O cérebro, a mente e a consciência

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Embora eu não tenha formação em neurociências ou em psicologia, vou me atrever a escrever sobre temas tão complexos e igualmente desconhecidos: o cérebro, material, e a mente e a consciência, imateriais. O córtex cerebral, a estrutura na superfície do cérebro está envolvida com as funções cerebrais, incluindo processos de pensamento, escuta, visão, contagem, desenho, memória e músculos particulares de movimento, como os braços e as pernas. As áreas frontais são responsáveis por alguns aspectos muito misteriosos da mente e do comportamento humanos, como senso de moral, inteligência, ambição e outras atividades sobre as quais se sabe muito pouco. Danos causados à parte frontal do cérebro geralmente causam mudanças na personalidade e problemas com a sensação do toque, assim como da fala, enquanto danos um pouco mais atrás, na área parietal (os dois ossos curvos que se situam em ambos os lados do crânio), podem causar problemas na fala e nos braços e pernas.

Essas áreas também estão relacionadas com a representação da criação em três dimensões do mundo externo e do próprio corpo. Na área occipital, mais atrás, está a área que se refere à visão, que, em caso de dano, pode resultar em cegueira, e ao lado está a região temporal, envolvida em certos aspectos da memória, da escuta, das emoções e da percepção visual. Por baixo do córtex está o tronco cerebral, o qual mantém todos os processos vitais como o batimento cardíaco e a respiração, bem como reflexos importantes como o da pupila e o do vômito. Danos ao tronco podem causar perda de consciência e dos reflexos vitais e, consequentemente, a morte.

Calcula-se que o número de conexões possíveis em um cérebro humano ultrapasse o número de átomos do Universo inteiro. As teorias propostas conhecidas não esclarecem como eventos químicos ou elétricos, que não são conscientes como são conhecidos, tornam-se conscientes. Também, as teorias sobre o cérebro não conseguem explicar as características observadas da consciência. Elas não fornecem mecanismos plausíveis para explicar o desenvolvimento da consciência a partir da atividade das células cerebrais. Porém, a consciência é o fato fundamental da própria existência, que está presente a qualquer tempo, em qualquer lugar. Para fazer qualquer coisa, para pensar, sonhar, criar, perceber é necessário estar consciente.

Mas onde está a consciência? De que é feita? Ao contrário do que acontece com os objetos materiais, fenômenos intangíveis como a consciência não podem ser medidos. Mas isso significa que eles não sejam reais? Fritz Perls (psicoterapeuta nascido na Alemanha – 1893-1970, desenvolveu a abordagem que chamou Gestalt-terapia) escreveu: “Você acredita que está diante de uma janela, mas na realidade você está diante de um espelho. Isso significa que não existe nenhum mundo para o qual eu olho, mas um mundo que é meu reflexo, eu encontro a mim mesmo, o mundo inteiro não é nada mais do que autoexpressão (manifestação do pensamento, da vontade ou do sentimento da própria pessoa), subjetividade absoluta.”

O homem está preso entre a visão dualista e dividida entre o bem e o mal de Deus e da espiritualidade, e a visão sem significado e sem valores da realidade alimentada pela ciência materialista. O cérebro não absorve tudo, mas, sim, constrói um conjunto de filtros complexo. Alguns desses filtros são fisiológicos, ou seja, os aparatos bioquímicos do cérebro não conseguem lidar com todos os sinais que lhe são transmitidos. Outros filtros, porém, são psicológicos; não se vê nem se ouve certas coisas porque não há vontade para isso.

A percepção pode ser distorcida pelo estresse, por emoção intensa ou por sinais variados no cérebro. Ele representa a realidade que é percebida por uma forma de vida particular. A experiência não é organizada aleatoriamente, mas simbolicamente. Na história do desenvolvimento da mente racional, especialmente na infância, há muitos saltos criativos de descoberta (criatividade fundamental) até o supramental descobrir os contextos do pensamento abstrato. Mas, como personalidades adultas, a estabilidade se instala e a identidade mental torna-se benevolente com o repertório apreendido, que é chamado sistema de crenças. A mente racional exibe a tendência a simplificar e a marginalizar as origens supramentais do repertório aprendido de contextos em termos de simples dicotomias: bem e mal, belo e feio, verdadeiro e falso, amor e ódio.

E o que é o supramental? O neuropsicólogo Michael Persinger e o neurologista Vilayanu Rama Chandran, ambos da Universidade da Califórnia, identificaram no cérebro humano um ponto chamado de módulo Deus, que aciona a necessidade humana de buscar um sentido para a vida. Os cientistas preferem usar o termo Inteligência Supramental, porque significa a inteligência além do mental. Tem a ver com os valores, virtudes e com os arquétipos que definem verdade, beleza, amor, justiça, bondade. Uma inteligência mais ligada à intuição do que à razão.

