Velho Testamento

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O Velho Testamento

A Bíblia é um livro de fé, de história, um guia espiritual que fornece princípios morais e leis sociais, textos de profetas e de suas profecias. Milhões de pessoas no mundo a consideram como as palavras de Deus.

As inúmeras traduções, interpretações, censuras e revisões certamente comprometeram a sua versão original. Na tradução aparentemente literal dos textos bíblicos, tida como fiel, oculta-se antes uma tradução da experiência grega para uma espécie diferente de pensamento. O pensamento romano se apropriou das palavras gregas sem a experiência correspondente, igualmente original, do que diz a palavra grega. A falta de base do pensamento ocidental começa com essa tradução. Portanto, o Antigo Testamento, escrito nos idiomas aramaico, hebraico e grego, e ensinado por tradições orais, foi traduzido e reescrito diversas vezes, para outras línguas, entre elas o grego, o latim, e posteriormente para o inglês, o francês e o alemão, muito recentemente. Martinho Lutero a traduziu no ano de 1521.

O Velho Testamento é a primeira parte da Bíblia cristã, constituída pelos livros escritos a partir de XV a.C. até o nascimento de Cristo, na época de Herodes (73-4 a.C.), o Grande, rei da Judeia. Há muitos elementos humanos nos textos e não se sabe quem agrupou e montou os livros.

Em Qumarn, um sítio arqueológico localizado na Cisjordânia, próximo da margem noroeste do Mar Morto, a 12 quilômetros de Jericó e a cerca de 22 quilômetros de Jerusalém, no ano de 1947, em uma caverna, foram descobertos jarros de argila contendo pergaminhos escritos à mão, os Manuscritos do Mar Morto. Os papiros contêm fragmentos dos trinta e nove livros do chamado Velho Testamento, e estão escritos em três idiomas, aramaico, hebraico e grego. Talvez seja a versão mais antiga do Velho Testamento conhecida. Eu tive a oportunidade de conhecer esses manuscritos em uma exposição na cidade americana de New York.

No Velho Testamento existem contradições nas histórias contadas, muitas delas duas vezes. A batalha do rei Davi e o filisteu Golias, por exemplo. Em 1 Samuel 17, 49-50, Davi matou Golias acertando-lhe a cabeça com uma pedra. No versículo seguinte, o 51, Davi matou Golias com uma espada. No livro 2 Samuel 21, 17 diz que foi Abisai, filho de Zeruia, e não Davi, quem matou Golias.

Outro exemplo, é o de Isaias 7, 14, em que, na versão em hebraico, Jesus nasceu de uma mulher: “… Eis que a jovem mulher concebera e dará à luz um filho …”. Na tradução do hebraico para o grego, foi acrescentada a palavra “virgem”, e nasceu uma tradição diferente.

Além de muitas contradições nos livros bíblicos anteriores a Cristo, também há a proibição de se usar dois tecidos, como seda e lã; a exigência de uma mulher menstruada se afastar e somente retornar após ser purificada; a possibilidade de apedrejar pessoas e a pregação da violência, o que causa muita estranheza.

O Velho Testamento tem trinta e nove livros deuteronômios, encontrados em livros católicos e evangélicos e em versões ecumênicas. Muitos desses livros não foram escritos por um único autor e parte deles foram, a princípio, transmitidos oralmente, depois escritos e reescritos, como já foi dito. Esses livros dividem-se em Pentateuco (pelos judeus é chamado de Torah ou Lei Escrita), que é composto por cinco livros; Gênese, Êxodo e Números, os três escritos entre 1000 e 400 a.C.; Deuteronômio, entre 720 e 400 a.C.; e Levítico, entre 580 e 400 a.C.

Livros do Pentateuco

Os primeiros onze capítulos do Gênese relatam os acontecimentos que precederam a eleição de Abraão, desde a criação até o dilúvio e a Torre de Babel. A redação desses capítulos do primeiro livro bíblico é mais recente que outros textos do pentateuco (os quatro primeiros livros da lei – Torah). É sabido que os hebreus não se interessavam pela história das origens, que narra os acontecimentos míticos do primordium.

A fonte mais antiga, javista (século X ou IX a.C.), chama Deus de Javé. A eloísta, mais recente, utiliza o nome de Elohim.

Na abertura do Gênese, Deus criou o Céu e a Terra, que estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo e um vento de Deus pairava sobre as águas (um oceano primordial).

A criação, ou seja, a organização do caos é efetuada pelo poder da palavra de Deus: “Haja luz”, e houve luz.

Esse relato bíblico apresenta uma estrutura: criação pela palavra (a palavra criadora dos deuses é atestada em outras tradições, entre os egípcios e os polinésios); um mundo que é bom; a vida, animal e vegetal, igualmente boa e abençoada por Deus; a obra cosmogônica (pertencente ao corpo de doutrinas, princípios – religiosos, míticos ou científicos – que se ocupa em explicar a origem) é coroada pela criação do homem – “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que ele domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais …” (Gênese 1, 26).

A vida é penosa, apesar de ter sido abençoada por Deus. Os homens não habitarem o paraíso é resultado de erros e pecados de “âdâm” (o homem é o resultado de seus próprios atos). Deus não tem responsabilidade alguma nessa deterioração de sua obra-prima.

Javé modelou o homem com argila do solo e animou-o insuflando “em suas narinas um hálito de vida” (quanto à formação do primeiro homem com argila, o tema era conhecido na Suméria – sul da Mesopotâmia, onde atualmente se localiza o Iraque e o Kuwait). Plantou um jardim em Éden, fez brotar todas as espécies de “árvores boas” e instalou o homem no jardim. Em seguida, Javé deu forma aos animais e às aves, sempre com argila, levou-os a Adão e este lhes deu nomes (traço das reflexões a respeito do sentido abrangente do ser –, arcaicas; os animais e as plantas passam a existir a partir do momento em que lhes dão nomes). Finalmente, depois de fazer o homem adormecer, Javé tirou uma de suas costelas e formou uma mulher, que recebeu o nome de “hawwâh” (Eva).

O relato javista não opõe o “caos” aquático ao mundo das “formas”, que era deserto e com vida e vegetação secas.

O jardim do Éden, com o seu rio que dividia em quatro afluentes e levava a vida às quatro regiões da Terra e as árvores que Adão devia guardar e cultivar, lembra o imaginário mesopotâmico (é provável que o relato utilize certa tradição babilônica – a Babilônia ficava na região centro-sul da Mesopotâmia). O mito de um paraíso original, habitado pelo homem primordial e o mito de um lugar paradisíaco, dificilmente acessível aos seres humanos (o centro do mundo), eram conhecidos além do Eufrates e do Mediterrâneo, portanto possivelmente copiado pelos hebreus.

No meio do jardim elevavam-se a árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal (Gênese 2, 9). Javé deu ao homem o seguinte mandamento: “Podes comer de todas as árvores do jardim. Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás, porque no dia em que dela comeres terás de morrer.” (Gênese 2, 16-17). Destaca-se dessa proibição o “valor existencial do conhecimento”. Entretanto, a serpente conseguiu tentar Eva. Temos, em síntese, uma imortalização malograda, como a de Gilgamesh.

Deus pôs o casal para fora do paraíso e condenou-o a trabalhar para viver. O fracasso de Adão foi uma punição justificada: sua desobediência denunciava o seu orgulho, o desejo de assemelhar-se a Deus.

Segundo os autores dos capítulos 4 a 7 do Gênese, o pecado original (esse primeiro pecado) não só acarretou a perda do paraíso e a transformação da condição humana, mas tornou-se de algum modo a fonte de todas as desventuras que se abateram sobre a humanidade.

Eva deu à luz Caim, que cultivava o solo, e Abel, pastor de ovelhas. Quando os irmãos ofereceram o sacrifício de gratidão – Caim, produtos do solo, e Abel, do seu rebanho –, Javé acolheu a oferenda de Abel, mas não a de Caim (a oposição entre lavradores e pastores), que se lançou sobre o irmão e o matou (Gênese 4,8).

O primeiro assassinato é, portanto, cometido por aquele que encarna o símbolo da tecnologia e da civilização urbana, pois Caim significa “ferreiro” (senhor do fogo).

O dilúvio foi o acontecimento marcante: “Javé viu que a maldade do homem era grande sobre a Terra, e que era continuamente mau todo o desígnio do seu coração.” (Gênese 6, 5). Deus arrependeu-se (o arrependimento do criador, onisciente?) de ter criado o homem e decidiu acabar com a sua espécie. Apenas Noé, sua mulher e seus filhos (Sem, Cã e Jafé), acompanhados das respectivas esposas, seriam salvos. “Noé era um homem justo, … e andava com Deus.” (Gênese 6, 9).

O zigurate (uma forma de templo, criada pelos sumérios e comum para os babilônios e assírios, pertinente à época do antigo vale da Mesopotâmia e construído na forma de pirâmides terraplanadas), segundo o que se pensava, tinha sua base no umbigo da Terra e o cume no Céu. Ao galgar os andares de um zigurate, o rei ou o sacerdote chegavam ritualmente ao Céu.

Os redatores do Gênese conservaram toda uma mitologia de tipo tradicional: ela começa com a cosmogonia e a formação do homem, evoca a existência paradisíaca dos antepassados, relata o drama da “queda”, com suas consequências fatais (mortalidade, obrigação de trabalhar para viver etc.), recorda a degenerescência progressiva da primeira humanidade, a qual justifica o dilúvio, e conclui com um último episódio, a perda da unidade linguística e a dispersão da segunda humanidade, pós-diluviana, consequência de um novo projeto. Explora a origem do mundo e, ao mesmo tempo, a atual condição humana.

O décimo segundo capítulo do Gênese introduz o leitor em um mundo religioso novo. Javé diz a Abraão (o nome Javé somente foi revelado por Moisés, portanto posterior a Abraão): “Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, vai para a terra que te mostrarei. Eu farei de ti um grande povo, eu te abençoarei, engrandecerei teu nome; sê uma benção! Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei os que te amaldiçoarem. Por ti serão benditos todos os clãs da Terra” (Gênese 12, 1-3).

Abraão é escolhido de Deus para se tornar o ancestral do povo de Israel e tomar posse de Canaã. Assim começa a história da religião de Israel, relatada entre os capítulos 46 e 50 do Gênese, no Êxodo e no livro dos Números.

Trata-se de uma série de acontecimentos, em sua maioria provocados diretamente por Deus. Os mais importantes são a instalação de Jacó e seus filhos no Egito; a perseguição desencadeada alguns séculos mais tarde, por um faraó que ordenou o extermínio dos primogênitos dos israelitas; as peripécias de Moisés depois de haver matado um soldado egípcio que moía de pancadas um de seus irmãos –  especialmente sua fuga no deserto de Mediã, a aparição da sarça de fogo (seu primeiro encontro com Javé), a missão, que lhe foi dada por Deus, de tirar seu povo do Egito e a revelação do nome do divino –; as dez pragas provocadas por Javé para forçar o consentimento do faraó; a partida dos israelitas e sua passagem do mar dos Caniços, cujas águas submergiram os carros e os soldados egípcios que os haviam perseguido; a manifestação de Deus sobre o monte Sinai, a aliança estabelecida por Javé com o seu povo, acompanhada de instruções relativas ao conteúdo da revelação e ao culto; finalmente, os 40 anos de marcha sobre o deserto, a morte de Moisés e a conquista de Canaã sob o comando de Josué.

