O Sutra de Lótus, segundo a escola budista mahayãna, Nitiren Daismonin

Banner Background

O Sutra de Lótus foi pregado no monte Gridhraruta, ou Pico da Águia, na cidade de Rajagriha, antigo reino de Madagha, atual Índia.

Do capítulo primeiro, “Introdução”, à primeira metade do capítulo “Surgimento da Torre do Tesouro”, o décimo primeiro, a pregação é feita no Pico da Águia. A segunda metade do capítulo mais os capítulos subsequentes, até o capítulo vigésimo segundo, “Transferência”, compreendem a Cerimônia no Ar. Os capítulos seguintes, do capítulo “Os Feitos Anteriores do Bodhisattva Rei dos Remédios”, vigésimo terceiro, até “Encorajamento do Bodhisattva Mérito Universal”, o último capítulo, são revelados novamente no Pico da Águia. Essa divisão é denominada de “três assembleias em dois lugares”.

As três divisões – preparação, revelação e transmissão – são aplicadas ao Sutra. A preparação é representada pelo capítulo “Introdução”, a revelação compreende o capítulo “Meios” até a primeira metade do capítulo “Distinção e Benefícios”, e a transmissão, desse capítulo até o último capítulo, “Encorajamento do Bodhisattva Mérito Universal”.

Nos ensinamentos dos primeiros catorzes capítulos, Sakyamuni não revelou sua iluminação num longínquo passado. Buda não elucidou seus ensinamentos por entender serem avançados para a época.

Seis traduções chinesas do Sutra de Lótus foram feitas, e três ainda existem. São Shohokke-kyo, em dez volumes e 27 capítulos, traduzidos por Dharmaraksha em 286; Myoho-rengue-kyo, em oito volumes e 28 capítulos, traduzido por Kumarajiva em 406; e Tembon-hoke-kyo, em sete volumes e 27 capítulos.

Os conteúdos a seguir foram resumidos do livro “Sutra de Lótus, Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo”, de autoria de Daisaku Ikeda, publicado pela Editora Brasil Sheiko, em 2000, do budismo mahayãna, Nitiren Daishonin:

 

Capítulo 1 – Jo (Introdução)

A pregação inicia-se no Pico da Águia. Começa com “Assim eu ouvi” e prossegue identificando o cenário e nomes de arhats, bodhisattvas, divindades celestiais, asuras, garudas e outros seres, humanos e não-humanos, que estavam reunidos para ouvir Sakyamuni. O Buda expõe o Sutra Muryogui e entra em profunda meditação. Flores chovem do céu e a terra estremece. O Buda, então, emite um raio de luz do tufo de suas sobrancelhas, iluminando dezoito mil mundos a leste. Todos os seres dos seis caminhos bem como os budas e seus discípulos, em todos esses mundos, são claramente visíveis. O bodhisattva Miroku pede ao bodhisattva Monjushiri, que já praticou servindo a inumeráveis budas, que explane o significado da assembleia. Monjushiri responde que, no passado, viu outros budas lançarem um raio de luz dessa maneira e, depois disso, eles sempre expuseram um ensino superior. Surgem vinte mil budas sucessivamente, todos com o mesmo nome, Buda Nitigatsu Tomyo (Brilho do Sol e da Lua). O vigésimo milésimo Buda pregou a escritura Sutra Muryogui, e após entrou em profunda meditação, e os mesmos presságios se repetiram. Também expôs um Sutra, o Myoho-rengue-kyo. Monjushiri anunciou que na assembleia estava o bodhisattva Myoho (Som Maravilhoso) e o bodhisattva Gomyo (Aquele que Busca a Fama), que é o atual Miroku. Sakyamuni está para revelar uma escritura Myoho-rengue-kyo.

O primeiro capítulo, a seguir, descreve a série de maravilhosos fenômenos que Sakyamuni manifesta com seus poderes transcendentais quando estava em seu estado de meditação.

 

Capítulo 2 – Hoben (Meios)

Sakyamuni declara que todos os Budas surgem no mundo unicamente para despertar em todas as pessoas a sabedoria do Buda, ajudá-las a percebê-la e capacitá-las a atingir o estado de Buda. Sakyamuni levanta-se da meditação na qual havia entrado, declarando que a sabedoria de todos os Budas é profunda e imensurável. Somente os Budas, ele diz, podem perceber a verdadeira entidade ou a essência real de todos os fenômenos, que consistem em aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, relação, efeito latente, efeito manifesto e consistência do início ao fim. Essa revelação de que toda a vida é dotada da mesma essência ou padrão de existência, denominando dez fatores da vida, estabelece uma base teórica para a asserção subsequente de que todas as pessoas possuem o potencial para atingir o estado de Buda.

No ensino teórico, o Buda declara que os três veículos – Erudição, Absorção e Bodhisattva –, não são fins em si mesmos, mas somente meios para conduzir as pessoas ao veículo supremo do estado de Buda (a revelação como substituição dos três veículos por um veículo único). É apresentada a base teórica para a doutrina do veículo único, os dez fatores – aparência, natureza, entidade, poder, influência, efeito manifesto, causa interna, relação e efeito latente –, como entidade de todos os fenômenos do universo. Ele afirma que todos os Budas realizam seu advento unicamente para exporem o veículo único, ou seja, para capacitar todas as pessoas a alcançarem a sabedoria de Buda, e ensina que todos, comuns dos nove estados, possuem o potencial para o estado de Buda.

