Sikhnismo e o Guru Granth Sahib

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O sikhismo tem origem da palavra sikh, que vem da raiz em sânscrito sisya, e significa discípulo ou aprendiz. É a quinta maior religião do mundo, com aproximadamente 27 milhões de praticantes. A maioria vive na região do Punjab da Índia ou do Paquistão. Foi fundada no século XV pelo guru Nanak Dev (1469-1538) e é baseada em seus ensinamentos e nos de outros nove gurus sikh que se seguiram a ele. O guru Nanak nasceu em uma época na qual os hindus e os muçulmanos estavam em uma situação de conflito. Ele foi influenciado por homens considerados santos, dos ramos místicos bhakti do hindu e sufi do islâmico, resultado de um sincretismo entre elementos do hinduísmo e do islamismo e sufismo na religião dos sikhs. Nanak e aqueles que se seguiram a ele rejeitaram o sistema de castas hindu e se empenharam muito para erradicá-lo.

Antes de fundar a crença, houve um tempo que Nanak desapareceu e retornou contando que tinha sido levado até a presença de Deus, que o inspirou.

O sikhismo acrescenta uma definição muito específica à palavra guru – a descida de orientação divina para a humanidade por meio de dez iluminados.  É a combinação de duas palavras “gu” e “ru”. Gu significa escuridão e ru, luz. Os sikhs dizem que guru significa “a luz que dissipa as trevas”.

Depois da morte do décimo guru, Gobind Singh, em 1708, as escrituras sagradas sikh foram chamadas de Guru Granth Sahib, texto que foi compilado pelo quinto guru, Arjan Dev Ji. Os ensinamentos são praticados de três formas: cantando o Nome Sagrado e, assim, lembrando-se de Deus em todos os momentos; ganhando a vida honestamente e compartilhando com outros; e ajudando os necessitados. Acreditam que Deus foi autocriado e está em tudo e em todos os lugares. Negam a realidade dos anjos e demônios; não há conceito de recompensa e punição divinas, como paraíso e inferno. Os fiéis devem adorar e orar somente para o Deus único.

Os cinco Ks são fundamentos de sua fé: o primeiro, kesh, é cabelo sem cortar, mantido muito limpo e considerado uma dádiva de Deus; os outros são kangha, kirpan, o kara e kachs. Este último são cuecas curtas amarradas com um cordão para permitir a facilidade de movimentos na batalha. A vestimenta também simboliza pureza e modéstia e é um lembrete da necessidade de permanecer fiel às suas esposas. Os sikhs acreditam em reencarnação (samsara) e que os destinos da vida são determinados pelo acúmulo de obras boas e más, o carma, assim como no hinduísmo. Confiam que, por meio da graça de Deus e pela contemplação e repetição constantes de Seu nome, pode-se ser libertado do ciclo de nascimento e morte. Essa salvação não significa entrar no paraíso após o último julgamento, mas uma união e absorção em Deus. Ela é alcançada por meio do batismo (o batismo sique é realizado pela ingestão da água benta preparada durante a recitação de hinos), uma vida de honestidade, meditação em Deus, ter fé, recitar o nome de Deus, evitar distrações mundanas e lembrar-se de Deus em cada momento possível. Diz-se que a salvação e a espiritualidade vêm para aqueles não afetados pela felicidade, dor, orgulho, ganância e apego emocional, que tratam a pobreza e riqueza da mesma forma, que não reagem à dor ou ao prazer, que tratam bem os amigos e inimigos.
Os devotos devem meditar para progredir na direção da iluminação.

O símbolo mais largamente reconhecido do sikhismo é o turbante usado pelos homens, que representa disciplina, integridade, humildade e espiritualidade, e é obrigatório.

O templo dos sikhs é o Gurdwara (a porta do guru). O principal Gurdwara é o Harimandir Sahib, na cidade de Amrtisar, na Índia.

 

Guru Granth Sahib, o livro Guru

O livro sagrado dos sikhs, o Guru Granth Sahib é considerado o décimo-primeiro e último Guru, considerado como sendo o definitivo e soberano. Ele é a mais alta autoridade espiritual no sikhismo e é tratado como se fosse um guru vivo. Trata-se de um texto composto por 1.430 páginas, que reúne 5.200 hinos – shabads ou baani – e 400 dísticos (versos com duas linhas) de autoria dos gurus sikhs, dos santos-poetas e dos sufís islâmicos, que descrevem as qualidades de Deus. Foi compilado durante o período dos gurus sikhs humanos, de 1469 a 1708. O Adi Granth, como é conhecida a versão inicial do texto, foi inicialmente compilado pelo sexto guru, Arjan (1563-1606), com hinos dos primeiros cinco gurus e outros homens santos – ou bhagats. Gurinder Singh Mann, o décimo guru, adicionou ao Adi Granth os 115 hinos compostos pelo guru Tegh Bahadur.

