Religiões

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As religiões têm alguma coisa em comum? Seus participantes compartilham algum sentimento semelhante a respeito da sua crença?

As religiões desempenham um papel importante e significativo na vida social e política em todo o mundo. Até os ordenamentos jurídicos de muitos países sofrem fortes influências e têm uma significância relevante, cultural e psicológica para cada ser que crê e que acha que a sua fé se distingue de todas as outras, por ser a verdadeira.

Supõem-se que os humanos, desde os primórdios, pós-revolução cognitiva, acreditavam que os animais, as plantas, o Sol, a Lua e as estrelas tinham espíritos, e era necessário apaziguá-los. Assim surgiu o desenvolvimento religioso. Da mesma forma, grande parte da mitologia antiga foi um contrato em que os humanos prometem a devoção eterna aos deuses em troca do domínio de plantas e animais. Acreditavam em histórias sobre deuses grandiosos e erguiam templos ao deus de sua preferência, organizavam festivais em sua homenagem, ofereciam-lhe sacrifícios e davam-lhe dízimos e presentes.

A liturgia religiosa consistiu, principalmente, em humanos sacrificando cordeiros, bezerros e cabritos, e ofertando-os com pão e vinho aos poderes divinos, que, por sua vez, prometiam colheitas abundantes e rebanhos fecundos. Pode-se entender que uma religião é um sistema de normas e valores humanos que se baseia na crença de uma ordem sobre-humana. O domínio das plantas e dos animais e o inventar e contar estórias foram os catalisadores que permitiram aos homens criarem as religiões? O surgimento da ficção foi capaz de criar realidades imaginadas muito diferentes, que se manifestavam em diferentes normas e valores?

Uma realidade imaginada é algo em que muitos acreditam e, enquanto essa crença partilhada persiste, a realidade imaginada exerce influência no mundo. Toda cooperação humana em grande escala baseia-se, em última análise, na nossa crença em ordens imaginadas. São conjuntos de regras que, a despeito de só existirem na nossa imaginação, acreditamos serem tão reais e invioláveis quanto a gravidade. “Se você sacrificar dez touros ao deus-céu, a chuva virá; se você honrar seus pais, irá para o céu; e se não acreditar no que estou lhe dizendo, irá para o inferno.” Enquanto todos os humanos que habitam um determinado lugar acreditarem nas mesmas histórias, todos seguirão as mesmas regras, o que facilitará prever o comportamento de estranhos e organizar redes de cooperação massiva.

Humanos governam o mundo porque são capazes de uma teia intersubjetiva de significados: uma teia de leis, forças, entidades e lugares que existem unicamente em nossa imaginação comum. Todas as sociedades de homens acreditam nisso. Toda sociedade diz a seus membros que eles devem obedecer a alguma lei moral sobre-humana e que violá-la resultará em uma catástrofe. Muitos acreditam que a religião é uma ferramenta utilizada para preservar a ordem social e organizar uma cooperação em grande escala.

Alguns conceitos de alguns pensadores sobre a religião:

 

“A religião é um sentimento ou uma sensação de absoluta dependência.” – Friedrich Schleiermacher (teólogo e filósofo alemão, 1768-1834).

 

“Religião significa a relação entre o homem e o poder sobre-humano no qual ele acredita ou do qual se sente dependente. Essa relação se expressa em emoções especiais (confiança, medo), conceitos (crença) e ações (culto e ética).” – Cornelis Telê (teólogo holandês, 1830-1902).

 

“A religião é a convicção de que existem poderes transcendentes, pessoais ou impessoais, que atuam no mundo, e se expressam por insight, pensamento, sentimento, intenção e ação.” Helmuth von Glasenapp (indólogo alemão, 1891-1963).

 

“Não há religião sem linguagem, e a linguagem é cultura. A religião dá a uma cultura seu conteúdo último, e a cultura dá à religião sua linguagem própria.” Raimon Panikkar (sacerdote católico romano, teólogo e filósofo espanhol, 1918-2010).

 

“A religião é criada por humanos, e não por deuses, e é definida por sua função social, e não pela existência de deidades. É qualquer coisa que confira legitimidade sobre-humana a estruturas sociais humanas. A religião legitima normas e valores humanos ao alegar que eles refletem leis sobre-humanas. Também afirma que nós humanos somos sujeitos a um sistema de leis morais que não foi inventado por nós e que não podemos mudar.” Yuval Noah Harari (historiador – 1976).

 

Rudolf Otto (teólogo e filósofo alemão, 1869-1937), em sua obra A ideia do sagrado, cita que o sagrado, ou aquilo que é totalmente diferente de tudo o mais e que, portanto, não pode ser descrito em termos comuns, é o alicerce das religiões. É o “misterium tremendum et fascinosum” (mistério tremendo e fascinante).