Há um esforço dos estudiosos para dissociar os elementos históricos dessas narrativas dos mitos e folclores (milagres como as dez pragas ou a travessia do mar dos Caniços não podiam ser considerados acontecimentos históricos). Não se conseguiu recuperar a historicidade de certos acontecimentos de importância para a religião de Israel.

O Deus dos hebreus é um deus dos nômades, que não está ligado a um santuário, mas a um grupo de homens, a quem acompanha e protege. O javismo nasce num meio de pastores e se desenvolve no deserto.

Pensava-se que Moisés tivesse sido o principal escritor dos livros do Pentateuco, tendo o relato de sua morte sido escrito por Josué. Porém, com os avanços dos estudos a partir do século XVIII, observou-se que os livros tinham inúmeros estilos literários e que as tradições e as teologias eram bastante distintas. As tradições a que nos referimos são a sacerdotal, a deuteronômica, a javista (dá a Deus o nome de Iahweh – Javé, e que se originou provavelmente no tempo de Salomão, em torno de 950 a.C., em Jerusalém), a eloísta (dá a Deus o nome de Elohim  e nasceu por volta de 750 a.C., no reino do Norte, depois que o reino unido de Davi-Salomão se dividiu em dois; é muito marcada pela mensagem de profetas como Elias e Oseias), e outras. Os livros do Pentateuco foram iniciados em períodos diferentes, em que existiam múltiplas tradições.

Os escritos começaram no período monárquico (os reinos de Judá e de Jerusalém, cada um governado por dezenove reis, por 200 e 400 anos, respectivamente) e receberam uma versão final no período persa (século V), nos tempos de Esdras e Neemias (livros reconhecidos pela Bíblia judaica).

O Gênese, como já mencionado, é o livro cosmológico da Bíblia. Narra como tudo o que existe começou, ilustra como Deus escolheu Abraão e o povo judeu, sobre seu filho Isaque, Jacó, o filho de Isaque, e sobre os doze fundadores da tribo de Israel.

Segundo a teologia cristã, o livro se divide em:

1.A criação – capítulos 1 e 2.

2.A história de Adão e Eva e de seus descendentes – capítulos 2, 4 até 6, 1-11.

3.A história de Noé (Torre de Babel) – capítulos 6, 1-11 até 12.

4.A história de Abraão – capítulos 12 até 20.

5.A história de Isaque – capítulos 21 até 26.

6.A história de Jacó – capítulos 27 até 36 e 49 e 50.

7.A história de José – capítulos 37 até 48, e 50.

Os capítulos 1, 2 e 3 são uma introdução a história da humanidade. O capítulo 4, a história do povo hebreu, e os capítulos 5, 6 e 7, a história de uma etnia.

A cópia mais antiga conhecida do Gênese é de 970 (Idade Média). A autoria do livro é atribuída a Moisés, no idioma acadiano (idioma do povo que vivia na Península do Sinai).

No livro a prosa é dominante – é um texto escrito em parágrafos, direto, livre, em linha reta, sem metrificação e não sujeito a ritmos regulares. Atribui-se a repetição de alguns versículos a uma forma de ensinar.

Quanto à autoria do livro a Moisés, há que se falar na Hipótese documentária ou Crítica das fontes, segundo a qual os cinco primeiros livros do velho Testamento são resultado de uma composição a partir de quatro fontes principais: eloísta, javista, sacerdotal e deuteronomista, ou seja, entendido como escolas literárias e não como indivíduo, no caso, Moisés.

A fonte Javista, que contém relatos de diversas épocas diferentes, é original de Judá, no sul do antigo Israel, e em geral atribui a Deus o nome de Yahweh. Já a fonte Eloísta, que também contém relatos de diversas épocas diferentes, é original de Efraim, no norte do antigo Israel, e em geral trata Deus com o nome de Elohim. Ambas as fontes contêm documentos tão antigos quanto o próprio surgimento do hebraico enquanto língua gramaticalmente estruturada, por volta do século X a.C.

A fonte Deuteronomista, que provém dos círculos ligados ao ensino doutrinário, contém longos discursos e princípios reguladores, e está espalhada pelos Nebiim – livros dos últimos profetas –, além do Deuteronômio e do restante da Torah. Usa fontes literárias tanto do norte quanto do sul de Israel, principalmente do norte, mas seu fechamento redacional ocorreu no sul, por volta do período do exílio, entre 597 e 538 a.C.

A fonte Sacerdotal é a fonte dos escritos elaborados pelos membros dos grupos de sacerdotes que estiveram grandemente envolvidos no processo de compilação tardia ou final dos escritos bíblicos, que chamamos de Antigo Testamento ou Tanakh, a Bíblia Hebraica. É uma fonte original do sul de Israel, e sua datação é próxima do período pós-exílio (a partir de 445 a.C.).

As implicações dessa teoria vêm de descobertas arqueológicas que contradizem seus argumentos básicos. Por exemplo, Julius Wellhausen postula uma transmissão oral desde o período dos patriarcas, mas a reavaliação das descobertas feitas em Nuzi questionaram a historicidade dos patriarcas, o que empurra as fontes Javista e Eloísta para períodos tardios ou, até mesmo, são questionadas suas existências.

A teoria sustenta que o Pentateuco não foi escrito por Moisés e muito menos no seu tempo, mas sim cerca de quinhentos a mil anos após sua morte.

Há que se falar também no Enuma Elish, o mito da criação mesopotâmica. O mito conta a história da vitória do deus Marduque sobre as forças do caos e o estabelecimento da ordem na criação do mundo e data de aproximadamente 1750 a.C.

As sete tábuas de argila foram descobertas por Austen Henry Lavard, em 1849 (em forma fragmentada), nas ruínas da Biblioteca de Assurbanípal, em Nínive (atual Mossul, Iraque). Tem cerca de mil linhas escritas em babilônico antigo, cada uma com cerca de 115 a 170 linhas de texto. A maior parte do Tablete V nunca foi recuperada e, com exceção dessa lacuna, o texto está completo, principalmente porque uma cópia duplicada do Tablete V foi encontrada em Sultantepe, antiga Huzirina, localizada perto da atual cidade de Sanliurfa, na Turquia.

Esse épico é uma das fontes mais importantes para a compreensão da cosmovisão babilônica, centrada na supremacia do deus Marduque e da criação da humanidade para o serviço dos deuses. Seu principal propósito original é a elevação de Marduque, o deus chefe da Babilônia, acima de outros deuses da Mesopotâmia.

A versão da Biblioteca de Assurbanípal data do século VII a.C. A composição do texto, provavelmente, remonta aos tempos de Hamurabi, ou talvez o início da era cassita (cerca de século XVIII a XVI a.C.), embora alguns estudiosos favoreçam uma data posterior a 1100 a.C.

Dadas as suas enormes semelhanças com a narração bíblica do Gênese, várias discussões têm surgido sobre o ambiente literário que influenciou ambas as narrativas. Para a cultura babilônica, o Enuma Elish explica a origem do poder real, a sua natureza, a permanência da instituição e a sua legitimidade. A realeza humana e terrena têm a sua origem na realeza divina. A divindade continua a ser o verdadeiro rei e o modelo a ser imitado pelo rei terreno. A existência de um modelo divino impõe limites à realeza humana.

Quando os sete tabletes foram descobertos, as evidências indicavam que eles foram usados em um “ritual”, significando que eram recitados durante uma cerimônia ou comemoração. Essa festa é agora conhecida como o festival de Akitu, ou o ano novo babilônico. Fala da criação do mundo e do triunfo de Marduque sobre Tiamat, e como se relaciona com ele tornando-se o rei dos deuses.

O primeiro tablete começa:

Tábua I

Os vários deuses representam aspectos do mundo físico. Apsu é o deus da água doce e Tiamat, sua esposa, é a deusa do mar, do caos e da ameaça. A partir deles, vários deuses são criados. Esses novos deuses são demasiado tumultuosos e Apsu decide matá-los. Ea, também conhecido por Enqui, descobre o plano, antecipa-se e mata Apsu. Posteriormente, Danquina, esposa de Ea, dá à luz Marduque. Entretanto, Tiamate é despertada pelos filhos e, enraivecida pelo assassinato de seu marido, jura vingança e cria onze monstros para executar uma vingança. Tiamate se casa com Quingu e o consagra à frente de seu novo exército, planejando também que seja ele o novo governante dos deuses e reine sobre os Anunáqui.

Tábua II

As forças que Tiamat reuniu preparam-se para a vingança. Entretanto Ea descobre o plano e a confronta. Numa zona danificada da tábua é aparente a derrota de EaAnu a desafia, mas tem o mesmo destino. Os deuses começam a temer que ninguém será capaz de deter Tiamat.

Tábua III

Gaga, ministro de Assur, é encarregado de vigiar as atividades de Tiamat e de informar a vontade de Marduque, de a enfrentar.

Tábua IV

O conselho dos deuses testa os poderes de Marduque. Depois de passar o teste, o conselho entrega o trono a Marduque e encarrega-o de lutar com Tiamat. Com a autoridade do conselho, reúne as armas, os quatro ventos e ainda os sete ventos da destruição e segue para o confronto. Depois de prender Tiamat numa rede, liberta o Vento do Mal contra ela. Incapacitada, Marduque mata Tiamat com uma seta no coração, capturando os deuses e monstros aliados. Marduque divide o corpo de Tiamat, usando metade para criar a terra e a outra metade para criar o céu.

Tábua V

Marduque cria residências para os outros deuses. À medida que estes vão ocupando o seu lugar, vão sendo criados os dias, meses e estações do ano. As fases da Lua determinam o ciclo dos meses. Da saliva de Tiamat, Marduque cria a chuva. A cidade da Babilônia é criada sob a proteção do rei Marduque.

Tábua VI

Marduque decide criar os seres humanos, mas precisa de sangue para os criar. Apenas um dos deuses poderá morrer, o culpado de lançar o mal sobre os deuses. Marduque consulta o conselho e descobre que quem incitou a revolta de Tiamat foi o seu marido, Quingu. Mata-o e usa seu sangue para criar o homem, e que este sirva de criado dos deuses. Em honra a Marduque, os deuses constroem-lhe uma casa na Babilônia.

Tábua VII

Continuação do louvor a Marduque como chefe da Babilônia e a seu papel na criação. Instruções às pessoas para estas relembrarem os feitos de Marduque. Nesse louvor surgem os 50 nomes de Marduque.

São várias as similaridades entre a história da criação no Enuma Elish e a história da criação no Livro do Gênese, que descreve seis dias de criação, seguido de um dia de descanso. Já o Enuma Elish descreve a criação de seis deuses e a escravização do homem, para que os deuses tenham um dia de descanso. Em ambos a criação é feita pela mesma ordem, começando na luz e acabando no homem. A deusa Tiamat é comparável ao oceano no Gênese; a palavra hebraica para oceano tem a mesma raiz etimológica que Tiamat.

No épico Gilgamesh, o Éden (jardim) na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, é onde moravam os deuses. Uma parte dos deuses não quiseram mais trabalhar e então criaram os homens para trabalharem para eles. Porém, o trabalho dos homens fazia muito barulho e não permitia o descanso dos deuses. Veio o dilúvio para destruir os homens.

