Espiritismo e o Livro dos Espíritos

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A sobrevivência do espírito após a morte (imortalidade), a reencarnação e a comunicabilidade dos espíritos são as bases dessa doutrina, que surgiu na França e se expandiu pelo mundo a partir da publicação de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, em 1857. Os espíritas pregam que a alma vem se desenvolvendo através dos reinos da natureza, no tempo, até chegar à nossa espécie. Ao entrar na vida humana, ela guarda características de selvageria e de sentimentos inferiores. O espírito vem à Terra em prova ou em missão. A sua hierarquia é dada pela moral, e o amor é que o eleva. Consideram Zoroastro, Krshna, Jeremias, Buda, Lao-Tsé, Mêncio, Confúcio e Jesus instrutores espirituais enviados à Terra pelo Criador, para contribuir com o desenvolvimento espiritual da humanidade. Contestam o Velho Testamento, dizendo ser “um livro com grandes façanhas, louváveis heroicidades e pavorosos morticínios, como tendo sido ordenados por Jeová”.

O Livro dos Espíritos contém os ensinamentos que esclarecem questões filosóficas, psicológicas, mas aborda também outros temas. Ele se divide na parte que fala sobre Deus e seus atributos, um Deus cheio de bondade e amor; entra no campo da filosofia; explica o que é a matéria e os espíritos; aborda a moral e o altruísmo; descreve o bem e o mal. Assegura que a elevação espiritual e a consequente felicidade são frutos do esforço próprio. Os espiritistas consentem a imortalidade do espírito, a natureza dos espíritos e as suas relações com os humanos, e a alma como um ser moral, independente da matéria, que conserva a sua individualidade após a morte. Não creem em diabos, demônios, mas espíritos inferiores, aos quais os homens dão acesso por afinidades, por baixeza de sentimentos. Esses espíritos prejudicam os homens e se aproveitam das suas fraquezas. A alma impura vive presa ao mundo e persevera no mal.

Os princípios da doutrina, conforme o Livro dos Espíritos, de Kardec, são:

1 – Deus é eterno, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom;

2 – Ele criou o Universo, que abrange todos os seres animados, e inanimados, materiais e imateriais;

3 – o mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo, e o mundo corporal é secundário;

4 – entre as diferentes espécies de seres corpóreos, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos espíritos que chegaram a certo grau de desenvolvimento, dando-lhe superioridade moral e intelectual sobre as outras;

5 – o espírito não é, pois, um ser abstrato, indefinido, só possível de conceber-se pelo pensamento. É um ser real, circunscrito;

6 – os espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais, nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em moralidade. Os da primeira ordem são os espíritos superiores, que se distinguem dos outros pela sua perfeição, seus conhecimentos, sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e por seu amor do bem. Os das outras classes se acham cada vez mais distanciados dessa perfeição, mostrando-se os das categorias inferiores, na sua maioria, eivados das paixões humanas;

7 – os espíritos não ocupam perpetuamente a mesma categoria. Todos melhoram, passando pelos diferentes graus da hierarquia. Essa melhora se efetua por meio da encarnação, que é imposta a uns como expiação, a outros como missão. A vida material é uma prova que lhes cumpre sofrer repetidamente, até que tenham atingido a absoluta perfeição moral;

8 – as diferentes existências corpóreas do espírito são sempre progressivas e nunca regressivas; mas a rapidez do progresso depende dos esforços que se faça para chegar à perfeição;

9 – a alma possuía sua individualidade antes de encarnar; conserva-a depois de se haver separado do corpo. Na sua volta ao mundo dos espíritos tem a lembrança de todo bem e de todo mal que fez;

10 – os espíritos encarnados habitam os diferentes planetas do Universo. Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; estão por toda parte no espaço.

 

“Quem poderia ver, sem terror, abrir-se diante si o imensurável abismo do nada, onde se sepultassem para sempre todas as suas faculdades, todas as suas esperanças, e dizer a si mesmo: Pois que! depois de mim, nada, nada mais, senão o vácuo, tudo definitivamente acabado; mais alguns dias e a minha lembrança se terá apagado da memória dos que me sobreviverem; nenhum vestígio, dentro em pouco, restará da minha passagem pela Terra; até mesmo o bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem beneficiei. E nada, para compensar tudo isto, nenhuma outra perspectiva, além da do meu corpo roído pelos vermes! O homem tem, instintivamente, a convicção de que nem tudo se lhe acaba com a vida. O nada lhe infunde horror.”

