O cânon do Novo Testamento
O cânon do Novo Testamento
Cânon no grego significa “vara de medir”; é a lista de textos ou livros religiosos que uma determinada comunidade aceita como sendo autoritativos.
Os evangelhos sinóticos (Mateus, Lucas e Marcos), que contêm histórias em comum, na mesma sequência, e algumas vezes utilizando exatamente a mesma estrutura de palavras, foram escritos vários anos após a crucificação de Jesus e não tiveram o propósito de se tornarem bíblicos quando foram escritos.
Os textos conhecidos como sagrados no judaísmo, até o ano de 170, eram chamados de Leis, Escrituras e Salmos.
Marcião de Sinope (85 a 160), o primeiro herege da igreja, entendia ser necessária uma ruptura entre o judaísmo e o cristianismo. Sua teologia, chamada marcionismo, propunha dois deuses distintos: o Deus dos textos judaicos deveria ser rejeitado. A primeira sugestão de cânon foi no ano de 144, proposta por Marcião, com onze livros – o livro de Lucas e onze epístolas atribuídas a Paulo. Além disso, foram removidas dos textos as ideias judaicas.
Surgiu, então, na igreja, a ideia de se criar um cânon que servisse como base para os ensinamentos doutrinários.
Na metade do século I, Justino Mártir (100 a 165), da igreja de Roma, já lia os quatro evangelhos para a comunidade cristã primitiva.
No ano de 170, Tacião, um apologista entre os cristãos primitivos, reuniu textos e formulou o Diatéssaron, que comprova a autoridade que os quatro evangelhos tinham já na segunda metade do século II.
Ireneu de Lião (130 a 202) traz a primeira evidência de que os evangelhos passaram a ser consideradas escrituras sagradas; o reconhecimento do caráter canônico dos quatro evangelhos, e a tradição.
No século II já estava estabelecida a necessidade de livros normativos, mas somente no final desse século foi elaborado o Cânon de Muratori, que incluía os livros Sabedoria de Salomão e Apocalipse de Pedro e excluía os livros Primeiro e Segundo Pedro e as cartas aos Hebreus, João e Tiago.
Também no final do século II, as igrejas orientais tinham uma versão bíblica, com tradução em siríaco, com vinte e dois livros, não fazendo parte os livros do Apocalipse, Segundo Pedro, Segundo e Terceiro João, e Judas.
No século IV, Eusébio de Cesareia (260/265 a 339/340), em sua obra “História Eclesiástica”, orientou sobre os livros que deveriam fazer parte do cânon. O texto de Eusébio foi escrito depois do Concílio de Nicéia.
As três razões que levaram à aceitação ou não dos livros no cânon bíblico foram a confirmação de o texto ter vindo da tradição apostólica (a afirmativa de que o autor teria tido contato com pessoas que conheceram os apóstolos); a aceitação do texto pela comunidade; e a doutrina, ou seja, se a teologia estava conforme a teologia majoritária da igreja.
Ao fundar a cidade de Constantinopla, a futura capital do Império Romano e que se tornou capital do Império Bizantino, Constantino, O Grande, fez o pedido que foi de constituir cinquenta bíblias (cânon atribuído a Constantino – as 50 bíblias de Constantino). No entanto, não foi no Concílio de Niceia que foram definidos os livros do cânon do Novo Testamento.
Atanásio de Alexandria (296 a 373), depois da metade do século IV, em confronto com Ário, determinou vinte e sete livros normativos para compor o cânon.
Houve divergências teológicas, como por exemplo, o livro de Tiago, que afirma a salvação pela graça e pela fé, enquanto outros livros incluem a obra como também sendo necessária para a salvação.
Somente no Concílio de Trento, em 1546, portanto no século XVI, é que foram definidos dogmaticamente os livros do cânon do Novo Testamento.