No mito da viagem de Utnapishtim à imortalidade, muito antes da época de Gilgamesh, Utnapishtim governou como rei e sumo sacerdote da cidade de Shuruppak. Ele foi escolhido pelo deus Enki para abandonar todas as suas posses e criar um navio gigante para sobreviver à iminente inundação que destruiria todas as plantas, animais e seres humanos. Pode-se ver semelhanças óbvias entre a vida de Utnapishtim e a história da Arca de Noé. Independentemente do dilema moral de ter que deixar seus vizinhos e amigos para morrer, Utnapishtim lealmente completou a tarefa que lhe foi imposta por Enki. Ele e sua esposa receberam a imortalidade e um lugar entre os deuses.

Retomando ao épico de Gilgamesh, em sua tristeza pela morte de Enkidu e pelo medo da morte inevitável que o aguardava, Gilgamesh estava ansioso para encontrar Utnapishtim. Ele acreditava que desde que foi dada a vida eterna a Utnapishtim, ele seria capaz de guiá-lo para a imortalidade também. Em sua busca por Utnapishtim, em um ponto de sua jornada, Gilgamesh acabou nos portões do submundo. Foi aí que ele conheceu Siduri, um taverneiro do submundo. Diferentes versões do épico dão diferentes relatos da interação entre Siduri e Gilgamesh. Também conhecida como a deusa da produção de vinho e fabricação de cerveja, Siduri fica bastante alarmada quando Gilgamesh ameaça esmagar a taberna se ela não o ajudar em sua busca. No começo, Siduri tenta conversar com Gilgamesh sobre sua busca pela vida eterna, uma missão que ela considerava difícil. Em última análise, ela o envia para Urshanabi, o barqueiro, cuja ajuda foi essencial para que ele tivesse sucesso em sua busca.

Quando Gilgamesh finalmente conhece Utnapishtim, este tenta convencer Gilgamesh a abandonar sua busca e viver uma vida feliz como um mortal.

Já o mito egípcio que retrata a criação do mundo é o da cidade de Iwnw, posteriormente batizada Heliópolis, pelos gregos. As fontes para esse relato são os chamados Textos das Pirâmides (datados de 2550 a.C.), e o capítulo 17 do livro dos mortos (livro datado de 1580 a.C.), que se chama “Capítulo para sair a luz do dia”.

A história se centra no papel do deus sol, Rá, como o criador e pai de todos os deuses egípcios. Isso está relacionado à visão da passagem do nascer ao pôr do Sol como um processo de renovação, e dos raios solares como um ato da criação divina.

De acordo com o mito, no início de tudo havia um oceano caótico, chamado Nun, e dele surgiu uma montanha, que foi o primeiro pedaço da terra, chamado de Ben BenDe Ben Ben surgiu Atum, e sua luz tomou o lugar da escuridão e da não existência. Depois, Rá tomou sua forma, se tornando Rá-Atum.Atum criou as outras divindades, cuspindo seus filhos e vomitando suas filhas. Um deles era o deus Shu, ligado ao ar atmosférico, e outra, sua irmã Tefnut, associada ao orvalho e à umidade. Da união de ambos nasceram outras duas divindades, Geb e NutGeb se transformou na Terra e Nut tornou-se o Céu.

Não querendo que seus filhos criassem novos deuses, Rá ordenou que seu filho Shu separasse os netos para que eles não mantivessem qualquer tipo de relação. Em obediência ao seu pai, Shu separou seus filhos, tornando-se o ar que respiramos, Nut virou o Céu que cobre o mundo, e Geb tornou-se a Terra na qual vivemos.

Ainda, considerando o atual estágio de conhecimento científico sobre a idade da Terra, foi criada uma teoria que deve ser comentada: a Teoria da Brecha, uma crença criacionista, que propõe que a terra mencionada no Gênese era habitada por seres angelicais, tendo como príncipe Lúcifer, um anjo de luz. Lúcifer rebelou-se contra Deus e, por causa disso, a terra teria sido duramente castigada, chegando ao estado caótico descrito em Gênese 1, 2: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas”. Nos versículos seguintes do livro, dá-se o início da restauração.

Êxodo conta sobre a escravização do povo judeu e a saída do Egito, onde viviam. Nesse livro são citadas as dez pragas enviadas ao Egito para que o povo fosse libertado. Após tantas adversidades, o faraó egípcio consentiu em libertar o povo judeu. O ápice dessa trajetória ocorre diante do Mar dos Caniços, quando Deus fala e ordena a Moisés tocar com o cajado no mar para que ele se abrisse e o povo passasse, que era perseguido pelo exército egípcio. Os judeus passaram a viver no deserto e nesse tempo surgem as leis da arca da Aliança.

Em 1600 a.C. os israelitas eram um pequeno grupo de nômades: Jacó, neto de Abraão, mais seus filhos, netos e as várias esposas de cada um. Na terra de Canaã viviam os jebuseus, gesuritas, jebedeus (tribos de cananeus, filisteus), cada um numa pequena cidade independente. A escravidão era a base da economia local e negociar escravos para fazerem o trabalho pesado permitia a manutenção de um exército de cidadãos do império. Então, os judeus que viveram por 400 anos no Egito não foram todos escravizados, somente alguns; não se trata do êxodo do povo inteiro, mas apenas de um grupo, aquele conduzido por Moisés. Outros grupos já tinham iniciado a conquista mais ou menos pacífica em Canaã.

O povo egípcio era urbano, vivia em cidades ao longo das margens do rio Nilo, como Mênfis, Tebas, Heliópolis. Do outro lado do mar, onde o rio desemboca, ficava a civilização Micênica, que daria origem à cultura grega.

Naquela época os israelitas cultuavam os deuses cananeus: El, Baal, Asherah. O Deus israelita, Javé, ganhou traços de El e de Baal. Embora o Antigo Testamento afirme ter havido um grande êxodo, ele foi de um grupo de escravos judeus.

O nome de Moisés, como os de outros membros de sua família, é egípcio. Contém o elemento msy, “nascido filho”, comparável a Amósis ou Ramsés (Ra-messés, “filho de Rá). Não está excluída a hipótese de Moisés ter tido conhecimento da reforma de Akhenaton (faraó egípcio, 1375-1350 a.C.), que substituía o culto de Amon pelo monoteísmo solar de Aton (Aton é proclamado o único deus). Tal como Javé, ele é o deus que cria tudo o que existe e a importância concedida pela reforma de Akhenaton à instrução é comparável ao papel da torah no javismo.

Enquanto apascentava os carneiros de Jetro, seu sogro e sacerdote de Madiã, Moisés chegou, pelo deserto, ao “monte de Deus”, o Herebe. Foi ali que ele viu “uma chamada de fogo que saía do meio de uma sarça” e ouviu alguém o chamar pelo nome. Deus se deu a conhecer como o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, O Deus de Isaac e o Deus de Jacó (Êxodo 3, 6). Então Deus disse-lhe: “Eu sou aquele que é (‘ehyéh ‘ áser ‘ ehyéh). Eu sou me enviou até vós”.

A revelação está concentrada no decálogo (Êxodo 20, 3-17) e reflete o espírito do javismo primitivo. O primeiro artigo do decálogo, “Não terás outros deuses diante de mim!”, demonstra que a existência de outros deuses não é descartada. Pede-se, porém, a fidelidade absoluta, pois Javé é um Deus que tem ciúmes (Êxodo 20, 5). A luta contra os falsos deuses começa imediatamente após a saída do deserto, em Ball Peor (foi ali que as filhas dos moabitas convidaram os israelitas a participar dos sacrifícios aos seus deuses).

O sentido do segundo mandamento, “Não farás para ti imagem”, provavelmente implicava a proibição de representar Javé por um objeto cultual. Assim como não tinha nome, Javé não devia ter imagem. Deus consentia em ser visto, diretamente, por alguns privilegiados; pelos outros homens, por seus atos.

Javé não reflete, como a maioria das divindades, a situação humana: não tem uma família, mas tão somente uma corte celeste. Javé é só e único.

De acordo com o relato da Bíblia, três meses depois da saída do Egito, no deserto do Sinai, teve lugar a revelação de Javé. “Toda a montanha do Sinai fumegava, porque Javé descera sobre ela no fogo; sua fumaça subiu como a fumaça de uma fornalha, e toda a montanha tremia violentamente. O som da trombeta aumentava pouco a pouco; Moisés falava e Deus lhe respondia no trovão” (Êxodo 19, 18-19). Javé apareceu então aos israelitas que permaneceram no sopé da montanha e com eles firmou uma aliança, ditando o Código da Aliança, que abre com o decálogo e compreende muitas prescrições relativas ao culto (Êxodo 20, 22 e 24-26).

Mais tarde, Moisés teve uma nova entrevista com Javé e recebeu “as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedras escritas pelo dedo de Deus”. (Êxodo 31, 18).

A revelação de que Moisés foi intermediário fez dele, ao mesmo tempo, um profeta extático e oracular e um “mágico”; o modelo dos sacerdotes levíticos e o chefe carismático por excelência, que conseguiu transformar um grupo de clãs em um núcleo de nação, o povo de Israel.

Temas abordados no livro do Êxodo:

1-Israel escravizado no Egito (Cap. 1, 1-22)

2-Deus escolhe Moisés (Cap. 2-1 – 4-31)

3-Deus manda Moisés para o Faraó (Cap. 5,1 – 7,13)

4-As dez pragas (Cap. 7,14 – 11,10)

5-A Páscoa (Cap. 12, 1-30)

6-O êxodo do Egito (Cap. 12,31 – 13:16)

7-Cruzando o mar Vermelho (Cap. 13,17 – 15,21)

8-Queixa no deserto (Cap. 15,22 – 18,27)

9-Os Dez Mandamentos e a divulgação da Lei (Cap. 19, 1 – 24, 18)

10-As instruções do tabernáculo (Cap. 25, 1 – 31, 18)

11-Quebrando a Lei (Cap. 32, 1 – 34, 35)

12-Construção do tabernáculo (Cap. 35, 1 – 40, 38)

O livro de Levíticos aborda as leis cerimoniais que deveriam reger as ações litúrgicas dos templos.

Capítulos 1 a 10 –O sistema sacrificial e o manual para os sacerdotes;

Capítulos 11 a 15 –As as leis de saúde e de higiene;

Capítulos 16 a 17 –O perdão anual (Yom Kipur) – dia de jejum e de orações – as proibições nesse dia servem para causar aflição ao corpo;

Capítulos 18 a 22 –A vida em santidade;

Capítulos 23 a 24 –Os ofícios e obrigações dos sacerdotes;

Capítulos 25 a 27 –As bençãos, os votos, as advertências e a lei do dízimo.

Números relata a história da jornada de Israel do Monte Sinai às planícies de Moabe, na fronteira de Canaã. Grande parte de sua legislação para o povo e os sacerdotes é semelhante à de Êxodo, Levítico e Deuteronômio. O livro fala da murmuração e rebelião do povo de Deus e de seu julgamento subsequente. O povo israelita, a quem Deus redimiu da escravidão no Egito e com quem fez uma aliança no Monte Sinai, respondeu não com fé, gratidão e obediência, mas com incredulidade, ingratidão e repetidos atos de rebelião, que chegaram à extrema expressão em sua recusa em empreender a conquista de Canaã. Os que não se redimiram, perderam sua parte na terra prometida, e foram condenados a viver suas vidas no deserto.