A língua na qual está registrado o Guru Granth Sahib é uma mistura de dialetos falados no norte da Índia no período medieval, cujo nome é Sant Bhasha (Língua Sagrada). Os gurus sikhs usaram a língua punjabi em muitos de seus hinos, mas, tal como os outros colaboradores, eles também usaram elementos do apabhramsha (um dialeto do sânscrito), a braj bhasha (a língua da região Braj), a hindi (a língua falada em Delhi). Portanto, um rico repertório de dialetos que eram prevalecentes no norte da Índia medieval. Quanto ao alfabeto, os manuscritos sikhs foram registrados em gurumukhi (literalmente, “da boca do guru”). A escrita já existia numa forma elementar antes que os sikhs apropriassem dela para registrar seus escritos e, durante o processo, modificaram as formas de diversos de seus caracteres e desenvolveram um complexo sistema para o seu uso.

O Livro está dividido musicalmente em ragas, em duas seções: a introdutória, que consiste em Mul Mantra, Japji e Sohila, compostas pelo Guru Nanak; e a das composições dos outros gurus sikhs, e pelas dos bhagats, coletadas de acordo com a cronologia dos ragas. A palavra raga refere-se a emoção ou modo produzido pela combinação e pela sequência de tons. Uma raga é composta por uma série de motivos melódicos. Nos templos o Livro é posto em um trono (takht),  é carregado na cabeça como sinal de respeito e jamais tocado com as mãos sem lavar.

A primeira cópia impressa do Guru Granth Sahib foi feita em 1864, e a primeira tradução, feita em inglês e punjabi foi publicada em 1960. Em 1962, uma tradução em oito volumes foi publicada pelo Shiromani Gurdwara Parbandhak Committee.

Max Arthur Macauliffe, escritor inglês que traduziu o livro “Guru Granth Sahib” para o inglês, escreveu sobre as escrituras:

“A religião sique difere-se no que tange à autenticidade de seus dogmas, comparados aos de outros sistemas teológicos. Muitos dos grandes mestres que o mundo conheceu jamais deixaram uma linha de lavra própria e só sabemos o que eles ensinaram através da tradição ou de informações de segunda mão. Nós somente conhecemos os ensinamentos de Sócrates pelos escritos de Platão e Xenofonte. Buda não deixou memorial escrito daquilo que ensinou. Confúcio não deixou documentados por ele mesmo os princípios de seu sistema moral e social. O fundador da Cristandade não redigiu suas doutrinas e para ter acesso a elas devemos acreditar nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João. O profeta Maomé não escreveu ele mesmo os capítulos do Alcorão. Elas [as obras] foram escritas ou compiladas por aderentes ou seguidores.

O Guru Granth Sahib, o livro-guru.

O zelo na publicação do Guru Granth Sahib

O cuidado dos sikhs pela preservação da fidelidade da redação do seu livro sagrado é tão minucioso que a tarefa de o publicar é uma exclusividade da comunidade sikh. Ninguém pode traduzi-lo ou editá-lo sem a expressa autorização do Shiromani Gurdwara Parbandhak Committee, um órgão responsável pela administração dos Gurdwaras (templos sikhs) e por outros assuntos da comunidade sikh.

O cuidado com a preservação da redação é também rigoroso, nada pode ser alterado ou omitido no texto, quer seja nas frases, nas palavras, na pontuação, na gramática, no significado, tampouco pode haver a troca por sinônimos.

 

A admiração pelo Livro Guru Granth Sahib

O zelo dos sikhs pela sua escritura sagrada é incomparável. Todo devoto deve aproximar-se do Guru Granth Sahi com a cabeça coberta e os pés descalços, bem como curvar-se, em algumas ocasiões tocando a testa no chão, em sinal de reverência. Quer num Gurdwara público ou doméstico, o livro tem de ser colocado numa posição central, na qual permaneça como o principal objeto de veneração no templo. Não pode ser colocado num local onde exista um piso superior, pois ninguém pode caminhar acima do livro sagrado. Durante os cultos, todos os devotos, exceto o granthi (leitor), devem permanecer sentados no chão, uma vez que ninguém pode permanecer com a cabeça numa altura superior à do livro sagrado. Assim também, quando está sendo transportado, ele tem que ser levado sobre a cabeça em cima de um pano de seda (rumala) ou de uma almofada.

No interior do Gurdwara (nome dado ao templo sique) existe uma série de exigências, zelos e protocolos para o seu uso e leitura. O livro sagrado é colocado no centro da gurdwara, com todos os atributos de realeza, sobre uma luxuosa plataforma (manji sahib) ou trono (takht), coberta por um ornamentado dossel (palki sahib), cercado por ricas cortinas dos quatro lados. Durante o ato de leitura do Guru Granth Sahib, em cerimônias públicas, um devoto abana o livro com um abanador (chaur) para limpar o ar e protegê-lo de insetos e da poeira.

Em geral o culto sikh termina com a abertura ao acaso do livro em uma página, e a leitura do hino encontrado no topo da página esquerda que foi aberta.