Sakyamuni, nos capítulos seguintes, esclarece seu ensino mais detalhadamente, usando parábolas e explicando sua relação passada com seus discípulos. Ele declara que cumpriu o juramento de tornar todas as pessoas iguais a ele, sem nenhuma distinção, e expressa o desejo de todos os budas.

Até o capítulo nono, “Profecias Concedidas aos Aprendizes e Adeptos”, ele expõe seus ensinamentos de três maneiras: 1 – teoricamente, com a declaração da essência real de todos os fenômenos; 2 – citando a parábola “das três carroças e da casa em chamas” e 3 – revelando a sua relação com os seus discípulos.

 

Capítulo 3 – Hiyu (Parábolas)

Sharihotsu dança de alegria por ter compreendido o ensino de Sakyamuni da “essência real de todos os fenômenos”. Sakyamuni profetiza que Sharihotsu nasceria como um Buda chamado Keko (Luz da Flor). Assim, se confirma que todas as pessoas podem tornar-se Budas, mesmo aqueles dos dois veículos que, nos ensinos mahayãna provisório, são impedidas de alcançarem o estado de Buda.

Sakyamuni ensina a parábola das três carroças e da casa em chamas para ilustrar que os três veículos de Erudição, Absorção e Bodhisattvas são meios para conduzir as pessoas ao veículo único. A parte final do capítulo salienta a importância da fé, apontando que até mesmo Sharihotsu, conhecido como o mais notável em sabedoria, obteve acesso por meio da fé e não por sua própria compreensão.

 

Capítulo 4 – Shingue (Fé e Compreensão)

Os quatro homens de Erudição, tendo escutado a parábola das três carroças e da casa em chamas, alegram-se por compreender que a verdadeira intenção de Sakyamuni é revelar o veículo único do Buda que conduz todas as pessoas ao estado de Buda. Os quatro grandes homens de Erudição são Subhuti (Shudobai), Katyayana (Kasennen), Mahakashyapa (Makakasho) e Maudgalyayana (Mokuren). Para mostrar sua compreensão sobre o ensino do Buda, eles contam a parábola do homem rico e seu filho pobre, uma das sete parábolas do Sutra de Lótus. Ao contá-la, os quatro homens de Erudição identificam o homem rico da parábola com o Buda e o filho pobre, com eles próprios. Assim como o filho pobre não reconheceu seu rico pai e se contentou com um emprego inferior, eles não percebiam que eram filhos do Buda, habilitados a atingir o mesmo estado de vida iluminado e estavam satisfeitos com ensinos inferiores. O Buda, percebendo as aspirações limitadas deles, guiou-os gradativamente ao veículo único do Buda por meio dos ensinamentos provisórios, exatamente como o homem rico que permite que seu filho empenhe-se em um trabalho inferior, capacitando-o a desenvolver confiança e habilidade e somente então declara que ele é seu herdeiro, transferindo-lhe toda a sua riqueza. Após expor a parábola, os quatro homens de Erudição afirmam que receberam o tesouro máximo do Buda sem o terem buscado.

 

Capítulo 5 – Yakusoyu (Parábola das Ervas Medicinais)

Sakyamuni conta a parábola dos três tipos de ervas medicinais e dois tipos de árvores para ilustrar que, embora o ensino do Buda seja o mesmo, as pessoas o compreendem de modo diferente e desenvolvem-se de várias maneiras. Apesar de a chuva cair igualmente sobre todas as espécies de plantas e árvores, estas absorvem a umidade diversificadamente e crescem atingindo alturas variadas de acordo com a natureza de cada uma. Da mesma forma, não obstante o Buda exponha somente o veículo único imparcialmente para todas as pessoas, a compreensão e o benefício delas diferem de acordo com sua respectiva capacidade.

 

Capítulo 6 – Juki (Concessão da Profecia)

Este capítulo trata de uma profecia feita por Sakyamuni com relação à quando, onde e com que nome seus discípulos irão se tornar Budas. Sakyamuni prediz que os quatro grandes homens de Erudição atingirão a iluminação. No ensino teórico do Sutra de Lótus, ele declara que o supremo veículo do estado de Buda – e não os três veículos de Erudição, Absorção e Bodhisattva – é a meta da prática do budista (é a substituição dos três veículos pelo veículo único). O Buda explana esses três princípios de três maneiras: teoricamente, com a declaração da essência real de todos os fenômenos no capítulo “Meios”; citando a parábola das três carroças e da casa em chamas, no capítulo “Parábolas”; e revelando sua relação com seus discípulos no passado de sanzen jintengo, no capítulo “Parábola da Cidade Fantasma”. O Buda emprega essas três formas de pregação para habilitar os três grupos de discípulos de maior capacidade, os de capacidade média e os de menor capacidade.

O capítulo “Concessão da Profecia” prediz a iluminação daqueles de capacidade média, que compreenderam a verdadeira intenção do Buda ouvindo-o relatar a parábola das três carroças e da casa em chamas. Primeiro Sakyamuni prediz que Makashyapa atingirá o estado de Buda no futuro como Buda Komyo (Brilho Luminoso). A seguir, prevê que Subhuti, Katyayana e Maudagalyayana alcançarão a iluminação e terão os nomes de Buda Myoso (Forma Maravilhosa), Buda Embunadai Konko (Luz Dourada Jambunada) e Buda Tamarabatsu Sendanko (Fragrância de Sândalo Tamalapattra). Ele conclui esse capítulo proclamando que, em seguida, revelará a relação entre ele e seus discípulos numa existência prévia.