O livro tem três divisões principais, baseadas nas localizações geográficas de Israel. Cada uma das três divisões tem duas partes: (1) Israel no Sinai, preparando-se para partir para a terra da promessa (Cap. 1, 1 e 10, 10), seguido pela jornada do Sinai a Cades (Cap. 10, 11 e 12, 16); (2) Israel em Cades (Cap. 13, 1 e 20, 13), seguido pela viagem de Cades às planícies de Moabe (Cap. 20, 14 e 22, 1);  (3) Israel nas planícies de Moabe, antecipando a conquista da terra da promessa (Cap. 22, 2 e 32, 42), seguido de apêndices que tratam de vários assuntos (Cap. 33 a 36).

Especialistas comentam que os textos são a ordem que Deus deu aos israelitas para conquistar a terra prometida, se necessário fosse, para chacinarem qualquer habitante daquele lugar, para então Canaã ser dada aos judeus. O nome Números refere-se à contagem dos homens acima de 20 anos que poderiam ir à guerra. O livro trata de censos e das ofertas de cada uma das tribos (grupos). Números descreve a murmuração e a rebeldia do povo judeu sobre a condição em que estavam vivendo.

A emigração levou 40 anos: 600 mil homens, sem contar mulheres e crianças, o que talvez fosse muito próximo do número de homens da população egípcia da época, que era menor do que 3 milhões de habitantes. Isso remete à ideia de que, na verdade, houve um pequeno grupo que fugiu da escravidão e foi para Israel, criando uma sociedade com base nas antigas tradições.

“Assim partiram os filhos de Israel de Ramessés para Sucote, cerca de seiscentos mil a pé, somente de homens, sem contar os meninos.” (Êxodo 12, 37).

Um problema do livro de Números diz respeito ao grande número de homens recrutados para o exército de Israel (veja, por exemplo, os números em Números Cap. 1, 46 e no Cap. 26, 51) intrigam muitos intérpretes. O número de homens reunidos para a guerra parece exigir uma população total superior a 2 milhões de pessoas. Esses números parecem ser excessivamente grandes para a época, para o local, para as peregrinações no deserto, e em comparação com os habitantes de Canaã.

Foram 600 mil homens contados no primeiro censo (603.550), e outro censo que aparece em Números Cap. 26, contando a segunda geração no deserto, apresenta números de 601.730.

Outra dificuldade apresentada pelos números tradicionais é o tamanho aparente da família dos israelitas na época do Êxodo. De acordo com Números Cap. 3, 43, os primogênitos de Israel totalizaram 22.273. A quantia é pequena. A proporção usual de primogênitos para uma população masculina total é de cerca de um em cada quatro. Se este fosse o caso, com a população estimada de 2-2,5 milhões, haveria aproximadamente 39-44 filhos para cada pai em Israel, uma média impossível para uma população de cerca de 1 milhão de homens. Nesse caso haveria apenas um primogênito a quarenta e quatro homens.

Os números são inteiramente fictícios, foram importados de uma época posterior no território de Israel, são simbólicos, ou podem ter sido corrompidos na transmissão?

Deuteronômio contém as últimas palavras de Moisés aos israelitas antes de entrarem na terra de Canaã, com Josué como líder. Deuteronômio significa “segunda lei” ou “repetição da lei”, e em seus sermões, Moisés repetiu ao povo judeu as leis e os mandamentos que faziam parte de seu pacto com o Deus, antes da travessia do rio Jordão. Moisés também exortou os israelitas a lembrarem-se de guardar seus convênios quando lhes ensinou as consequências tanto da obediência quanto da desobediência às leis e aos mandamentos divinos.

Ao chegarem a Canaã, os patriarcas são confrontados com o culto do deus El.

Entretanto, nada de preciso se sabe sobre o culto celebrado pelos israelitas durante os 40 anos passados no deserto. O Êxodo 26 e o 38, 8-18, descrevem minuciosamente o santuário do deserto, a “Tenda do Encontro”, que abriga a arca do Testemunho, ou a arca da Aliança, um cofre de madeira que contém, segundo a tradição tardia, as tábuas das leis (Deuteronômio 10, 1-15). Provavelmente havia tendas ou palanquins cultuais, nos quais eram carregados os ídolos de pedra. Também é provável que a tenda recobrisse a arca, que simbolizava a presença do invisível.

O livro se refere a época de 1408 a 1406 a.C. Como já dito, registra as palavras de Moisés aos israelitas, enquanto esperavam nas planícies de Moabe, para entrarem em Canaã. Moisés recapitula os eventos da jornada do povo de Israel, desde o Monte Sinai. Tem como tema a maneira como os israelitas deveriam entrar na Terra Prometida; Deuteronômio contém os três últimos sermões de Moisés.

Conteúdo do livro de Deuteronômio:

Prólogo – Cap. 1, 1-5.

O primeiro discurso de Moisés – Revisão histórica (a história dos antepassados) – Cap. 1, 6.

O segundo discurso de Moisés – Exposição e condição geral da Aliança e dos Dez Mandamentos – Cap. 12, 1 a 26, 19.

Código de Leis – Cap. 12, 26.

O terceiro discurso de Moisés – Bençãos e maldições – Cap. 27, 1 a 28, 68.

Exortação final – Cap. 29, 1 a 30, 20.

Sucessão de lideranças – Cap. 31, 1 a 34, 12.

Poesia – Cap. 32 e 33.

Mencionarei algumas divergências que há sobre os mesmos temas, nos livros do Êxodo e do Deuteronômio, cuja autoria é atribuída a Moisés:

Em Deuteronômio cap. 12, 11:Então haverá um lugar que escolherá o Senhor vosso Deus para ali fazer habitar o seu nome; ali trareis tudo o que vos ordeno; os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos, e a oferta alçada da vossa mão, e toda a escolha dos vossos votos que fizerdes ao Senhor.”

No mesmo livro, no cap. 14, 23: “E, perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao Senhor teu Deus todos os dias.”

Note-se que em um capítulo, a escolha do lugar é feita por Deus, e no outro capítulo, por Moisés.

A formulação dos mandamentos em Êxodo cap. 20, 2-17, dados por Deus a Moisés no monte Sinai, é diferente da repetição, por Moisés no livro Deuteronômio cap. 5, 6-21:

Êxodo 20, 2-17: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e aos que guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou. Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”

Deuteronômio 5, 6-21: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão; Não terás outros deuses diante de mim; Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima no céu, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra; Não te encurvarás a elas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente ao que tomar o seu nome em vão. Guarda o dia de sábado, para o santificar, como te ordenou o Senhor teu Deus. Seis dias trabalharás, e farás todo o teu trabalho. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu Deus; não farás nenhum trabalho nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro que está dentro de tuas portas; para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; Porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido; por isso o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado. Honra a teu pai e a tua mãe, como o Senhor teu Deus te ordenou, para que se prolonguem os teus dias, e para que te vá bem na terra que te dá o Senhor teu Deus. Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo; e não desejarás a casa do teu próximo, nem o seu campo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo.”

A razão da guarda do sábado em Deuteronômio é a escravidão e o êxodo do Egito. No livro Êxodo, é a criação dos céus e da terra.

No Êxodo cap. 34, 27-28, está descrito que Deus ordena para Moisés que escreva as palavras da aliança nas tábuas: Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas palavras; porque conforme ao teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel. E esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, os dez mandamentos.”

Também no livro do Êxodo, cap. 32, 15-16, está descrito ter sido Deus quem escreveu as Leis: “Então Moisés desceu do monte, levando nas mãos as duas tábuas da aliança; estavam escritas em ambos os lados, frente e verso. As tábuas tinham sido feitas por Deus; o que nelas estava gravado fora escrito por Deus.”

A mesma afirmação está em Deuteronômio cap. 4, 12-13: “Então o Senhor vos falou do meio do fogo; a voz das palavras ouvistes; porém, além da voz, não vistes figura alguma. Então vos anunciou ele a sua aliança que vos ordenou cumprir, os dez mandamentos, e os escreveu em duas tábuas de pedra.”

Levítico significa “com respeito aos levitas”, a descendência da tribo de Levi. Portanto foi um livro escrito para os levitas, responsáveis por cuidarem do tabernáculo. Na Bíblia Hebraica esse livro é chamado de Vaiicrá (“e ele chamou”). O livro fala de santidade, sacrifícios, rituais de pureza, as obrigações sociais, e apresenta os detalhes de como o povo deveria adorar a Deus e como se relacionar uns com os outros. Está indicado que a linhagem de Arão é que cuidará do sacerdócio. Inicia-se o compromisso dos crentes com o dízimo, para que se sustentasse os sacerdotes e aqueles que cuidavam dos tabernáculos.

O livro aborda as leis cerimoniais que deveriam reger as ações litúrgicas dos templos.

Cap. 1 a 10 – o sistema sacrificial e o manual para os sacerdotes; cap. 11 a 15 – as leis de saúde e de higiene; cap. 16 a 17 – o perdão anual (Yom Kipur) – dia de jejum e de orações – as proibições nesse dia servem para causar aflição ao corpo; cap. 18 a 22 – a vida em santidade; cap. 23 a 24 – ofícios e obrigações dos sacerdotes; e cap. 25 a 27 – as bençãos, os votos, as advertências e a lei do dízimo.

Os estudiosos acreditam que os cinco livros do Pentateuco foram escritos, a partir de diversas origens, com base em fontes orais conhecidas havia séculos e sua produção final foi cerca de 800 anos após a morte de Moisés, que teria vivido por volta de 1300 a.C. (portanto em 500 a.C.).

A explicação mais comum para o sofrimento humano é a de que Deus está punindo o homem por ter cometido (e cometer) o pecado. O sofrimento é uma punição pelo pecado. O sofrimento do povo judeu se dá: 1-Deus escolheu o povo de Israel como seu povo especial; 2-Abraão foi escolhido como o pai da nação; 3-na segunda geração de Abraão sua família foi obrigada a ir para o Egito para fugir da fome de Israel; 4-os egípcios escravizaram o povo de Israel; 5-Moisés é o responsável pelo resgate do povo judeu; 6-Deus conduziu o seu povo até o monte Sinai, onde deu a Moisés os Dez Mandamentos e o restante da lei judaica e fez o “pacto da paz”.

Depois dos livros dos Pentateucos, seguem os livros históricos: Josué, Juízes e Primeiro e Segundo Livros de Samuel, e Primeiro e Segundo Livros de Reis. Todos datam de 1000 a 400 a.C. Esses livros contém diversas tradições e diferentes estilos literários e é muito provável que tenham sido concluídos durante o cativeiro babilônico dos judeus (século VI a.C.), até os tempos de Esdras.

Livros históricos

Josué ou um escriba sob sua orientação foi quem escreveu parte do livro. Eliazar ou Finéias, sacerdotes, devem ter complementado o livro após a morte de Josué.

O livro relata a entrada dos israelitas na terra prometida sob a liderança do profeta, sucessor de Moisés, e responsável por comandar a conquista de Canaã. Os eventos do livro abrangem cerca de 25 anos.

O texto explica, ao longo de vinte e quatro capítulos, a história de como os israelitas conquistaram a terra prometida. Fala sobre as batalhas do povo judeu (a batalha de Jericó, por exemplo), que duraram aproximadamente 7 anos, e sobre a divisão das terras entre as doze tribos israelitas.

