mal não coma, nem a toque; pois no dia que você comer de ela, de morte vai morrer.’

Adão fez cair um sono profundo. Eles abriram seu lado como uma mulher vivente. E eles preencheram seu lado com um pouco de carne em lugar dela, e Adão passou a ser meramente animado. E a mulher dotada de espírito veio até ele e falou com ele, dizendo: ‘Levanta, Adão.’ E quando ele a viu, disse: ‘Foi você quem me deu vida; você será chamada mãe-dos-viventes.’ Pois é ela que é minha mãe. É ela a parteira, e a mulher (Eva), e ela quem deu à luz.”

A narrativa conta que as autoridades ficaram agitadas e se enamoraram dela. Disseram uns aos outros: ‘Venham, vamos semear nossa semente nela’, e a perseguiram. Então o princípio espiritual feminino veio (para dentro de) a serpente, a instrutora; e ela os instruiu.

Então veio o governante e disse: ‘Adão! Onde está você? Por que você se escondeu, a não ser porque você comeu da árvore, a única da qual eu ordenei que não comesse? E você comeu?’ Adão disse: ‘A mulher que você me deu, (ela deu) para mim e eu comi.’ E foi lançada uma maldição sobre a mulher, que disse: ‘Foi a serpente que me desencaminhou e eu comi.’”. Adão e Eva foram expulsos do jardim do paraíso, visto que estão sob maldição, ocupados com uma vida de trabalho.

A Bíblia judaico-cristã diz no livro do Gênesis, 1, 26-27:

“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.”

 

O evolucionismo

O pensamento bíblico é o de querer explicar aquilo que o homem mal pode compreender, a sua origem. Pautada nos escritos bíblicos, a tese criacionista, no entanto, conflita com a da maioria dos cientistas, que é evolucionista.

O paleoantropólogo da Universidade de São Paulo (USP), Walter Neves, afirma: “nós não viemos do macaco, nós somos um macaco. Compartilhamos com o chipanzé 98% dos nossos genomas, portanto é um parente próximo. Tivemos um ancestral comum há mais de 4 milhões de anos, provavelmente na África.”

Segundo o pesquisador, existem características comuns presentes, como: 1 – pentodactilia, ou cinco dedos nas mãos e nos pés; 2 – unhas no lugar de garras (dos mamíferos, nós e os primatas somos os únicos que temos unhas); 3 – a capacidade craniana maior que a dos grandes mamíferos; 4 – aparato visual (visão tridimensional e colorida); 5 – a cria nasce dependente e tem uma fase de infância prolongada (quatro anos); 6 – o andar ereto (a bipedia como locomoção) – os chipanzés se locomovem com os membros posteriores no chão, com a postura inclinada, se apoiando com os nódulos dos dedos das mãos – nodopedalia.

Nos chipanzés, o neurocrânio não é proporcionalmente tão grande quanto a face. O osso occipital é situado na parte traseira e inferior do crânio e há uma barra óssea supraorbital. As fileiras de dentes são paralelas entre si e os caninos são grandes e pontiagudos, com um espaço para o alojamento dos caninos superiores e inferiores.

Já nos humanos, a face ocupa um espaço menor do que o do neuro crânio (há uma expansão do neuro crânio), a face é pequena, o orifício de entrada da coluna vertebral ocorre na parte de baixo do crânio e não existe a barra supraorbital. A arcada dentária é na forma de parábola, e os caninos não são tão grandes comparados aos outros dentes da arcada e não há espaço – diastema – quando se faz a oclusão.

Desde os tempos de A origem das espécies de autoria de Charles Darwin (1809-1882) até 1970, o meio científico pensava que a evolução humana ocorrera progressivamente, ou seja, ao mesmo tempo. Porém, não foi assim. Não ocorreu uma espécie de hominínios de cada vez. Várias linhagens estavam vivendo na Terra.

Há evidências de que os humanos começaram a fabricar ferramentas de pedra lascada há cerca de 2,6 milhões de anos e de que o aumento do cérebro começou a acontecer há aproximadamente 2 milhões de anos. Assim, a fabricação de ferramentas não está associada ao aumento do crânio, como se imaginava. Outro ponto importante é que a evolução não foi linear, mas em mosaico.

30 mil anos atrás havia cinco espécies de hominínios no planeta: os sapiens, os neandertais, os erectus, os denisovanos, e os floresiensis. Todas foram extintas, exceto o sapiens (nós). Os cientistas acreditam que por volta de 70 mil anos atrás houve no planeta um inverno nuclear, e a população ficou reduzida a dez mil indivíduos.

O que presume a existência de hominínios no pliopleistoceno (período de 5 milhões de anos até 12 mil anos atrás) é que os fósseis achados sempre foram nas regiões do Leste da África. Porém, em 2001, o pesquisador Michel Brunet achou um crânio de hominínio no deserto do Chade, na região de Toros Menalla, na África Central. Esse crânio foi datado de 7 milhões de anos. Muito provavelmente era um ser bípede. O forame magno nesse crânio, diferentemente do crânio do chipanzé, que fica atrás, está deslocado verticalmente, ou seja, na base do crânio. A expansão do crânio é pequena, assim como a face projetada (prognata) – há um grau da face bastante retraída. Porém, ele tem um tórus mais espesso do que se encontra no chipanzé.