 

Capítulo 7 – Kejoyu (Parábola da Cidade Fantasma)

Este capítulo narra a parábola da cidade fantasma para ilustrar o princípio da substituição dos três veículos pelo veículo único. A história é a seguinte: um grupo de viajantes estava empreendendo uma jornada de quinhentos yojana para alcançar um local remoto onde havia um tesouro. A estrada era íngreme e traiçoeira e, no meio do caminho, os viajantes se desanimaram e pensaram em regressar. O guia do grupo, vendo isso, usou seus poderes místicos para fazer surgir diante deles uma cidade. Lá eles descansaram e recobraram o ânimo, convencidos de que estavam a salvo dos perigos da estrada. Uma vez recuperados da exaustão, o guia fez a cidade encantada desaparecer e disse-lhes que a terra do tesouro, seu verdadeiro destino, não estava distante. No capítulo, a cidade representa os três veículos ou meios pelos quais o Buda conduz as pessoas à terra do tesouro, ou o veículo supremo do estado de Buda.

 

Capítulo 8 – Gohyaku Deshi Juki (Profecia da Iluminação para Quinhentos Discípulos)

Quinhentos arhats relatam uma parábola para demonstrar sua compreensão sobre o ensino do veículo único. A parábola conta que um homem pobre foi visitar um amigo íntimo, que era rico, para pedir ajuda. Convidado a tomar vinho, embebedou-se e adormeceu. O homem rico teve de partir para realizar um serviço. Porém, antes de sair, costurou uma gema de valor no forro do manto de seu amigo adormecido. Quando o homem despertou, nem imaginou que tivesse ganho a gema. Ele, então, lançou-se numa longa jornada. Enfrentou muitas dificuldades e, estando sempre necessitado, contentava-se com qualquer migalha que conseguisse obter. Um dia, encontrou por acaso seu velho amigo, que ficou aborrecido com a sua pobreza e perguntou-lhe sobre a gema. Surpreso, o homem apalpou seu manto e percebeu pela primeira vez que possuía uma joia inestimável. Apesar de envergonhado, ficou também exultante por descobri-la. Os quinhentos arhats explanam que, assim como o homem ignorava o tesouro que possuía, os discípulos do Buda também não estavam conscientes de que haviam recebido a semente do estado de Buda e estavam satisfeitos com os ensinamentos provisórios.

A gema de grande valor no manto indica o estado de Buda inerente no coração de todas as pessoas.

 

Capítulo 9 – Ju Gaku Mugaku Ninki (Profecias Concedidas aos Aprendizes e Adeptos)

Sakyamuni profetiza a iluminação futura de Ananda que se tornara um Buda chamado Sengaie Jizaitsuo (Rei de Poder Irrestrito das Montanhas e Mares da Sabedoria) e Rahula tornar-se-á um Buda chamado Toshippoke (Andando sobre Sete Flores Preciosas). Então, ele concede uma profecia de iluminação, no futuro, de dois mil discípulos, tanto os aprendizes como aqueles que têm dominado a iluminação. Todos esses dois mil discípulos se tornarão Budas com o nome Hoso (Sinal da Joia). Esse capítulo conclui o ensinamento da substituição dos três veículos pelo veículo único. Os capítulos subsequentes tratam da prática e propagação do Sutra após o falecimento do Buda e sua transmissão para os tempos futuros.

 

Capítulo 10 – Hosshi (Mestre da Lei)

Do capítulo décimo, “Mestre da Lei”, ao décimo quarto, “Práticas Pacíficas”, é ressaltada a propagação do Sutra de Lótus após a morte de Buda.

Também, junto, no capítulo décimo primeiro, é destacado o benefício resultante dessa propagação.

Sakyamuni, por intermédio do bodhisattva Yakuo, dirige-se aos oitenta mil grandes bodhisattvas, que vieram de todo o universo para ouvirem-no pregar. Em contraste com os capítulos anteriores, que revelam que os discípulos atingirão o estado de Buda no futuro, esse capítulo e os outros do ensino teórico referem-se à prática e a propagação do Sutra de Lótus após o falecimento do Buda. Assim, Sakyamuni não destina esse capítulo a seus discípulos, mas aos bodhisattvas, que agem para salvar as pessoas como emissários do Buda. Ele declara que aquele que ouvir um único verso ou frase do Sutra de Lótus e devotar a ele um momento de alegria atingirá a iluminação. Aquele que ensinar a uma outra pessoa deve ser considerado como mensageiro do Buda. O capítulo “Mestre da Lei” apresenta três regras de pregação: entrar na moradia do Tathagata, vestir o manto do Tathagata e sentar-se no trono do Tathagata. A moradia indica a profunda benevolência, seu manto é um coração amável e tolerante e seu trono é a percepção da não-substancialidade de todos os fenômenos. O capítulo também menciona as cinco práticas do Sutra de Lótus: abraçar, ler, recitar, ensinar e transcrever.