O Livro dos Espíritos – Allan Kardec

 

A morte, para o espiritismo, não é o fim, mas o começo de uma outra etapa evolutiva. Não existe morte espiritual. A vida no corpo físico é vista como um aprendizado para o espírito. Os espiritistas acreditam que, quando se morre, segue-se para um plano espiritual, levando o aprendizado dessa vida. Também se crê na reencarnação e na individualidade da alma – cada alma é única e mantém suas características no plano espiritual. Assim, a existência na Terra (e em outros planetas) é o caminho dos espíritos em direção a uma alma mais evoluída, a prática da bondade e da tolerância. É o ser que se julga. Deus é uma luz e colocou a lei do amor dentro de cada ser humano, criatura criada.

A morte do corpo físico é fenômeno natural que atinge a todos. A desencarnação acontece quando os laços perispirituais (perispírito é o invólucro que liga o corpo ao espírito), até então mantidos enraizados, se desfazem, concedendo liberdade ao espírito que passa a viver em outra coordenada espaço-tempo. Segundo a doutrina, a morte é uma mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução. Os espiritistas pregam que o céu e o inferno são criações humanas. O céu é um estado de conforto físico. O inferno não existe, o que existe é um nível espiritual inferior. Ajustado à vida no plano espiritual, o espírito colherá, então, os frutos, bons ou ruins, do que semeou durante a experiência reencarnatória, submetendo-se, no final, à lei de progresso.

“A vida se lhe mostra tão curta, tão fugaz, que, aos seus olhos, as tribulações não passam de incidentes desagradáveis, no curso de uma viagem. As amarguras da vida são provas úteis ao seu adiantamento, se as sofrer sem murmurar, porque será recompensado na medida da coragem com que as houver suportado.”

Livro dos Espíritos – Allan Kardec

 

O espiritismo diz que se deve ter consciência da normalidade de vivenciar momentos difíceis, já que o mundo é de provas e expiações, de acordo com O Evangelho Segundo o Espiritismo. A terra é uma escola de aprendizado. A doutrina espírita revela que se é responsável por todos os atos, sejam bons ou ruins. Quaisquer erros que se possa ter cometido no passado, podem ser transformados em algo edificante. Deus dá a oportunidade de se ter uma vida espiritual evolutiva para que o homem seja muito melhor do que foi, no sentido da elevação. Dessa forma haverá ainda tristezas e aflições neste mundo. Isso se deve ao fato de Deus colocar a humanidade num mundo ingrato para que se supere a cada dia e seja merecedora de reencarnar num planeta mais feliz em vidas posteriores. As dores deste mundo poderão trazer a compaixão pelo próximo, tornando uma pessoa melhor. O Evangelho ensina a bendizer o sofrimento, como prelúdio da cura.

No livro Há 2 mil Anos, de Emmanuel, psicografado pelo espírita Chico Xavier, lê-se que a expiação não seria necessária no mundo, para aperfeiçoamento da alma, se o bem fosse compreendido e praticado por atos, palavras e pensamentos. A doutrina afirma que a dor e o sofrimento não são castigos divinos, mas correções.

             O Livro dos Espíritos de Alan Kardec, é o livro da filosofia espírita. Ele trata da imortalidade da alma, da natureza dos espíritos e suas relações com os homens, das leis morais, da vida presente; da vida futura e o que ainda pode acontecer para a humanidade. Os textos, segundo Kardec, são ensinos dados por espíritos superiores com o concurso de diversos médiuns, recebidos e coordenados. A primeira parte explana sobre as causas primárias, como as provas da existência de Deus e de seus atributos, dos elementos gerais do Universo, da criação e do princípio vital. A parte segunda ocupa-se do mundo espírita ou mundo dos espíritos, ensinando conceitos de perispíritos, espíritos imperfeitos, bons e puros, e a progressão dos espíritos, da reencarnação, da extinta vida corpórea, da pluralidade da existência, da volta do espírito à vida corporal, da intervenção dos espíritos no mundo corporal, das ocupações e missões dos espíritos. A terceira parte apresenta as leis morais. A parte quarta informa sobre as esperanças e consolações, como das penas e gozos terrenos e futuros.

É no Brasil que se encontra a maior comunidade espírita do mundo (1,3% da população do país), de cerca de 13 milhões de adeptos.