Sahelanthropus, achado no deserto do Chade, na África Central.

Outro fóssil encontrado na primeira metade dos anos 90 foi o Ardipitecus ramidus, na Etiópia. Data de aproximadamente 4,5 milhões de anos. Pela localização do forame magno, foi bípede, e seus caninos são menores que os dos chipanzés, com desgaste na ponta e não na lateral.

Seus membros inferiores são longos e os superiores mais curtos, como o homem atual. Os chipanzés têm braços mais longos que as pernas (características de arborícolas – os que vivem nas árvores).

Assim, pode-se compreender que a bipedia não foi um passo evolutivo abrupto. Houve um período que os hominínios foram bípedes e arborícolas.

Outro fóssil, o Australopithecus aforensis (Lucy), foi encontrado na Tanzânia em 1970. Data de aproximadamente 3,2 milhões de anos. Tem o forame occipital na base do crânio, portanto devia ser bípede, os caninos pequenos e pouco projetados, os braços longos e pernas curtas.

As pegadas de Laetoli (pegadas em cinzas vulcânicas, que ficaram marcadas), descobertas em 1976 por Mary Leakey, datam de cerca de 3,7 milhões de anos.

O Homo habilis (nome dado em razão da sua capacidade de fabricar, uma vez que foram encontradas ferramentas de pedra lascadas no mesmo sítio arqueológico onde foi encontrado o seu crânio), encontrado na Tanzânia, na Garganta de Olduvai, era possivelmente um bípede facultativo, tinha uma expansão craniana considerável, a face retraída em relação à face dos hominínios anteriores, os caninos pequenos e desgastados na região apical. O habilis foi o primeiro representante do gênero Homo, descoberto.

Há 2 milhões de anos, na África, foi descoberto o Homo erectus. Sua capacidade craniana expandiu, notou-se um toro na região occipital do crânio (parte de trás do crânio), bipedia estrita. O erectus foi o primeiro hominínio que deixou a África – também foram achados fósseis na China, em Java, no Cáucaso – o erectus ocupou a região oriental).

O Homo heidelbergensis foi o primeiro cabeçudo descoberto, presente na África, na Índia, no Extremo Oriente e na Europa (o primeiro Homo cosmopolita). Seu volume cerebral era de 1.200 cm3, o crânio em formato de bola de futebol americano (ausência de testa e occipital anguloso), e um toro supra orbital extremamente robusto.

É o último ancestral comum entre o sapiens e o neanderthalensis. O fóssil de Chapelle-aux-Saints, descoberto em 1908 na França, chegou na Europa entre 600 e 400 mil anos atrás.

Fósseis encontrados em sítios em Atapuerca, no norte da Espanha, apresentam a transição entre os heidelbergensis e os neanderthalensis: um crânio comprido, sem testa, com tórus supraorbital marcado. O que caracteriza um neanderthalensis é a presença de um tórus vermiforme na parte posterior do crânio, que tem em média 1.600 cm3 de cérebro. Viveram na Europa, em regiões mais frias (os esqueletos mostram-se bastante adaptados a temperaturas mais baixas). Tinham em média 1,65 metros de altura, e seus corpos eram lateralizados (os ossos da bacia largos). Foram os primeiros hominínios a inventarem pontas, que não eram de arremesso.

Os neanderthalensis migraram da Europa para o Oriente Médio. Já os sapiens descendem dos heidelbergensis, que ficaram na África. Os fósseis de sapiens não ultrapassam 200 mil anos. Os sapiens comparados com outros hominínios anteriores apresentam um neurocrânio globular, o occipital arredondado, a face retraída e não há tórus supraorbital e occipital. Aparece pela primeira vez o queixo na região mandibular. A capacidade craniana é menor do que a dos ancestrais diretos, de 1.350 cm3, porém, a superfície corporal também é menor do que a dos ancestrais anteriores.

Quanto à evolução comportamental, entre 200 mil e 50 mil anos o sapiens mantém as características que a de outros hominínios que precederam (neanderthalensis e heidelbergensis). Há mitos de que, por exemplo, os sapiens foram os únicos com habilidade para fabricar e usar ferramentas, no entanto, é sabido, hoje, que inclusive pássaros têm essa mesma habilidade. Também se acreditava que somos a única espécie que depende de comportamentos aprendidos, mas sabemos, hoje, que várias outras espécies de mamíferos também dependem desses mesmos comportamentos.

Somente houve uma grande mudança comportamental há 50 mil anos, quando os cientistas dizem ter ocorrido no cérebro dos sapiens o que chamam de “módulo de significação” (mudança na circuitaria do cérebro), que permite que a espécie produza e manipule símbolos – atribuição de valores e de significados, a coisas que existem e que inexistem. Trata-se de um fenômeno que vem juntamente com a fala (linguagem), os primeiros sepultamentos, as primeiras confecções de esculturas e de pinturas e os sentimentos religiosos.

Será que a criação divina previa a evolução, e de que somente uma espécie seria a dominante?

Deus, ao criar, previu a evolução (dos sapiens)? Os sentimentos éticos e estéticos, inerente aos humanos, o ato de colocar-se de joelhos diante do divino, é o que os cientistas deram o nome de “módulo de significação”, e foi previsto no ato da criação?