Os monstros, os demônios e as crenças

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O período mais antigo da história, do qual se tem indícios unicamente pelos achados arqueológicos e que remontam ao sexto, sétimo milênio antes de Cristo, já descreve os monstros e os demônios.

Os grandes monstros na história das religiões servem de catalisadores dos males e estão na origem tanto do mal metafísico, como as doenças, da desordem cósmica e do caos, ou da mentira ética e moral. Podem chamar-se Tiamat no mundo mesopotâmico – uma deusa associada ao oceano (tendo sua contraparte masculina em Apsu, associado à água doce), é descrita como uma serpente marinha ou um dragão –, Azi Dahaka, do antigo Irã – uma figura demoníaca que aparece nos textos e na mitologia persa, descrito como um monstro similar a um dragão de três cabeças –, Vrtra e Druj, na Índia védica – Vrtra é o dragão que personificava a seca no hinduísmo e guardava, no submundo, a água de rios, lagos e outras fontes de água doce –, Raab e Leviatã, no mundo judaico antigo, ou ter outros nomes.  Além de estarem na origem dos males, eles são a causa de todas as coisas negativas, sem que, todavia, haja uma acusação de responsabilidade. Os monstros existem e criam problemas e isso basta.

Os deuses podiam curar doenças, afugentar os espíritos maus, podiam fazer com que a serenidade retornasse. Assim pensava e pensa o homem.

O mundo dos demônios é muito vasto. A magia se personaliza cada vez mais em seres maus menores: Udug, entre os sumérios, Ganak Minoi entre os persas, os raksa nos textos védicos – raksha é uma raça de seres mitológicos humanoides, ou espíritos malignos, nas religiões budista e hindu. Eram seres abomináveis, canibais e de mente perversa. A personificação do mal e da doença, num demônio, torna-se um fato instintivo e imediato.

Ao demônio maligno pode contrapor-se o deus bom, por meio da oração e dos textos de encantamento. Os deuses Shamash e Marduc, na Mesopotâmia, podiam curar, libertar das doenças, enfim, podiam “salvar”.

Não somente os monstros e demônios desencadeiam as doenças, mas também a ira dos deuses o faz; é um outro modo de personificar e responsabilizar a doença, que se liga claramente ao conceito de pecado. Se o deus pode curar do mal, pode também provocar a doença, quando é ofendido e, consequentemente, fica irado. É o desejo dos deuses de provocarem sofrimento aos homens, sobretudo como expressão e vontade de vingança ou como desejo de puni-los.

Embora a doença fosse considerada uma invasão dos espíritos ou das próprias divindades e, consequentemente, uma rendição a seu superpoder, desenvolveram-se nessa área cultural e religiosa.