Juízes narra a história de Israel desde a conquista de Canaã até o começo da monarquia. Canaã ficou sem rei e havia muitas pequenas tribos, com culturas diversas e influenciadas por estrangeiros. Nesse tempo surgiram os líderes conhecidos como “Juízes” (Otniel, Eúde, Sangar, Gideão, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom, Samuel). Entretanto, após a morte de Josué, as doze tribos de Israel ficaram sem lideranças que as orientassem na defesa contra os povos estrangeiros, os filis­teus, moabitas, cananeus e amonitas (as únicas autoridades eram os anciãos de cada uma das tribos). O período dos Juízes foi seguido pela formação do Reino de Israel, sendo seu primeiro rei Saul. A conquista total da terra só ocorreu no tempo do rei Davi.

Os juízes não tinham status de reis, porém tinham poder político, resolviam as disputas e administravam.

Denomina-se época dos juízes o período que se estende desde 1.390 a.C., quando o grupo de Moisés chegou a Canaã guiado por Josué, até 1.030 a.C., quando Saul foi proclamado rei. Os juízes eram chefes militares, conselheiros e magistrados. Durante esse período, aceitaram o javismo, sobretudo depois de certas vitórias, pois Javé interveio diretamente na batalha. Ele certificou a Josué: “Não temas: eu os entregarei nas tuas mãos!” (Josué 10, 8).

O javismo modificou-se. A partir de então, o culto era praticado nos santuários e sítios sagrados. Após a associação Javé-El, os santuários pré-javistas da religião cananeia, foram dedicados a Javé. Também se fazia confusão entre Javé e Baal, provavelmente venerado ao lado de Javé – “Baal combate” (Juízes 6,32).

O sistema sacrificatório cananeu foi em grande parte adotado. A forma mais simples de sacrifício consistia na oferenda de diferentes dádivas ou em libações de óleo ou água. As oferendas eram consideradas um alimento para a divindade (Juízes 6, 19). Foi nesse momento que os israelitas começaram a praticar o holocausto (‘olah), por eles interpretado como uma oblação oferecida a Javé. Eles tomaram emprestadas muitas práticas cananeias relacionadas com a agricultura e até certos ritos orgiásticos. O processo intensificou-se sob a monarquia, quando se ouvia falar em prostituição sagrada de ambos os sexos.

Composição do livro:

Introdução à era dos Juízes (as vitórias limitadas de algumas tribos) – Cap. 1 e 2

Era dos Juízes – Cap. 3 ao 16

Sete momentos de apostasia do povo judeu:

1-quando foram conquistados pela Mesopotâmia; liderados por Otoniel, o juiz (Juízes 3, 1-11).

2-quando foram conquistados por moabitas e filisteus; liderados por Eúde e Sangar, os juízes (Juízes 3, 12-31).

3-quando foram conquistados por Jabim, rei de Canaã; liderados por Débora e Baraque (Juízes 4, 1-5 e 31).

4-quando foram conquistados por Midiã (é uma zona geográfica mencionada na Torah e no Alcorão, no noroeste da península Arábica, na margem oriental do golfo de Ácaba no mar Vermelho, uma área que só foi povoada intensivamente a partir dos séculos VIII e VII a.C.); liderados por Gideão, o juiz (Juízes 6, 1-8 e 32).

5-guerra civil; liderados por Abimeleque, Tola e Jair, os juízes (Juízes 8, 33 e 10, 5).

6-quando foram conquistados por filisteus e amonitas; liderados por Jefté, Ibzan, Elom e Abdom, os juízes (Juízes 10, 6 e 12, 15).

7-quando foram conquistados pelos filisteus; liderados por Sansão (Juízes 13, 16).

Resultados da era dos juízes (confusão) – cap. 17 ao 21:

-a apostasia (negação e abandono da fé) religiosa (o templo) – cap. 17 e 18

-horribilidade moral (o lar) – cap. 19

-anarquia política (o Estado) – cap. 20 e 21

Os livros de Samuel contam a história do estabelecimento da monarquia de Israel. Explicam a transição do período dos juízes de Israel ao tempo da monarquia.

O Primeiro Livro de Samuel discorre sobre o ministério do profeta e o último dos juízes, que restaurou a lei e a ordem religiosa. Primeiro Samuel trata do nascimento do profeta e o seu chamado (Cap. 1 ao 3); os planos de Samuel como líder e juiz, tendo unificado as tribos; o pedido do povo por um rei, a eleição de Saul como rei; a desobediência e a queda de Saul (Cap. 9 ao 15). Em seguida o livro fala de Saul e Davi. Primeiro Samuel cobre cerca de 60 anos.

A autoria do livro é desconhecida. Foram feitas tentativas de atribuir a autoria a Samuel e seus sucessores, Natão e Gade.

Acredita-se que o livro reúne diferentes fontes documentárias independentes, porém convergentes. O texto trata da transição de uma forma de governo, teocrática, para outra, monárquica. Após passar muitos anos como uma confederação tribal governada de modo esporádico e irregular pelos juízes, os israelitas queriam ter um rei, como tinham as outras nações.

Saul foi o primeiro rei do povo judeu em Canaã. Samuel advertiu aos israelitas sobre o que lhes adviria se decidissem ser governados por um rei. Depois de ter sido ungido por Samuel, Saul recebeu o “espírito de Javé”, pois o rei era o ungido de Deus (Samuel 24, 7-11; 26, 9-11 e 16, 23); ele tornava-se de certa forma seu filho, legitimado por uma declaração especial. Javé concede-lhe o domínio universal (Salmo 72, 8) e o rei senta-se ao seu trono ao lado de Deus (Salmo 110, 1 e 5; I Crônicas 28, 5 e 29, 23). O soberano é o representante de Javé, pertence à esfera divina, porém é Javé que detém o papel central e não o rei.

Samuel, quando envelheceu, constituiu seus filhos juízes em Israel. Estes, porém, não seguiram o seu exemplo e os anciãos vieram ter com ele e lhe disseram: “Constitui sobre nós um rei, o qual exerça a justiça entre nós, como acontece com todas as nações.” (Samuel 8, 1-5).

Acredita-se que esse livro formava originalmente uma só obra com Segundo Livro de Samuel, Primeiro e Segundo Livros de Reis. O livro inclui o reinado de Saul, as guerras dos filisteus, e de outros povos vizinhos, contra Israel e a grande façanha de Davi (mais tarde, rei de Israel), ao derrotar o gigante Golias.

O Segundo Livro de Samuel começa narrando a ascensão de Davi e seu governo como rei de Judá e depois de Israel (é um livro que conta as conquistas de Davi).

No erguimento do rei Davi o reino ficou dividido (Cap. 1 ao 4), sendo unificado depois (Cap. 5 ao 7). Depois os limites de Israel são ampliados (Cap. 8 ao 10). Segue-se o texto com a transgressão de Davi, os problemas enfrentados com os seus filhos, e a passagem do reinado ao filho Salomão, quando Davi já estava prestes a morrer. O texto relata os adultérios e estupros cometidos por Davi e de seus filhos, Amnom e Absalão, e mostra a tristeza e as tragédias que acompanharam a violação dos mandamentos. Também nesse livro é mencionado o transporte da arca da Aliança, que se torna o centro do poder político na região.

2 Samuel cobre um espaço de 33 anos, e os dois livros (1 Samuel e 2 Samuel), compreendem de 1.080 a 970 a.C.

A realeza foi interpretada como uma nova aliança entre Javé e a dinastia de Davi.

A abordagem da crítica de fontes (a crítica histórica tem por objeto essa indagação para assegurar a autenticidade e veracidade dos documentos) é com relação a duplicações, repetições e tensões no texto. Por exemplo:

1 Samuel 17, 50: “Assim Davi prevaleceu contra o filisteu, com uma funda e com uma pedra, e feriu o filisteu, e o matou; sem que Davi tivesse uma espada na mão.”

2 Samuel 21, 19: “Houve mais outra peleja contra os filisteus em Gobe; e El-Hanã, filho de Jaaré-Oregim, o belemita, feriu Golias, o giteu, de cuja lança era a haste como órgão de tecelão.”

Em 1 Samuel foi Davi quem lutou e matou Golias, o filisteu. Em 2 Samuel, foi El-Hanã.

Atitudes positivas em relação a monarquia:

1 Samuel 9, 15-16: “Porque o Senhor revelara isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes que Saul viesse, dizendo: Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para o meu povo; porque o seu clamor chegou a mim.”

1 Samuel 10, 23-25: “E correram, e o tomaram dali, e pôs-se no meio do povo; e era mais alto do que todo o povo desde o ombro para cima. Então disse Samuel a todo o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então jubilou todo o povo, e disse: Viva o rei! E declarou Samuel ao povo o direito do reino, e escreveu-o num livro, e pô-lo perante o Senhor; então despediu Samuel a todo o povo, cada um para sua casa.”

Atitudes negativas em relação a monarquia:

1 Samuel 8, 4-22: “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, E disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao Senhor. E disse o Senhor a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles. Conforme a todas as obras que fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até ao dia de hoje, a mim me deixaram, e a outros deuses serviram, assim também fazem a ti. Agora, pois, ouve à sua voz, porém protesta-lhes solenemente, e declara-lhes qual será o costume do rei que houver de reinar sobre eles. E falou Samuel todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe pedia um rei. E disse: Este será o costume do rei que houver de reinar sobre vós; ele tomará os vossos filhos, e os empregará nos seus carros, e como seus cavaleiros, para que corram adiante dos seus carros. E os porá por chefes de mil, e de cinquenta; e para que lavrem a sua lavoura, e façam a sua sega, e fabriquem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros. E tomará as vossas filhas para perfumistas, cozinheiras e padeiras. E tomará o melhor das vossas terras, e das vossas vinhas, e dos vossos olivais, e os dará aos seus servos. E as vossas sementes, e as vossas vinhas dizimará, para dar aos seus oficiais, e aos seus servos. Também os vossos servos, e as vossas servas, e os vossos melhores moços, e os vossos jumentos tomará, e os empregará no seu trabalho.
Dizimará o vosso rebanho, e vós lhe servireis de servos. Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia.
Porém o povo não quis ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei.
E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras. Ouvindo, pois, Samuel todas as palavras do povo, as repetiu aos ouvidos do Senhor. Então o Senhor disse a Samuel: Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos homens de Israel: Volte cada um à sua cidade.”

1 Samuel 12, 16-19: “Ponde-vos também agora aqui, e vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos. Não é hoje a sega do trigo? Clamarei, pois, ao Senhor, e dará trovões e chuva; e sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que tendes feito perante o Senhor, pedindo para vós um rei. Então invocou Samuel ao Senhor, e o Senhor deu trovões e chuva naquele dia; por isso todo o povo temeu sobremaneira ao Senhor e a Samuel. E todo o povo disse a Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não venhamos a morrer; porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para nós um rei.”

Robert Rezetko e Ian Young encontraram duzentas e onze variações textuais das cópias dos livros de Samuel encontradas em Quamram, do das cópias medievais.

No livro “The Biblical Dead Sea Scrolls and Second Temple Hebrew Syntax” o autor M.G.Abegg Jr. cita seis mil variantes e noventa mil palavras no total nos pergaminhos bíblicos do deserto da Judéia, ou seja, a taxa de variantes reais entre os textos bíblicos seria de aproximadamente 6 a 7%.

Um exemplo de variante textual está no texto de Samuel 1, 24:

Texto na Updater American Standart Version:

“E quando ela o desmamou, ela o tomou consigo, juntamente com um boi de três anos, uma efla de farinha, e um jarro de vinho, e ela o trouxe para a casa de Jeová, em Siló. E o menino era um menino.”