 

Capítulo 11 – Hoto (Surgimento da Torre do Tesouro)

Descreve a Torre de Tesouro do Buda Taho, que vem para prestar testemunho à veracidade do Sutra de Lótus. No futuro uma torre emerge da terra e paira suspensa no ar. Uma voz sai do interior da torre louvando o Buda Sakyamuni e declarando que tudo que ele ensinou é verdade. Por intermédio do bodhisattva Daigyosetsu (Grande Alegria de Pregar), a assembleia pede que seja explicado o significado desse acontecimento. Sakyamuni diz que dentro da torre está o corpo de um Buda chamado Taho (Muitos Tesouros), que, certa vez, viveu na terra da Preciosa Pureza, um incalculável número de mundos a Leste. Embora há muito tenha entrado no nirvana, ele jurou que, onde alguém pregasse o Sutra de Lótus, surgiria na Torre do Tesouro e atestaria a veracidade desse sutra. O bodhisattva Daigyosetsu, em seguida, solicita ver o Buda Taho. Sakyamuni responde que, para abrir a porta da Torre de Tesouro, ele deve, antes, reunir os budas das dez direções que estão pregando a Lei como emanações dele próprio, e transforma a terra três vezes para acomodá-los. Primeiro ele purifica o mundo saha, removendo aqueles que estão no estado de tranquilidade e alegria para outros mundos, não deixando ninguém além da multidão presente na assembleia. Prosseguindo, usa seus poderes místicos para purificar duzentos bilhões de nayuta de mundos em cada uma das oito direções. Nesses mundos agora não há mais nenhum ser de inferno, fome, animalidade ou ira, ou seja, nenhum dos quatro maus caminhos. As terras deixadas por aqueles com tranquilidade e alegria não serão ocupadas por nenhum dos seis caminhos. Então, Buda purifica mais duzentos milhões de nayuta de mundos em cada uma das oito direções. Agora que o mundo saha e os dois outros grupos de mundos haviam sido transformados em terras do Buda, todos os Budas do universo se reúnem, sentando-se nos tronos dos leões sob árvores de joias. Quando todos se encontram reunidos, Sakyamuni abre a Torre e o Buda Taho o convida a dividir seu assento. Sakyamuni, então, usa seus poderem místicos para erguer toda a assembleia no espaço e a Cerimônia do Ar se inicia. Sentado ao lado de Taho, Sakyamuni faz três declarações, pedindo que propaguem o Sutra de Lótus após sua morte. Na sua terceira declaração, ele apresenta as comparações, conhecidas como seis atos difíceis e nove atos fáceis, para frisar a dificuldade de abraçar e propagar o Sutra de Lótus após a sua morte.

 

Capítulo 12 – Daibadatta (Devadatta)

Prediz que Daibadatta tornar-se-á um buda e descreve a iluminação da filha do Rei Dragão, afirmando que as mulheres também atingem o estado de Buda. Ensina que tanto as mulheres como os homens maus e perversos são capazes de atingir o estado de Buda, negado nos ensinamentos provisórios. Expõe também o princípio de atingir a iluminação na presente forma, sem efetuar aeons de práticas. Sakyamuni revela que numa existência passada foi um rei que renunciou ao trono para buscar a verdade. Durante mil anos serviu a um eremita chamado Ashi, que, por sua vez, ensinou-lhe o Sutra de Lótus. Esse eremita, diz Sakyamuni, é Devadatta. Então, profetiza que ele alcançará a iluminação como um Buda chamado Tenno (Rei Celestial). Devadatta em sua vida presente havia tentado matar o Buda em várias ocasiões e provocado a desunião dentro da Ordem.

Um bodhisattva chamado Tishaku está para voltar a sua terra de origem, e Sakyamuni solicita-lhe que permaneça e ouça o discurso do bodhisattva Monju, que relata como ele havia pregado o Sutra de Lótus no palácio do Rei Dragão, convertendo incontáveis seres. Tishaku deseja saber se havia alguém que colocou o sutra em prática e conseguiu atingir o estado de Buda. Monju responde que a filha do rei Dragão, de oito anos de idade, atingiu o estado de não-regressão e foi capaz de alcançar a sabedoria do Buda. Tishaku e Shariputra não acreditam que isso tenha acontecido. Tishaku questiona o fato de o estado de Buda exigir a prática de austeridades durante muitos kalpas. Nesse momento, a filha do Rei Dragão surge e, após oferecer uma joia ao Buda Sakyamuni, transforma-se em um homem e conclui a prática de bodhisattva. Adquirindo os trinta e dois aspectos e oitenta características de um Buda, ela aparece no mundo ao Sul, chamado Terra sem Impurezas, onde prega o Sutra de Lótus a todos os seres das dez direções. Sua iluminação mostra que as mulheres podem atingir o estado de Buda.

No Myoho-rengue-kyo de Kumarajiva, o capítulo “Devadatta” é um capítulo independente. Porém, tanto no Sho-hokke-kyo de Dharmaraksha como no Tembon-hoke-kyo de Jnanagupta e Dharmagupta, é inserido como parte do capítulo décimo primeiro. Desse modo, essas duas versões do Sutra de Lótus são compostas de vinte e sete capítulos.

 

Capítulo 13 – Kanji (Devoção Encorajadora)

Os bodhisattvas reunidos respondem à convocação do Buda para propagar o Sutra e prometem fazê-lo, superando todos os obstáculos que acontecerão. É ensinado os modos pacíficos para realizar essa propagação.

