O humanismo atual

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O mundo tem sido dominado pelo humanismo, que santifica a vida, a felicidade e o poder do homem. O humanismo se tornou a religião dominante no mundo e o motivo pelo qual é provável que a tentativa de concretizar o sonho humano cause a sua desintegração. Como é que os humanos se deixaram levar pelo credo humanista, de acordo com o qual o Universo gira em torno da humanidade, e os humanos são a fonte de todo o significado e de toda a autoridade? Quais são as implicações econômicas, sociais e políticas desse credo? A história testemunhou a ascensão e a queda de muitas religiões, impérios e culturas. Essas reviravoltas não são necessariamente ruins.

Além disso, as religiões do mundo não conseguiram transformar a humanidade, apesar de milênios de esforços. O humanismo domina o mundo por cerca de 300 anos, o que não é tanto tempo assim. Os faraós governaram o Egito por três mil anos, e os papas dominaram a Europa durante um milênio. Se alguém dissesse a um egípcio, no tempo de Ramsés II, que um dia não existiriam mais faraós, ele ficaria perplexo. “Como é possível viver sem um faraó? Quem vai garantir a ordem, a paz e a justiça?”

A maioria dos cristãos não imitou Cristo, a maioria dos budistas não conseguiu seguir os passos de Buda e a maioria dos confucianos teria causado um ataque de nervos a Confúcio. Já a maioria das pessoas hoje consegue viver de acordo com o ideal capitalista-consumista. A nova ética promete o paraíso sob a condição de que os ricos continuem gananciosos e dediquem seu tempo a ganhar mais dinheiro e as massas deem rédea solta a seus desejos e paixões e comprem cada vez mais. Essa é a primeira religião na história cujos seguidores realmente fazem o que se espera que façam. Mas como se tem certeza de que, em troca, receber-se-á o paraíso? Foi visto nas redes sociais. Como é que alguém se apoia em Deus e entrega tudo a Ele e, ainda assim, continua vivendo como um ser humano cheio de paixões?

O antídoto para uma existência sem sentido e sem lei foi fornecido pelo humanismo, que cultua a humanidade e espera que esta assuma o papel de Deus, no cristianismo e no islamismo, e o que cabia às leis da natureza, no budismo e no taoísmo. Enquanto, tradicionalmente, o grande plano cósmico emprestava um significado à vida humana, o humanismo inverte os papéis e espera que as experiências dos humanos deem significado ao cosmo. Os humanos devem extrair de suas experiências interiores não apenas o significado da própria vida, mas também o significado de todo o Universo. Esse é o mandamento primário que o humanismo deu: criar um significado para o mundo. Portanto, o cerne da revolução religiosa da modernidade não foi perder a fé em Deus, e sim adquirir fé na humanidade. Os homens são bombardeados com os aconselhamentos: “Ouça sua voz interior, siga seu coração, seja verdadeiro consigo, confie em você mesmo, faça o que achar que é bom.”

O humanismo define que a experiência humana é a fonte suprema da autoridade e do significado, mas ele interpreta a experiência humana de maneiras diferentes. O ramo ortodoxo afirma que todo ser humano é um indivíduo único, possuidor de uma voz interior que o distingue de uma sequência irreproduzível de experiências. Cada ser humano é um raio de luz singular, que ilumina o mundo de uma perspectiva diferente e acrescenta colorido, profundidade e significado ao Universo. Por essa razão, é necessário dar a máxima liberdade a cada indivíduo (liberdade, igualdade, fraternidade) a fim de que experimente o mundo, siga sua voz interior e expresse sua verdade mais íntima. Seja na política, seja na economia ou na arte, a livre vontade individual deveria ter muito mais peso do que interesses de Estado ou doutrinas religiosas. Quanto mais liberdade as pessoas usufruírem, mais belo, rico e cheio de significado será o mundo. Devido a essa ênfase na liberdade, o ramo ortodoxo do humanismo é conhecido com liberalismo.

Já o humanismo evolucionário tem uma solução diferente para o problema das experiências humanas conflitantes. Com raízes no terreno firme da teoria evolutiva darwiniana, para ele o conflito é algo a ser aplaudido, e não lamentado. A falta de entendimento é a matéria-prima da seleção natural, que impulsiona a evolução adiante. Alguns humanos simplesmente são superiores a outros, e, quando experiências humanas colidem, os humanos mais aptos devem prevalecer sobre quaisquer outros. Seguindo essa lógica evolutiva, o gênero humano se tornará gradualmente mais forte e mais apto. O humanismo fantasia a velhice como um período de sabedoria e discernimento. O idoso ideal pode padecer de enfermidades corporais e de fraqueza, mas sua mente é ágil e aguçada, e ele tem um bom conselho a dar aos netos e a quem o procura. Enfatiza que não é fácil identificar a vontade autêntica. Quando se tenta ouvir a si mesmo, frequentemente se é inundado por uma cacofonia de ruídos conflitantes. Porém, às vezes, o homem não quer ouvir sua voz autêntica porque ela pode desvendar segredos inconvenientes e fazer solicitações desconfortáveis. É um problema que coloca a humanidade em uma inquietação que não se deixa tranquilizar pelo ceticismo nem pelo criticismo. Centenas de milhões de milhões de pessoas podem, assim mesmo, continuar a acreditar no islamismo, no cristianismo ou no hinduísmo. Porém, números apenas não representam muita coisa na história.