Há quatro tipos de percepções: a sensorial, no nível físico, a emocional, no nível vital, energético, e o pensamento, no nível mental. E há também a percepção sutil, a intuição, no nível supramental. Quando se depende apenas do racional, joga-se fora o aspecto emocional e, com ele, a intuição. Para integrar emoção e razão, é necessário restabelecer o supramental nas vidas adultas, dizem os especialistas.

Há duas razões para que as pessoas tendam a ser céticas quanto a mudanças descontínuas. Uma é que, quando adultas, elas raramente vivenciam um movimento descontínuo da consciência. Geralmente, as experiências são contínuas. Olha-se pela janela, fecha-se os olhos ou dorme-se; quando os olhos são abertos ou se acorda, o mundo lá fora é o mesmo. A continuidade parece prevalecer. Ao se olhar para dentro, encontrar-se-ão pensamentos e sentimentos que parecem criar um fluxo contínuo de consciência. A segunda razão para o ceticismo é a lavagem cerebral que é feita, hoje, sob o disfarce da educação científica em favor da racionalidade, em favor da resposta algorítmica para cada problema, afirmam os profissionais.

O filósofo americano Daniel Dennet propôs que a consciência é criada por intermédio da atividade global de circuitos cerebrais que criam o eu que governa o funcionamento geral do cérebro, cujo processo é o de um computador extremamente complexo que atua de acordo com um programa, sem nenhuma experiência subjetiva real. A qualquer hora, muitas redes cerebrais especializadas estão ativas em paralelo e processam informação de uma maneira inconsciente. Um pedaço de informação então torna-se consciente se a população de células cerebrais que a representa for mobilizada por atividades competitivas, cooperativas e colaterais para uma atividade de escala cerebral que envolve muitos neurônios distribuídos pelo cérebro. Essa disponibilidade global de informação é o que subjetivamente experimenta-se como estado de consciência.

Immanuel Kant afirmou que nunca será possível conhecer a natureza da realidade como ela é. Que todas as investigações só fornecem respostas ao que se pergunta, baseadas nas capacidades e limitações da mente. Tudo o que se percebe no mundo natural (seja pelos sentidos, seja pela ciência) passa pelo filtro da consciência, e é determinado pelas estruturas mentais. Assim, o que se vê são fenômenos, interações entre a mente e o que quer que esteja realmente ali. Não é possível ver a realidade, só a nossa construção da realidade, elaborada no cérebro (nos neurônios). A “coisa em si” é ocultada.

Henryk Skollimowski (filósofo polonês, 1930-2018), escreveu: “Nossa mente está estruturada em nossos olhos. A mente fornece a referência, o conhecimento específico e as premissas específicas para que os olhos vejam. A mente forma o Universo que o olho então vê.” A ideia da consciência é aceita. Há a sensação que surge, quando olhamos o próprio corpo, de que alguma coisa o está dirigindo. Alguma coisa dá vida ao corpo. Na maioria dos casos, nunca se pergunta o que é essa coisa, porque ela é o próprio homem.

Segundo o conceito materialista, a consciência é um subproduto da atividade cerebral, uma propriedade emergente da atividade bioelétrica cerebral. O que ocorre quando alguns neurônios disparam juntos, produzindo um nível suficiente de complexidade computacional (o cérebro é um computador biológico)? Ou a consciência é um componente fundamental do Universo, independente do cérebro, podendo ser experimentada mesmo sem o corpo? O que acontece na mente que não acontece no cérebro? Se nada acontece na mente a não ser o que acontece na rede maciça de neurônios, para que então se precisa da mente? Se algo realmente acontece na mente acima e além do que acontece na rede neural, onde é que isso acontece?

Muito pouco se sabe, e o que se sabe mostra que há inúmeras limitações: os espectros da luz e do som são muito maiores do que a capacidade de se ver e ouvir. Enxerga-se a luz apenas em comprimentos de onda entre quatrocentos e setecentos nanômetros. Acima desse pequeno principado da visão humana, estendem-se os invisíveis reinos das ondas infravermelhas, das micro-ondas e das ondas de rádio e, abaixo dele, os reinos escuros do ultravioleta, dos raios X e dos raios gama.

Da mesma forma, o espectro de estados mentais possíveis é desconhecido. Há dificuldade em compreender, por exemplo, o que é se sentir uma baleia, um cachorro ou um gavião. Certamente existe uma sensação, mas não é possível saber com o que ela se parece. Tanto as baleias como os humanos processam emoções em uma parte do cérebro chamada sistema límbico. No entanto, o sistema límbico da baleia contém uma parte que não existe na estrutura humana. Será, talvez, que essa parte permite às baleias experimentarem emoções profundas e complexas que são estranhas ao ser humano? Baleias também podem ter experiências musicais espantosas. Elas podem ouvir uma à outra a centenas de quilômetros de distância, e cada baleia tem um repertório de “canções” características que podem durar horas e seguir padrões muito intricados. Penso que o ser humano, aquilo que se é hoje, é consequência de pensamentos de ontem. Que os pensamentos de hoje estão construindo a vida de amanhã. E que a vida é uma criação da mente.