O bodhisattva Yakuo e os que o seguem, vinte mil bodhisattvas, juram para o Buda propagar o Sutra de Lótus após a sua morte. Quinhentos arhats que receberam uma profecia de iluminação futura e outros mil homens de erudição, também fazem o juramento. Sakyamuni, então, concede uma profecia de iluminação a Mahaprajapati, sua tia materna, e Yashodhara, que foi sua esposa antes de ele renunciar ao mundo. As duas e seus seguidores de seis mil monjas também prometem propagar o Sutra de Lótus após a morte do Buda. Em seguida, bodhisattvas fazem o voto de ensinar o sutra na era repleta de maldades após o falecimento do Buda. O juramento deles é apresentado em forma de versos de vinte linhas que enumeram os tipos de perseguições que serão encontradas ao propagar o Sutra de Lótus nos últimos dias da Lei. Essas perseguições foram, posteriormente, resumidas como “três poderosos inimigos” pelo Mestre Miao-lo da China.

 

Capítulo 14 – Anrakugyo (Práticas Pacíficas)

É o último capítulo do ensino teórico. Descreve os quatro modos pacíficos de prática. Em resposta à pergunta do bodhisattva Monju sobre como os bodhisattvas devem praticar o budismo na era maléfica após a morte do Buda, Sakyamuni expõe quatro modos de prática por meio de atos, palavras, pensamentos e votos pacíficos. Tient’ai considera esses quatro modos pacíficos de prática como um desenvolvimento das três normas de pregação descritas no capítulo “Mestre da Lei”. Neste capítulo também é ensinada a parábola da pedra preciosa escondida no topete, na qual conta-se sobre um rei que recompensa seus soldados generosamente com terras, casas e joias pela coragem demonstrada em batalha. Porém, o rei não se desfazia de uma inestimável gema que levava escondida no topete. Até que, por fim, ele concede a valiosíssima joia a seu soldado mais corajoso. A joia representa o Sutra de Lótus, que o Buda oculta enquanto expõe os ensinamentos provisórios, reservando esse ensino para o final.

 

Capítulo 15 – Juji Yujutsu (Emergindo da Terra)

No capítulo, muitos bodhisattvas se reuniram de outros mundos e juraram propagar o Sutra de Lótus no mundo saha após a morte de Sakyamuni.

Buda convocou os bodhisattvas da Terra, por serem os únicos em condições de realizar a missão de levar adiante os ensinamentos do Sutra de Lótus, que executarão essa tarefa.

A terra treme e se abre e uma multidão de bodhisattvas em número comparável aos grãos de areia de sessenta mil rio Ganges emerge, cada qual com seu propósito de seguidor. Eles são conduzidos pelos quatro bodhisattvas.

Miroku, impressionado, pergunta ao Buda, em nome da assembleia, quem são esses bodhisattvas, de onde vieram, qual seu propósito, que budas eles seguem e que ensinamentos praticam. Sakyamuni responde que são seus discípulos.

Os bodhisattvas da Terra – os bodhisattvas do ensino essencial – são aos que Buda confia a tarefa de propagar a Lei após a sua morte. São bodhisattvas da Terra: Práticas da Terra (Jogyo), Práticas Infinitas ou Ilimitadas (Muhengyo), Práticas Puras (Jyogyo), e Práticas Firmemente Estabelecidas (Anryugyo). Cada um deles representa as quatro virtudes da vida do Buda: verdadeira identidade, eternidade, pureza e felicidade. O bodhisattva Miroku pergunta ao Buda quem os ensinou. Sakyamuni responde que eles são seus discípulos a quem ensina desde o distante passado.

A doutrina mais importante no ensino essencial é a revelação da iluminação original do Buda no passado. Neste capítulo, perguntam a Buda como em tão pouco tempo (40 anos), conseguiu ensinar tantos bodhisattvas e ele revela sobre a vida eterna do Buda (no décimo sexto capítulo, “Revelação da Vida Eterna do Buda”).

 

Capítulo 16 – Nyorai Juryo (Revelação da Vida de Buda)

No capítulo é explicado como Sakyamuni atingiu, de fato, num passado remoto, a iluminação, o que mostra que o Buda que prega o Sutra de Lótus não é um Buda histórico, mas um Buda eterno. O capítulo começa com um diálogo denominado três admoestações e quatro súplicas, nas quais o Buda adverte por três vezes a multidão para crer e compreender suas palavras e a assembleia, por quatro vezes, pede-lhe para pregar. “Ouçam atentamente”, diz Sakyamuni, “sobre o segredo do Buda e seus poderes místicos”. Ele procede explanando que, embora todos os deuses celestiais, homens, asuras e outros seres pensem que ele atingiu a iluminação pela primeira vez naquela existência, sob a árvore de Bodhi, na verdade, já havia decorrido uma extensão de tempo incalculavelmente longa desde a ocasião em que isso havia ocorrido. Para indicar esse tempo, Sakyamuni expõe o conceito de gohyaku-jintengo. Ele refuta a ideia de que atingiu a iluminação pela primeira vez na Índia e revela sua iluminação original no remoto passado. “Vida eterna” refere-se à duração da vida de Sakyamuni como Buda, ou seja, há quanto tempo ele é iluminado. Buda sempre esteve nesse mundo pregando a Lei, surgindo como diferentes budas e usando vários meios. Apesar de afirmar que entra no nirvana, ele usa a sua morte como um meio para despertar nas pessoas o desejo de buscar o Buda. Ele ilustra essa ideia com a parábola do bom médico. Esse capítulo encerra com o trecho em verso chamado Jijague, que reafirma os importantes ensinamentos do trecho em prosa que o precede.