Texto na Bíblia Matos Soares:

“Depois de o ter desleitado, levou-o consigo, e três novilhos, três alqueires de farinha, um cântaro de vinho, e levou-o à casa do Senhor em Silo. O menino era ainda pequenino.”

As variantes acontecem nos textos dos Manuscritos do Mar Morto, na Septuaginta, no texto Siríaco, no texto Massorético e no texto da Vulgata Latina.

Os dois livros de Reis mostram que cada rei é julgado de acordo com a sua fidelidade a Deus. O Primeiro Livro de Reis traz informações sobre um contexto que começou no livro de Samuel, que é a história dos reis israelitas. Saul foi o primeiro rei de Israel e Davi, o segundo. Após a morte da Davi, seu filho Salomão herda o trono e um dos destaques de seu reinado foi construir um grande templo, conhecido atualmente como “Templo de Salomão”. O livro, portanto, menciona a ascensão de Salomão e conta sobre cento e vinte anos do povo hebreu e a divisão em dois reinos, Judá e Israel.

Salomão construiu o templo em Jerusalém próximo ao palácio real: ele associa, assim, o culto do santuário à monarquia hereditária. O templo passa a ser a residência de Javé entre os israelitas. A arca da Aliança, que então acompanhava os exércitos, é instalada no “Santo dos Santos”. O templo, construído emprestando formas cananeias, torna-se o santuário nacional e o culto real identifica-se com a religião do Estado de Israel. Os rituais são de expiação para a coletividade e preces públicas em favor do rei, de sua glória e pelo exercício de sua justiça que assegura “a paz do povo” e a prosperidade (Salmos 20 e 72).

Com a morte de Salomão, o reino dividiu-se em dois: o do Norte ou de Israel, e o do Sul ou de Judá. Como a arca ficara em Jerusalém e as tribos do norte não tinham acesso ao santuário comum, Jeroboão, o primeiro rei de Israel, instalou dois santuários, em Betel e em Dã, onde Javé era adorado na forma de dois bezerros de ouro (1 Reis 12, 28-29). A religião cananeia proibia as imagens e essa inovação agravou o desentendimento entre os reinos do norte e do sul.

O Segundo Livro de Reis relata a história dos dois reinos, do Norte e do Sul. O primeiro com a queda de Samaria e o segundo com a conquista de Jerusalém pelo rei babilônico Nabucodonosor. A queda dos reinos de Israel acontece porque seus reis haviam sido infiéis com os princípios de Deus, segundo os relatos.

Os outros livros, Salmos e Provérbios, foram escritos a partir do ano 1000 a.C. Esses textos, segundo alguns historiadores, foram adaptados e remodelados para atenderem a interesses do povo israelita (tenho a opinião de que a maioria dos textos bíblicos, assim como de outras religiões universais que conhecemos hoje, foram adaptados buscando interesses de grupos religiosos, étnicos, sociais, econômicos e diversos outros, ao longo do tempo – no caso específico da Bíblia, após tê-la lido, não me furto desse convencimento).

Reino Unido de Israel

O Reino Unido de Israel de acordo com a Bíblia, foi a nação formada pelas doze Tribos de Israel, um povo descendente de Abraão, Isaque e Jacó.

Segundo a Bíblia, sob a liderança de Moisés, os israelitas vaguearam pelo deserto durante quatro décadas, até que no final do século XV a.C., e sob a liderança de Josué, eles conquistaram a terra de Canaã, abandonaram o nomadismo e estabeleceram-se nas terras conquistadas, dividindo o território entre as doze tribos.

Contudo, não existia um poder central, pois cada tribo governava a si própria. Os líderes nacionais, que se designavam Juízes, tinham um poder muito frágil e só conseguiam unir as várias tribos em caso de guerra com os povos inimigos. A união entre as tribos era tão frágil que por vezes guerreavam entre si.

As tribos, então, resolveram unir-se e instaurar uma monarquia. O profeta Samuel, último dos Juízes, designou Saul, da Tribo de Benjamim, como o primeiro Rei de Israel. O reino abrangia a região montanhosa de Judá e de Efraim, e surge em meados do século XI a.C. com a unificação das doze tribos sob a chefia de Saul.

O rei Saul não modificou a organização das tribos, também não tinha um exército forte, mas conseguiu derrotar os amalequitas (descendentes de Amaleque, neto de Esaú), porém desobedece a ordens de Deus dirigidas ao profeta Samuel, para manter vivos os reis derrotados e não se apossar dos despojos, mas acaba sacrificando os monarcas e toma os bens para si, induzido por pressão popular. Deus anuncia a Samuel que o jovem Davi será o novo rei de Israel. Durante a guerra contra os filisteus, Davi entra para o exército e sozinho mata o gigante Golias, tornando-se famoso. Saul viu nele uma ameaça e passa a persegui-lo. Davi junto com outros soldados refugiam-se até que os filisteus invadem Israel. Saul, desesperado, decide atacá-los no Monte Gilboa, mas as armas israelitas eram inferiores e eles foram atraídos para uma armadilha. Os filisteus aniquilam todos, os filhos de Saul morrem, e ele suicida-se.

Davi passa a ser o novo rei de Israel e consegue restabelecer um exército e expulsar os filisteus. Também invade a cidade de Jerusalém, e transforma a cidade em sua nova capital. Ele invade os reinos vizinhos dos amonitas, moabitas e edomitas, tornando-os estados tributários. Quando Davi morre, seu filho Salomão assume o trono, melhora o exército e fortalece a economia. Constrói o Templo de Jerusalém.

Com a ascensão ao poder do filho de Salomão, Roboão, por volta de 930 a.C., o país se fragmentou em dois reinos: o Reino de Israel, que abrangia as cidades de Siquém e Samaria, no norte, e o Reino de Judá, em cujo território estava Jerusalém, ao sul.

Os Reis do Reino Unido de Israel

Abimeleque, filho de Gideão, autodeclarado rei de Israel.

 Casa de Saul

De acordo com a Bíblia, as Tribos de Israel viviam em uma confederação lideradas por juízes. Por volta de 1020 a.C., sob grande ameaça de povos estrangeiros, as tribos se unificaram para formar o Reino Unido de Israel e Judá. Samuel ungiu Saul como primeiro rei da nação israelita.

Saul (1020-1000 a.C.).

Isbosete (1000-995 a.C.), reinou apenas nas tribos do Norte.

Casa de Davi

Davi (1003-970 a.C.), fez de Jerusalém a capital do Reino.

Salomão (970-931 a.C.)

Roboão (931-915 a.C.), em seu reinado ocorreu o cisma entre Judá e Israel, se separando em dois reinos.

Reino de Israel

O Reino de Israel ou o Reino do Norte, acredita-se tenha existido entre 930 até 720 a.C., quando acabou sendo conquistado pelo Império Neoassírio. As suas cidades principais eram Siquém, Tirza, Samaria, Jafa, Betel e Dã.

Após a morte de Salomão, seu filho Roboão assumiu o trono, mas devido ao descontentamento em relação aos impostos, as dez tribos do norte separam-se e proclamaram Jeroboão como seu rei. Israel foi dividido entre o Reino de Israel (ao norte, com capital em Siquém), e o Reino de Judá (ao sul, com capital em Jerusalém).

Jeroboão estabeleceu-se em Siquém. Vendo que os israelitas continuavam peregrinando ao Templo de Jerusalém, temeu perder o seu trono e fez dois bezerros de ouro, colocando um em Betel e o outro em Dã, declarando o bezerro como o “deus” que tirou os israelitas do Egito, nomeou sacerdotes que não eram levitas e construiu templos. Por causa disso o profeta Aías declarou que Deus aclamaria um novo rei de Judá, e que exterminaria Jeroboão e sua descendência. O filho de Jeroboão, Nabade assumiu o trono, mas dois anos depois foi assassinado, e Baasa se tornou o novo rei, e exterminou todos os membros da família de Jeroboão, como predito pelo profeta Aías.

Baasa também cometeu os mesmos pecados de Jeroboão, por isso também sua linhagem foi exterminada, sendo sucedida por outras que cometiam os mesmos erros.

Entre 730−720 a.C., o rei Salamaser V da Assíria invadiu Israel, após o rei Oseias ter recusado pagar tributo aos assírios. Salmanaser V conquistou o Reino de Israel, prendeu Oseias e os israelitas.

Primeira e segunda Dinastia

Jeroboão I (931-910 a.C.).

Nadabe (910-909 a.C.).

Baasa (909-886 a.C.).

Elá (886-885 a.C.).

 Não Dinástico

Zimri (884 a.C.).

 Terceira Dinastia

Omri (884-873 a.C.).

Acabe (873-852 a.C.).

Acazias (852-849 a.C.).

Jorão (849-840 a.C.).

 Quarta Dinastia

Jeú (840-814 a.C.).

Joacaz (814-798 a.C.).

Joás (798-782 a.C.).

Jeroboão II (782-753 a.C.).

Zacarias (752-749 a.C.).

Não Dinástico

Salum (749 a.C.).

Quinta Dinastia

Manaém (748-738 a.C.).

Pecaías (738-736 a.C.).

Não Dinástico

Peca (736-732 a.C.).

Oseias (732-722 a.C.).

Reino de Judá

O Reino de Judá ou Reino do Sul limitava-se ao norte com o Reino de Israel, a oeste com a região costeira da Filístia, ao sul com o deserto de Negueve, e a leste com o rio Jordão e o mar Morto, e o Reino de Moabe. Sua capital era Jerusalém, onde encontrava-se o Templo, o qual segundo a Bíblia, teria sido erigido por ordem do rei Salomão. Segundo a Estela de Tel Dã, o Reino de Judá realmente existiu, em alguma forma, pelo menos em meados do século IX a.C.

Após a divisão do reino, no quinto ano do reinado do rei Roboão, o faraó Sisaque I invadiu o território dos hebreus e transformou o Reino de Judá num estado tributário. Esse fato está relatado em 2 Crônicas 12, 2, e comprovado por inscrições egípcias (a inscrição mural sobre Sisaque I no Templo de Carnaque, e a estela de Megido).

O Reino de Judá entrou em conflitos com os reinos de Moabe, Amom e os filisteus. A Bíblia afirma que o Reino de Judá permaneceu, de maneira geral, fiel à sua fé em Deus, enquanto que Israel tornara-se fortemente influenciado pela cultura cananeia e pela religião fenícia. A preservação da linhagem real davídica, do qual deveria vir o Messias, de acordo com os profetas do Antigo Testamento, e a misericórdia de Deus sobre o Reino de Judá, contrapôs com o politeísmo do Reino de Israel.

O Reino de Judá viu o perigo das potências estrangeiras quando a capital de Israel, Samaria, foi tomada pelo rei assírio Sargão II, em 722 a.C., o que o levou a buscar prestar vassalagem junto à Assíria. A destruição do reino do norte pelos assírios causou um grande florescimento do reino de Judá, ao sul. Mais tarde, devido à recusa do rei Ezequias em continuar pagando tributos à Assíria, o rei Senaqueribe invadiu o Reino de Judá e sitiou Jerusalém, mas sem a conquistar. Segundo a Bíblia, o seu exército foi subitamente destruído por obra de Deus. Os registros assírios em Nínive e os trabalhos arqueológicos realizados na região apontam para uma situação diferente. Embora Jerusalém tenha sido apenas saqueada e poupada da devastação e do terrorismo de estado praticados pelos assírios contra populações rebeldes, outras cidades do reino de Judá, como Laquis, na região oeste do reino, não contaram com a mesma sorte e foram pilhadas, com seus moradores assassinados ou escravizados. O rei Senaqueribe, ao encerrar sua campanha na região, concedeu ao reino de Judá um saldo considerado como desastroso, incluindo a redução de um terço da população do reino e a perda da rica região do Sefelá, produtora de cereais, transferida pelos assírios aos seus vassalos filisteus.