 

O sociólogo Émile Durkheim, em sua obra As formas elementares da vida religiosa (1815), definiu a religião como “um conjunto unificado de crenças e práticas relativas às coisas sagradas”, capaz de criar elos sociais entre os indivíduos. Esse sistema unificado de crenças e práticas é um sistema de símbolos que opera, como um “manto sagrado” que confere sentido à vida social e individual. O “sagrado” refere-se à presença de um poder misterioso que se crê habitar determinados objetos, pessoas e lugares e que se opõe à morte e ao caos. Pode também se dar enquanto experiência interna e contemplativa, dentro do próprio ser (experiência mística).

Leandro Karnal (brasileiro, historiador e cientista das religiões) diz que a religião é a resposta para o que não conseguimos responder. Ela oferece consolo para todos.

Em síntese, as religiões pressupõem um ou mais deuses, e os termos deus ou deuses são usados de muitas maneiras: há interpretações metafísicas do termo e, segundo algumas dessas interpretações, deus é um ser, ou seres, que tem uma propriedade especial ou uma relação única com as outras coisas. Por exemplo, pode ser ou podem ser definidos como uma causa primeira, ou como um ser necessário que tem a sua necessidade por si mesmo, ou como o ser que é puro ato, ou como o ser cuja essência é idêntica à sua existência. O deus monoteísta, como alternativa, pode ser concebido de uma maneira metafisicamente mais austera, sendo possível sustentar que deus é o antes do fundamento do ser, ou o próprio ser. “E disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel, Eu Sou me enviou a vós.” (Êxodo 3, 14).

Nas religiões existe sempre a ideia de uma força ou um poder que regula todos os relacionamentos na vida humana e na natureza. A base comum de todas é a sua função, a oferta da salvação.

Sob o aspecto histórico, nenhuma das principais religiões hoje existentes remonta ao começo da história humana. Passou-se muito tempo até o monoteísmo ter aparecido em cena. As mais antigas religiões eram politeístas, e o monoteísmo parece ter nascido em apenas dois lugares – Israel e Egito. Mesmo hoje, a maioria das religiões não é monoteísta, mas a maioria dos humanos é. Precisamos sempre avaliar a religião na vida humana sob os pontos de vista da crença, experiências, linguagem, rito e organização.

Não vou aqui esgotar o tema, nem o abordar de forma a envolver toda a sua complexidade, não sou suficientemente competente. Talvez elabore um amontoado de ideias razoavelmente organizadas.

Meu conceito sobre religião está sustentado em duas considerações: por não se saber se viver tem algum significado, algum objetivo, alguma importância, temos a necessidade de estabelecer um sistema de crenças e aí se insere a religião e todos os mitos sobre o estado após a morte, sobre recompensa e punição. As religiões buscam construir a coisa em si segundo as leis do fenômeno. Considero, também, que, percebendo esse estado de necessidade humana, surgem as instituições, que estabelecem poderes econômico, político e de controle social. O homem é divino, faz parte da Criação, como cocriador. E aí se torna ambivalente, fica fascinado e temeroso, é motivado e se defende. Esse é um aspecto da dificuldade do homem, o de ser verme e deus. O homem é, segundo Sören Kierkegaard (teólogo e filósofo dinamarquês, 1813-1855), uma síntese de finito e infinito, e por ele ser essa síntese, quer alçar voos mais altos. Traz em si a marca transcendental, não se conforma com a sua finitude, busca rebelar-se contra a sua condição de ser apenas mais um indivíduo no meio da multidão. O homem precisa crer em um ente sobre-humano, sobrenatural, uma divindade, senão enlouquece.

 

As maiores religiões no mundo e no Brasil

De acordo com The World Factbook, uma publicação anual da Central Inteligentes Agency – CIA – dos Estados Unidos, com dados de 2012, os sistemas religiosos e espirituais com maior número de adeptos em relação à população mundial são o cristianismo (28%); o islamismo (22%); o hinduísmo (15%); o budismo (8,5%); pessoas sem religião (12%) e outras denominações (14,5%).

Segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil  87% da população é cristã – 65% declararam-se católicos e 22% evangélicos. O país é o maior do mundo em números de seguidores católicos, embora tenha havido um encolhimento de 12%. Entre esses 22% existem muitas  denonimações, e a maior é a Assembleia de Deus, com 12 milhões de fiéis. Estima-se mais de quatrocentas denominações em todo o país. Pesquisa do Datafolha, em 2016, traz novas informações: 50% declararam-se católicos, 29% evangélicos, 14% sem religião, e 7% outras religiões.