O capítulo Juryo mostra o estado de Buda como uma realidade manifesta na vida do Buda Sakyamuni. A afirmação de que, desde sua iluminação no remoto passado, ele sempre esteve neste mundo, pregando e ensinando a Lei, significa que não há terra do Buda isolada do mundo saha. Os nove mundos existem no estado de Buda. No texto Hokke Guengui, o mestre Tient´ai interpreta o capítulo Juryo como o capítulo que revela os três princípios místicos da Verdadeira Causa (a causa da iluminação original de Sakyamuni), o do Verdadeiro Efeito (sua iluminação original) e da Verdadeira rara (o lugar onde o Buda vive e ensina). Ele interpreta a passagem “certa vez eu também pratiquei as austeridades de bodhisattva…” como uma identificação do estágio de não-regressão, o décimo primeiro dos cinquenta e dois estágios da prática de bodhisattva, que ele definiu como a Verdadeira Causa que o capacitou a alcançar o estado de Buda.

 

Capítulo 17 – Fumbetsu Kudoku (Distinção e Benefícios)

A primeira metade do capítulo expressa que todos os bodhisattvas e os outros que ouviram o ensino do capítulo “Juryo” atingirão o estado de Buda. A segunda metade do capítulo inicia sobre como propagar o Sutra de Lótus após a morte do Buda, que declara os benefícios ao fazê-lo. Os benefícios serão diferentes em cada um. A terceira parte termina expõe o benefício de propagar o Sutra de Lótus após a morte do Buda.

 

Capítulo 18 – Kuiki Kudoku (Os Benefícios da Alegre Aceitação)

Descreve os benefícios de alegrar-se ao ouvir o Buda revelar sua iluminação original. Trata do primeiro dos cinco estágios da prática – alegrar-se ao ouvir o Sutra de Lótus. O bodhisattva Miroku pergunta a Sakyamuni: “se a pessoa se alegrar ao ouvir o Sutra de Lótus após a morte do Buda, qual a dimensão dos benefícios que ela obterá?” Em resposta, o Buda narra o prega a uma terceira pessoa e assim por diante, até a quinquaségima, ou seja, uma pessoa alegra-se ao ouvir o Sutra de Lótus após a morte do Buda e o ensina a uma segunda pessoa que, por sua vez, o prega a uma terceira pessoa e assim por diante, até que a quinquagésima. A quinquagésima pessoa é interpretada como a humanidade, indicando que todas as pessoas podem obter benefícios por meio da Lei Mística.

 

Capítulo 19 – Hosshi Kudoku (Os Benefícios do Mestre da Lei)

O capítulo começa com uma afirmação de que, realizando as práticas de abraçar, ler, recitar, ensinar e transcrever o Sutra de Lótus, a pessoa pode purificar seus seis órgãos sensoriais. Trata das virtudes a serem obtidas por meio da purificação da visão, audição, olfato, paladar, tato e mente.

 

Capítulo 20 – Fukyo (Bodhisattva Jamais Desprezar)

Sakayumi ilustra o benefício de abraçar e praticar o Sutra de Lótus como a gravidade da retribuição por caluniar seus devotos com a história do bodhisattva Fukyo (Jamais Desprezar). Esse bodhisattva viveu nos médios dias da lei de um Buda chamado Ionno, num tempo em que monges detinham grande autoridade e o budismo estava em declínio como religião. Ele sempre reverenciava as pessoas que encontrava, dizendo: “eu o respeito profundamente e não ousaria desprezá-lo nem ser arrogante, pois todos os senhores efetuarão a prática de bodhisattva e seguramente atingirão o estado de Buda”. Monges, monjas, leigos e leigas ridicularizavam-no e atacavam-no com pedras e bastões. Contudo, Fukyo perseverou em sua prática, e, após expiar todas as suas ofensas passadas, conseguiu a purificação de seus órgãos sensoriais e atingiu a suprema iluminação por meio do benefício do Sutra de Lótus. As pessoas que haviam perseguido Fukyo tornaram-se seus seguidores, mas devido às suas ofensas passadas, padeceram no Inferno dos Incessantes Sofrimentos durante mil kalpas. Posteriormente, encontraram-se com Fukyo e então foram convertidas por ele ao Sutra de Lótus. Esse ensinamento ilustra o princípio de atingir a iluminação por meio do benefício da relação inversa (gyakuen no kudoku) exposto no Sutra de Lótus. Sakyamuni identifica o bodhisattva Fukyo como ele próprio numa existência passada e acrescenta que todos aqueles que o caluniaram alcançaram o estágio de não-regressão e estão, naquele momento, presentes na assembleia do Sutra de Lótus, ou seja, quinhentos bodhisattvas liderados por Bhadrapala, quinhentos monges liderados por Simhachandra e quinhentos leigos liderados por Sugatachetana. Então, ele recomenda que o Sutra de Lótus seja sinceramente abraçado e propagado após sua morte.

 

Capítulo 21 – Jinriki (Os Poderes Místicos do Buda)

Trata da transferência da Lei, especificamente do Buda Sakyamuni aos bodhisattvas da Terra e, genericamente, a todos os bodhisattvas. Sakyamuni transfere a essência do Sutra de Lótus aos bodhisattvas da Terra liderados por Jogyo. Os bodhisattvas da Terra juram propagar o sutra após a morte do Buda. Antes de transferir a essência do sutra, o Buda demonstra seus poderes místicos e afirma que, embora os poderes místicos sejam grandes e vastos, os da Lei indicados no Sutra de Lótus são superiores.

 

Capítulo 22 – Zokurui (Transferência)

Após ter transferido a essência da Lei aos bodhisattvas da Terra, Sakyamuni faz uma transferência geral da Lei a todos os bodhisattvas. Então, todos os budas reunidos de todo o Universo retornam às suas respectivas terras, a Torre de Tesouro volta ao local original e a assembleia é transferida do ar para o Pico da Águia novamente.