Casa de Davi

Abias (913-911 a.C.).

Asa (911-870 a.C.).

Jeosafá (870-845 a.C.).

Jorão (851-843 a.C.).

Ocozias (842-840 a.C.).

Casa de Omri

Atália (840-836 a.C.).

Casa de Davi restaurada

Joás (842-802 a.C.).

Amassias (805-776 a.C.).

Uzias (788-737 a.C.).

Jotão (758-742 a.C.).

Acaz (742-726 a.C.).

Ezequias (726-697 a.C.).

Manassés (697-642 a.C.).

Amom (642-640 a.C.).

Josias (640-609 a.C.).

Joacaz (609 a.C.).

Joaquim (609-598 a.C.).

Jeconias (598-597 a.C.).

Zedequias (597-586 a.C.).

Provérbios é poético e sapiencial e levanta questões sobre valores, comportamento moral e o significado da vida humana. O tema recorrente é que “o temor a Deus – a submissão à vontade de Deus – é o princípio da sabedoria”. A sabedoria é elogiada e deve ser o objetivo da vida religiosa, segundo o livro, que é composto por “ditos” e poesias de tipos variados, entre elas “instruções”.

O livro é uma coletânea de trechos literários em seis unidades discretas. A primeira, capítulos 1 a 9, foi provavelmente a última a ser composta, já nos períodos persa e helenístico, que se  caracterizou pela difusão da civilização e cultura gregas (550-146 a.C.). Essa seção é similar a outros textos cuneiformes mais antigos. A segunda, do capítulo 10 a 22, 16, tem o título de “Provérbios de Salomão”. A terceira, cujo título é “Inclina o teu ouvido e ouve as palavras do sábio” (Provérbios 22, 17), é uma versão hebraica de uma obra egípcia do segundo milênio a.C., a Instrução de Amenemope (é uma obra literária composta no Antigo Egito, muito provavelmente durante o período do reinado Ramsés II; contém trinta capítulos de conselhos para uma vida bem sucedida, ostensivamente escrito pelo escriba Amenemope, filho de Kanakht, como um legado para seu filho). É possível que ela tenha chegado às mãos do autor (ou autores) através de uma tradução aramaica. Em 24, 23 começa uma nova seção, de outra fonte, com o título de “Estes também são provérbios dos sábios”. A seção seguinte começa em 25, 1, e tem um título que indica que os provérbios seguintes foram transcritos “pelos homens de Ezequias”, o que indica que foram colecionados durante o reinado de Ezequias, no final do século VIII a.C.. Os capítulos 30 e 31,  “palavras de Agur”, as “palavras do rei Lemuel”, são apêndices, bem diferentes em estilo e na ênfase, dos capítulos anteriores.

O livro Rute não tem registro de autor, mas é tradicionalmente atribuído ao profeta Samuel. Um considerável número de estudiosos data o livro de Rute no período persa (séculos VI a IV a.C.). Acredita-se que genealogia que conclui o livro seja uma adição pós-exílio de um autor sacerdotal.

Na época dos juízes, o livro descreve um período de fome, quando uma família israelita de Belém, Elimeleque, sua mulher Noemi, e seus dois filhos, Malom e Quiliom, emigraram para Moabe (Moabe ficava ao longo da margem oriental do Mar Morto, e os moabitas foram um povo que estava frequentemente em conflito com os seus vizinhos israelitas). Elimeleque morreu, e seus filhos se casaram com esposas moabitas: Malom casou-se com Rute e Quiliom, com Orfa.

Cerca de dez anos depois, os dois filhos de Noemi morreram em Moabe e ela decidiu retornar para Belém. Antes de partir, ela pediu que suas noras retornassem para suas próprias mães para que pudessem se casar novamente. Orfa se foi, mas Rute se recusou, seguindo com Noemi. Para se sustentarem, Rute foi trabalhar nos campos que pertenciam a Boaz, um parente próximo da família do falecido marido de Noemi, e estava, portanto, obrigado pela lei do levirato (Yibbum) a se casar com Rute, que era a viúva de Malom, para receber a herança de sua família – a lei do levirato, segundo Deuteronômio 25, 5-10, obrigava o cunhado a casar-se com a cunhada, no caso em que ela ficasse viúva sem ter tido um filho homem.

Boaz foi para o portão se encontrar com o outro parente, que, diante dos anciãos da cidade, renunciou a seu direito de redimir a herança de Malom, o que permitiu que Boaz se casasse com Rute. Eles transferiram a propriedade e a reconquistaram.

Boaz e Rute se casam e têm um filho. O nome da criança era Obede, pai de Jessé, avô de Davi. O livro termina com um apêndice que lista a genealogia de Davi desde Perez, filho de Judá e de Tamar, passando por Obede até Davi.

A narrativa do livro mostra como Rute se tornou uma ancestral de Davi por meio do casamento de cunhado com Boaz, em favor de sua sogra, Noemi. O apreço, a lealdade e a confiança em Javé que Boaz, Naomi e Rute demonstraram permeiam o relato.

Excetuando-se a lista genealógica, os eventos relatados no livro de Rute abrangem um período de cerca de 11 anos no tempo dos juízes, embora não se declare exatamente quando ocorreram.

A cronologia apresentada em Rute 4, 18-22 foi confirmada pela genealogia de Jesus Cristo, apresentada em Mateus 1, que lista Boaz, Rute e Obede (filho do casal) na linhagem de ascendentes. Também merece destaque o fato de a protagonista do livro ser uma estrangeira, mas deve-se lembrar que Rute era etnicamente vizinha do povo de Israel, e, portanto, da mesma família semítica antiga, o que pode ser considerado um protonacionalismo regionalista antigo entre as duas margens longitudinais do Jordão.

Primeiro e Segundo das Crônicas

Os livros das Crônicas são obra do judaísmo pós-exílio, quando o povo vivia sob a direção de seus sacerdotes. O templo, já reconstruído, e as cerimônias eram o centro da vida desse povo.

O autor das Crônicas pertence ao grupo dos sacerdotes e levitas (a tribo dos levitas foi escolhida para cuidar do templo) de Jerusalém. Escreve depois da época de Esdras (ele liderou o segundo grupo de retorno de israelitas que retornaram da Babilônia em 457 a.C. Descendente de Arão, o primeiro sumo sacerdote de Israel, Esdras era escriba e copista da lei de Moisés) e Neemias, pois ele combina a seu modo as fontes que se referem a eles. São datados por volta de 300 a.C. O clero desempenha papel importante na obra: não apenas os sacerdotes e os levitas, mas também as classes inferiores do clero, tais como, os porteiros do templo e os cantores do culto.

A separação em dois volumes aconteceu depois de Cristo. O primeiro livro das Crônicas faz como que um apanhado da história de Israel desde suas origens até o final do reinado de Davi, por volta de 970 a.C. É como uma releitura, uma recapitulação desse período sob a ótica dos sacerdotes e levitas ligados ao templo de Jerusalém. O Cronista faz uma revisão da obra deuteronomista, tentando suavizar a crítica a Davi, apresentando-o livre de fraquezas e pecados, um rei ideal.

A divisão do primeiro livro das Crônicas é bastante clara. Pode ser dividido em dois grandes blocos: primeiro: listas genealógicas (1Cr, 1-10); segundo: história de Davi (1Cr, 11-29).

Listas genealógicas (1Cr, 1-10): Nesses capítulos, temos uma série de genealogias, as quais se detêm mais na tribo de Judá e na descendência de Davi, nos levitas e nos habitantes de Jerusalém. O Cronista resume a história de Israel através de genealogias, com a intenção de situar a casa de Davi na história do povo de Deus. É uma lista enorme de nomes de pessoas e das várias tribos. Essas listas são maçantes e pouco atraentes, era o jeito de contar a história dos antepassados.

As listas de gerações procuram mostrar para a comunidade judaica do período persa que a tribo de Judá e a casa de Davi são as legítimas herdeiras da bênção de Abraão. As genealogias do Gênesis (1-12) chegam até Abraão, as do Cronista vão até Saul e preparam a história de Davi, principal personagem do Cronista. O autor, portanto, começa com Adão (1Cr, 1,1), passando pelas várias tribos, e culmina com Davi (1Cr, 10,14), filho de Jessé, da tribo de Judá.

História de Davi (1Cr, 11-29): O autor das Crônicas não dá muita importância ao rei Saul. Sua preocupação é com o rei Davi, destacando os principais fatos positivos do seu reinado, deixando de lado os aspectos mais negativos, os episódios que comprometem sua imagem. Depois de sua eleição em Hebron (1Cr 11,1-2), Davi conquista Jerusalém, transformando-a na “Cidade de Davi”, transfere a arca da aliança para Jerusalém e vai consolidando seu reinado.

Morando em Jerusalém, Davi construiu uma tenda para a arca, centralizando o culto em sua nova capital, local de festas e de romarias, fonte de bênçãos para todo o povo, planeja construir uma “casa para a arca de Javé” (templo). Segundo o autor, a bênção de Javé sobre Davi manifesta-se nas vitórias do rei sobre os inimigos do povo.

O segundo livro das Crônicas narra acontecimentos de um período da história dos judeus, desde o reinado de Salomão (por volta de 970 a.C.), até a destruição do Reino de Judá por Nabucodonosor II, imperador da Babilônia (586 a.C.).

Embora seja incerta a sua autoria, a tradição judaica afirma que o livro teria sido escrito por Esdras, por volta de 430 a.C., no período após o exílio babilônico, resgatando, desse modo, a história do seu povo. Outros sustentam que o autor das Crônicas é um levita de Jerusalém, que escreveu numa época posterior a Esdras e Neemias.

Os nove primeiros capítulos deste segundo livro contam a história do reinado de Salomão, contendo um detalhado registro da construção do templo, cumprindo a promessa feita a seu pai, Davi.

Os capítulos seguintes relatam os acontecimentos a partir do cisma ocorrido após a morte de Salomão, em torno de 930 a.C., no reinado de Roboão (o primeiro rei de Judá), e prossegue com a história dos outros reis que governaram Judá.

Os principais pontos de destaque do livro são os reinados de Asa (neto de Roboão, reinou Judá por 41 anos) e de Josafá (o segundo rei de Judá, reinou por 25 anos), a morte de Acabe (sétimo rei de Israel), o reinado de Uzias (décimo rei de Judá), a destruição do Reino de Israel pelos assírios, o reinado de Ezequias (o décimo terceiro rei de Judá, reinou por 29 anos), e a resistência de Jerusalém ao cerco de Senaqueribe (em aproximadamente 701 a.C., Senaqueribe, rei da Assíria, atacou as cidades do Reino de Judá em uma campanha de subjugação; o rei da Assíria sitiou Jerusalém, mas não conseguiu capturá-la), a idolatria de Manassés (reinou em Judá por 55 anos), o reinado de Josias (o décimo sexto rei de Judá), o achado do livro da lei mosaica (a lei de Moisés, um código de leis formado por ordens e proibições), e a derrota de Judá pelos babilônicos.

Os livros de Esdras e de Neemias na versão hebraica da Bíblia eram um livro único. Apareceram pela primeira vez separados em 1448, na edição de Jerônimo, da Vulgata.

