O sentido da vida

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O sentido do mundo, do universo, da vida, não pode absolutamente ser entendido intelectualmente. A existência e a finitude não são racionalmente compreensíveis. Otto Rank argumentou que os seres humanos são movidos por dois medos fundamentais: o medo da morte e o medo da vida. O medo da morte, segundo Rank, não é apenas um medo da extinção física. Também se teme um tipo de morte psicológica. Esse medo, segundo Rank, motiva cada pessoa a ser diferente pela atualização dos potenciais que a torna única. Isso a leva a existir. O que se sente individualmente se comporta como o sentido da vida inteira. O filme somente tem sentido como um todo. O sentido da vida inteira jamais poderia existir se cada uma das imagens individuais, em sua significância, não tivesse se tornado clara.

Viver significa arcar com a responsabilidade de responder adequadamente às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo, pelo cumprimento da exigência do momento. Essa exigência, e com ela o sentido da existência, altera-se de pessoa para pessoa e de um momento para outro. Jamais, portanto, o sentido da vida humana pode ser definido em termos genéricos; nunca se poderá responder com validade à pergunta por esse sentido.

A vida como é entendida aqui não é nada vago, mas sempre algo concreto, de modo que também as exigências que a vida faz sempre são bem concretas. Essa concretude está dada pelo destino do ser humano, que para cada um sempre é algo único e singular. Nenhum ser humano e nenhum destino podem ser comparados com outros; nenhuma situação se repete. E em cada situação há a necessidade de assumir outra atitude. Em dado momento, a situação concreta exige que se aja, ou seja, que se procure configurar ativamente seu destino; em outro momento, que se aproveite uma oportunidade para realizar valores de vivência; outra vez, que, simplesmente, assuma-se seu destino.

O sentido da vida, a única possibilidade de escolha do homem em relação ao último conceito consiste em crer ou não crer e não em realizar ou perder uma possibilidade de sentido real. A motivação do sentido é congênita, porque todos são humanos e como homens dispõem de uma dimensão mental, que encontra na busca do sentido sua expressão existencial de ser. O homem é um ser que não se satisfaz por viver e também questiona constantemente o sentido e a razão de sua existência e ação. Ele incorpora um produto da herança e do ambiente ou de processos condicionados. Cria um significado quando muitas pessoas tecem juntas uma rede comum de histórias. Aí a vida apresenta uma série de percalços que não isentam ninguém; no máximo dão uma pequena trégua.

Blaise Pascal disse: “Eu nunca poderei saber se existe um sentido final, muita coisa fala fundamentalmente por uma ou por outra possibilidade. Ambas são possibilidades do pensar e não uma necessidade, e isso significa, que os dois pratos da balança podem estar na mesma altura, as duas opções são igualmente possíveis.” O ser humano, assim como todos os seres, são um esforço de perseverar na existência. Não é só o corpo que lhe é estranho, mas também o seu eu lhe é confuso. O homem não sabe por que nasceu, o que está fazendo no planeta, o que deveria fazer, o que pode esperar. É nesse nível que cada um se pergunta por que nasceu e por que deve morrer, qual o sentido de sua vida e suas lutas, qual o bem que se está fazendo e qual o sentido do sofrimento, e qual o seu lugar no plano geral das coisas. Em geral, esse tipo de temor é defensivo, no sentido de dar proteção para a autoestima, do amor e respeito por si mesmo. A tendência é temer qualquer conhecimento que possa fazer com que se despreze a si mesmo ou com que se sinta inferiorizado, fraco, inútil, mau, vergonhoso. O homem se protege e protege a imagem ideal de si mesmo por meio da repressão e de defesas semelhantes, e evita a consciência de verdades desagradáveis e perigosas. A visão do mundo como ele é na realidade constitui uma experiência arrasadora e apavorante. Quem considera que surgiu do nada também deve pensar que ao nada voltará, pois sustentar que uma eternidade passou antes de se existir e que depois outra eternidade se iniciará e, ao longo dela, nunca se deixará de existir, é uma ideia monstruosa. Percebe-se que tudo isso é um meio para um fim maravilhoso, um fim que Deus tem em mente. “Se a existência realmente precede a essência”, diz Sartre, “não há como livrar-se do problema, explicando as coisas através de uma natureza humana determinada ou fixa. Em outras palavras, não há determinismo, o homem é livre. Por outro lado, se Deus não existe, não encontramos valores nem mandamentos aos quais recorrer para legitimar nossa conduta. Assim, na esfera dos valores, não temos desculpas para o que está antes nem justificativas para o que está adiante. Estamos sós, sem mais desculpas.”

O homem, portanto, não é nada além de suas escolhas, de sua capacidade plenamente necessária de fazer escolhas e criar valores, mas as escolhas em si são desnecessárias ou mesmo sem fundamento. Não há razão para elas, nenhum imperativo moral ou natural subjacente dizendo que devem ser de um tipo ou de outro. Assim, pode-se escolher o compromisso com alguém ou com um determinado conjunto de valores hoje, mas, exatamente da mesma forma, poder-se-á escolher algum outro amanhã. Cada um se define à medida que vive, e nada, nunca, precisa ser fixo. Assim, o objeto da vida humana não é nem o prazer, o consumo ou o entretenimento, mas a alegria de aprender e criar.

Será a existência humana um subproduto acidental? É o resultado do jogo cego da mutação genética e da seleção natural, e ela também não é o mero resultado de estratégias de autopreservação de genes? Ou a existência humana tem significado e um propósito humano? O homem está buscando a si mesmo. Ele sabe que existe, mas também sabe que não sabe quem ele é. O que se propõe é, antes de suportar a falta de sentido da vida, é suportar a incapacidade de compreender, em termos racionais, o fato de que a vida tem um sentido incondicional.