 

Capítulo 23 – Yakuo Bosatsu Honji (Os Feitos Anteriores do Bodhisattva Rei dos Remédios)

Dá-se início à segunda assembleia no Pico das Águias. O bodhisattva Shukuoke pede a Sakyamuni que fale sobre as práticas passadas do bodhisattva Yakuo. Buda explana que houve uma vez um bodhisattva chamado Issai Shujo Kiken, que ouviu o Sutra de Lótus por intermédio de uma buda cujo nome era Nitigatsu Jomyotoku. Em gratidão, ele queimou seu corpo como forma de oferecimento ao Buda e ao Sutra de Lótus por 1200 anos. Renasceu na terra de Nitigatsu Jomyotoku e queimou seus cotovelos como mais um oferecimento. Após relatar essa história, o Buda apresenta dez comparações e doze analogias ilustrando a supremacia do Sutra de Lótus e o benefício da fé no sutra. Buda fala da passagem “no quinto período de quinhentos anos após minha morte, realizem o Zui Tendai Tisha Daishi Betsuden” (Biografia do Grande Mestre Tient’ai da Dinastia Sui) de Chang-na. Tient’ai obteve um grande despertar por meio do capítulo Yakuo após praticar a recitação e meditação do Sutra de Lótus.

 

Capítulo 24 – Myo’on (Bodhisattva Som Maravilhoso)

No capítulo é descrito o bodhisattva Myo’on (Som Maravilhoso), que possui a faculdade de assumir a forma que desejar a fim de propagar o Sutra de Lótus. Sakyamuni emite um raio de luz de um cacho de cabelos brancos entre suas sobrancelhas, iluminando inumeráveis terras do Buda a Leste, entre as quais se encontra a terra chamada Jokoshogon (Terra Adornada com Radiância Pura). Nessa terra mora o Buda Jokeshukuoti (Rei da Sabedoria da Constelação da Flor Pura), servido pelo bodhisattva Myo’on. Tão logo esse mundo é iluminado, o bodhisattva Myo’on anuncia ao Buda Jokeshukuoti que ele irá ao mundo saha para fazer oferecimentos a Sakyamuni. Após fazer 84 mil lótus de joias, que aparecem como mágica no Pico da Águia, ele chega com uma comitiva de oitenta e quatro mil bodhisattvas. O bodhisattva Ketoku (Virtude da Flor) pede a Sakyamuni que diga à assembleia quais causas o bodhisattva Myo’on criou para obter os poderes místicos. Sakyammuni responde que no remoto passado o bodhisattva Myo’on serviu a um Buda chamado Unraionno (Rei do Som do Trovão nas Nuvens) por dois mil anos, oferecendo-lhe cem mil tipos de música e oitenta e quatro mil tigelas de donativos feitas de sete tipos de gemas. Como resultado de sua devoção, adquiriu habilidades místicas. Ele tem o poder de aparecer como um deus, um ser humano, um dragão, um demônio ou em qualquer outra forma para pregar o Sutra de Lótus. Sakyamuni cita trinta e quatro formas que o bodhisattva Myo’on assume a fim de salvar as pessoas. Depois de fazer oferecimentos ao Buda Sakyamuni, Myo’on retorna à sua terra original.

 

Capítulo 25 – Kannon Bosatsu (Portal Universal do Bodhisattva Percebedor dos Sons do Mundo)

O capítulo descreve os benefícios do bodhisattva Kannon. O bodhisattva Mujinni (Mente Inexaurível) pede a Sakyamuni que explane porque o bodhisattva Kannon (Aquele que Percebe os Sons do Mundo) tem esse nome. Sakyamuni responde que a razão disso é o fato de que esse bodhisattva perceber e salvar todos aqueles, em qualquer lugar, que estão aflitos e sinceramente invocam o seu nome. Ele ainda menciona sete desastres dos quais a pessoa pode ser salva por meio do poder de Kannon: incêndio, inundação, demônios rakshasa, espadas e bastões, ataques de demônios, prisão e ataques de bandidos. Kannon, ele diz, também livra as pessoas dos três venenos da avareza, ira e estupidez, e concede orações às crianças. Ele pode assumir a forma de um deus, um homem, um demônio ou qualquer outra forma apropriada para pregar o ensinamento do Buda. Sakyamuni enumera trinta e três formas que Kannon assume a fim de salvar as pessoas. Afirma que Kannon confere o benefício da coragem nos momentos de dificuldades e de perigo. O bodhisattva Mujinni, então, oferece um colar à Kannon, que o divide ao meio e oferece uma metade ao Buda Sakyamuni e a outra, à Torre de Tesouro.

 

Capítulo 26 – Dharani

Os bodhisattvas Yakuo e Yuze, os deuses celestiais, incluindo Bishamon e Jikoku, e o demônio Kishimojin e suas dez filhas recitam dharani para proteger aqueles que propagam o Sutra de Lótus, segundo incorporam os poderes e benefícios de um buda. Depois de Kishimojin e suas dez filhas terem recitado seus dharani, elas disseram: “Quem quer que se oponha a nosso encantamento / E molestar um devoto do Dharma, / Terá a cabeça partida em sete pedaços / Como os botões de uma arjaka”. Sakyamuni, então, descreve o benefício que receberão por protegerem os devotos do sutra.

 

Capítulo 27- Myoshogonno (Os feitos anteriores do Rei Adorno Maravilhoso)

Sakyamuni relata a história do rei Myoshogon Honji. Diz que no remoto passado havia um buda chamado Unraion-Shukuo Keti (Rei da Sabedoria da Constelação da Nuvem do Som do Trovão), que expôs o Sutra de Lótus. Os dois filhos do rei, Jozo e Joguen, pediram à sua mãe, a Dama Jotoku, que fosse com eles para ouvir o Buda. Ela respondeu que deveriam, primeiro, convencer o pai, um devoto praticante do bramanismo e sugeriu que efetuassem mágicas para mostrar-lhe o poder do budismo. Eles, então, exibiram mágicas para mostrar-lhe o poder do budismo. Expuseram poderes místicos diante do rei, despertando nele o desejo de ouvir o ensinamento de Buda. Juntamente com sua esposa, os dois filhos, ministros e servos, o rei foi fazer oferecimentos a Unraion-Shukuo Keti e ouviu dele uma predição de iluminação. O rei proclamou que seus filhos foram os agentes positivos (zentishiki), pois o haviam conduzido ao budismo. Então, ele, sua esposa e todo seu séquito renunciaram à vida secular e tornaram-se discípulos do Buda. Após contar essa história, Sakyamuni identifica Myoshogon como o bodhisattva Ketoku (Virtude da Flor), que se encontra na assembleia no Pico da Águia. Ele identifica a Dama Jotoku como um nobre bodhisattva, e Jozo e Joguen como os bodhisattvas Yakuo e Yakujo.

 

Capítulo 28 – Fuguen (Encorajamento do Bodhisattva Mérito Universal)

O bodhisattva Fuguen chega à terra do Buda Hoitoku Joo, na parte Leste do universo, para prestar homenagem a Sakyamuni e ouvi-lo pregar. Ele pergunta como uma pessoa pode conseguir encontrar o Sutra de Lótus após a morte do Buda. Em resposta, Sakyamuni explana quatro requisitos: estar sob a proteção dos Budas, plantar numerosas raízes de virtude, realizar meditação correta e despertar a determinação de salvar todas as pessoas. O bodhisattva Fuguen, então, faz votos de proteger o Sutra de Lótus e todos aqueles que o abraçam e propagam nos últimos dias da Lei. Mais uma vez, Sakyamuni declara os benefícios do sutra. A assembleia faz uma reverência a ele e parte.

A cerimônia que acontece no capítulo “Torre do Tesouro” revela que todos podem manifestar o estado de Buda. São utilizados poderes sobrenaturais para elevar os presentes na assembleia ao ar. Buda empenha-se para mostrar a sua força para comunicar o seu estado de iluminação.

A Cerimônia do Ar mostra a sua transcendência ao tempo e ao lugar e corresponde ao movimento da realidade para o estado de iluminação e depois a volta à realidade. Elevar-se no ar significa elevar o estado de vida através da fé.

O retorno da Cerimônia do Ar ao Pico das Águias representa o retorno à realidade da vida diária e o afrontamento de seus desafios com base na força vital do Buda.

Buda é o Enviado, “aquele que veio do mundo da verdade” – o mundo da iluminação – e como humano, incorpora a sabedoria e a benevolência, conduzindo outros à iluminação.

A terra representa o fenômeno do corpo, enquanto o ar representa o fenômeno da mente, que não são entidades separadas. As cerimônias do Pico da Águia e a do Ar representam o dinâmico movimento da vida para a morte e novamente para a vida, como fenômenos inseparáveis.

 

Notas:

Yojana – unidade de medida de distância usada na Índia antiga.

Jambunada – uma montanha; o rio Ganges corre através do Vale dessa montanha que está conectada com Mahãmeru, conforme o texto Mahãbhãrata Vana Parda.

Arhat – aquele que atingiu o mais elevado dos quatro estágios que as pessoas de Erudição visam a alcançar por meio dos ensinamentos do hinayãna, e que se libertou das ilusões do pensamento e do desejo.

Asura – uma classe de demônios da mitologia hindu que lutam continuadamente com o deus Indra. Vivem no fundo do oceano que cerca o Monte Sumeru. No budismo constituem um dos oito tipos de seres inferiores e representam, dentre os Dez Mundos, o estado de ira.

Mundo saha – o mundo repleto de sofrimento em que os seres vivos vivem.

Nayuta – unidade numérica indiana.

Demônio rakshasa – manifestação do mal; no budismo, seres mitológicos (espíritos malignos).

Dharani – discurso ritual semelhante a um mantra.

Deuses celestiais Bishamon e Jikoku – na mitologia japonesa, são deuses de boa sorte.

Demônio Kishimojin – é um demônio feminino que vivia em Rajagriha, capital do reino de Magadha, na Antiga Índia. Apesar de bela, Kishimojin era muito cruel e raptava crianças de outras pessoas para matá-las e, assim, alimentar seus quinhentos filhos.

Arjaka – uma flor que quando é tocada por uma pessoa, suas pétalas abrem-se e caem em sete pedaços.

Garuda – um pássaro gigante da mitologia indiana que se alimenta de dragões.

Aeon (ou kalpa) – período extremamente longo originado da tradição indiana.

Dharma – possui uma grande variedade de significados, incluindo lei, verdade, doutrina, dever, virtude, moral, boas ações, religião, qualidade essencial, elementos da existência etc. Ex. Saddharma é Lei Mística.