A autoria do livro é atribuída a Esdras, escriba e sacerdote (Esdras 7).

O contexto histórico do livro ocorreu no período do Império Medo-Persa, e transcorre em aproximadamente 105 anos; a primeira data do primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (537 a.C.) (Esdras 1,1), e a última data, que é o trigésimo segundo ano de Artarxerxes (Neemias 16, 6) (486 a.C.).

Estrutura do livro:

Cap. 1 ao 6 – o Deus que reestabelece o remanescente israelita à terra prometida;

Cap. 7 ao 10 – a purificação do remanescente.

 

Esdras 1, 1-4 – O primeiro decreto de Ciro (retorno dos judeus para a reconstrução de Jerusalém).

Esdras 1, 5-11 – As respostas dos judeus e de Ciro.

Esdras 2 – A lista dos que foram para Jerusalém.

Esdras 3, 1-7 – A reconstrução do altar.

Esdras 3, 8-13 – Os alicerces do templo.

Esdras 4, 1-3 – A recusa da ajuda dos adversários de Judá e Benjamim.

Esdras 4, 4-6 – Primeira resistência aos inimigos.

Esdras 4, 6-23 – Segundo momento de resistência aos inimigos (486 a 465 a.C.).

Esdras 5 – A intervenção de Deus para a retomada da reconstrução do templo. O fim do primeiro período de oposição.

Esdras 6 – A busca de Dario pelo decreto de Ciro, e a publicação do segundo decreto para a reconstrução do templo.

Esdras 7 e 8 – O decreto de Artaxerxes e a lista dos que voltaram com Esdras para Jerusalém (457 a.C.).

Esdras 9 e 10 – As uniões conjugais não autorizadas (união marital com membros de outras nações). A atitude de Esdras e a resolução adotada.

Esdras e Neemias descreveram, em seus livros, seis listas com os nomes dos judeus que foram da Babilônia para Jerusalém. De quarenta e dois números citados no livro de Esdras, dezoito diferem numericamente dos que foram citados no livro de Neemias. Ex: em Esdras 2, 5, os filhos de Ará eram 775; em Neemias 7, 10, os filhos de Ará eram 652. Uma diferença de 123 nomes.

O livro de Neemias é tido como uma continuação do Livro de Esdras, e por vezes chamado até mesmo de “o segundo livro de Esdras”. Neemias foi o último dos governadores enviados pela corte persa à Judeia. Logo depois a província foi anexada à satrapia de Cele-Síria e passou a ser governado por um sumo sacerdote indicado pelos sírios.

Existem partes do livro escritas em primeira pessoa, e em outras em que Neemias é referido pela terceira pessoa.

Alguns estudiosos acreditam que essas partes teriam sido escritas por Esdras, embora não exista qualquer evidência, enquanto outros acreditam que o arranjo e revisão final do texto teriam ocorrido num período bem posterior.

Se Neemias de fato foi o autor, a data em que o livro foi escrito teria sido por volta de 431-430 a.C., quando ele retornou pela segunda vez a Jerusalém, depois de sua ida à Pérsia.

O livro tem quatro partes:

Um relato da reconstrução das muralhas de Jerusalém e o registro do que Neemias encontrou ao retornar da Babilônia. Entre os detalhes estão a descrição de como Neemias se tornou governador de Judá, as diversas formas de oposição que sofreu, de Sambalá (governador da Samaria, que por volta da segunda metade do século V a.C. foi um dos principais opositores das reformas, e da reconstrução das muralhas de Jerusalém), e descreve seu retorno anterior, sob Zerubabel.

O livro de Ester, cujo autor é desconhecido, possui 10 capítulos. Deduz-se que se trata de um judeu persa, que o escreveu entre os séculos IV e I a.C. Conta como Ester, uma jovem judia que estava entre os deportados, tornou-se imperatriz da Pérsia, ao se casar com o imperador Assuero (identificado como Xerxes I).

O livro complementa os relatos de Esdras e de Neemias, contando o que aconteceu com o exilado povo de Deus na Pérsia.

O objetivo do livro é justificar a observância da festa do Purim (a festa comemora a salvação do povo judeu na antiga Pérsia da trama de Haman, para destruir e matar todos os judeus, jovens e velhos, crianças e mulheres, num único dia. Todos os judeus eram seus súditos do Império Persa).  Esse livro conta a história de como, pela providência, o povo foi salvo dos intentos destrutivos dos seus inimigos.

A edição Pastoral da Bíblia sustenta que não se trata de uma narrativa histórica, mas um conto que analisa a situação da comunidade judaica espalhada entre as nações estrangeiras.

O livro reflete um contexto histórico em que era necessário criar condições de sobrevivência e espaços no sistema vigente, já que as circunstâncias históricas não permitiam transformações mais profundas.

Ester nos ajuda a pensar numa política que une transformações locais e nacionalistas a uma política ampla, na qual a luta pela justiça ganhe espaços e os oprimidos da terra recuperem a esperança de viver. É assim que se torna possível, pouco a pouco, uma sociedade alternativa, na qual reinem a justiça, a liberdade e a partilha.

é um personagem, não o autor do livro. O nome tem o significado “aquele que foi feito inimigo”, ou “aquele que se tornou inimigo” (Jó 16, 8-14; 17, 6; e 30, 1-31). Outra proposta é relacionar o nome Jó ao babilônio antigo Ayyâbum, ou ao nome A-ia-ab, que ocorre nas cartas de Tell el- Amarna (1350 a. C.), em textos de execração do antigo Egito (2000 a. C.), e em documentos das antigas cidades de Mari, Alalakh e Ugarit. Seria assim um nome semita ocidental comum, significando “onde está o pai?” ou “não [há] pai”.

No livro de Jó não temos nenhum israelita.

Jó era da terra de Uz, cidade localizada próxima dos edomitas do monte Seir, no norte da Arábia (Lamentações 4, 21), hoje Jordânia.

Os amigos de Jó:

Elifaz, era de Temã (Jó 2, 11), a mais importante cidade de Edom (Amós 1, 12).

Bilderde, o suíta (Jó, 2, 11), não há referências na Bíblia, nem arqueológicas, sobre uma região de Suã.

Zofar, o naamatita, não há evidências de uma região de naamatitas.

Eliú (Jó 32, 2) era de Buz, ao leste da Arábia (Jeremias 25, 23).

Nenhum dos amigos de Jó, citados, era israelita, mas de regiões próximas; nem Israel é citado.

Provavelmente Jó tenha vivido anteriormente ao Êxodo, após Isaque. A referência à quesitá, uma moeda de prata (Jó 42, 11), remete à época dos patriarcas ou à época de Josué (Josué 24, 32). O relato dos ataques dos Sabeus (Jó 1, 15) e dos Caldeus (Jó 1, 17), parece descrever uma época antiga, por volta do início do segundo milênio a. C., quando estes povos ainda viviam numa condição nômade.

Não há indicação do autor nem de quando o livro foi escrito.

Existe a tese de que o livro foi escrito por Moisés no século XV a. C.: segundo o Talmude
Babilônico, “Moisés escreveu seu próprio livro e as passagens sobre Balaão e Jó”
(Baba Bathra, 14b e 15a). Certas palavras comuns em Jó só ocorrem no Pentateuco, ou são raramente usadas por outros escritores bíblicos; por exemplo, o
nome divino “El Shaddai” ocorre trinta e seis vezes em Jó e seis vezes em
Gênesis, e em lugar nenhum mais na Bíblia Hebraica. É possível que a história registrada no livro de Jó tenha primeiramente sido transmitida de forma oral entre as tribos da região arábica, e Moisés a teria posto por escrito durante sua estadia no deserto do Sinai, entre os Midianitas. Existem outras propostas sobre quem escreveu e o período em que o livro foi escrito. Importante destacar que a referência a Satanás no livro (capítulos 1 e 2) indica um período tardio da religião de Israel quando a angeologia e a demonologia eram bem desenvolvidas, após o contato com a religião medo-persa, portanto, bem depois de Moisés.

Na Bíblia Hebraica encontramos vários gêneros literários que podem ser agrupados em cinco categorias: 1º) Narrativa: principalmente relatos de histórias como as do livro de Gênesis, boa parte do livro do Êxodo, Números, Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, etc.; 2º) Lei: vários textos da Bíblia Hebraica são de natureza legal como os Dez Mandamentos, as Leis da Festas Israelitas, Leis do ritual do santuário e seus sacrifícios, leis sociais, civis, agrícolas, etc.; 3º) Profecia: várias partes e livros da Bíblia Hebraica trazem as palavras e mensagens proféticas de Deus para indivíduos, para Israel e para as nações, como em Isaías, Jeremias, Ezequiel, etc.; 4º) Poesia: Um terço da Bíblia Hebraica foi escrito em forma primariamente poética, desde pequenos poemas até livros totalmente poéticos como os Salmos, Cantares e Lamentações; 5º) Sabedoria: textos de caráter sapiencial, que ocorrem em toda a Bíblia Hebraica, com destaque para os livros de Jó, Provérbios e Eclesiastes. A expressão “literatura sapiencial” é uma convenção acadêmica; a classificação de “literatura sapiencial” tem sido usada também para obras literárias do Egito e da Mesopotâmia que têm características semelhantes à literatura sapiencial bíblica.

E há dois tipos de literatura sapiencial: 1º) A Sabedoria Proverbial: na forma de ditados curtos e diretos ao ponto, com conselhos e regras para a felicidade e bem-estar pessoal, ou que resumiam a sabedoria adquirida pela experiência de vida. Por exemplo, os ensinos de Ptah-Hotep, linhas 85-95 (Egito, entre 2575-2134 a. C.) – o livro de Provérbios pertence a este tipo de sabedoria); e 2º) A Sabedoria Contemplativa ou Especulativa: na forma de monólogos, diálogos ou ensaios que exploravam os problemas básicos da existência humana, tais como o sentido da vida ou o problema do sofrimento – os livros de Jó e Eclesiastes pertencem a este tipo de sabedoria).

A estrutura do livro:

  1. Prólogo: Jó 1, 1 e 2, 13 (o narrador fala);
    II. Diálogos: Jó 3, 1 a 42, 6 (os personagens falam);
    1. Primeiro Ciclo: Jó 3, 1 a 11, 20 (Jó e seus três amigos falam);
    2. Segundo Ciclo: Jó 12, 1 a 20, 29 (Jó e seus três amigos falam);
    3. Terceiro Ciclo: Jó 21, 1 a 31, 40 (Jó e seus três amigos falam);
    4. O Ciclo de Eliú: Jó 32, 1 a 37, 24 (quatro discursos, Eliú fala pelos quatro);
    5. Ciclo de Yahweh e Jó: Jó 38, 1 a 42, 6;
    III. Epílogo: Jó 42, 7-17 (o narrador fala).

Conteúdo:

Cap. 1, 1-5 – Introdução ao personagem Jó;

Cap. 1, 6-12 – Mudança de lugar, de Uz para o Céu; reunião celestial;

Cap. 1, 13-19 – Mudança de lugar, do Céu para a Terra; o ataque de Satanás;

Cap. 1, 20, 22 – A reação de Jó, e a observação do narrador;

Cap. 2, 1-2 – O cenário muda novamente, da Terra para o Céu; Satanás novamente provoca Deus;

Cap. 2, 3 – Deus chama Satanás;

Cap. 2, 4-5 – Satanás responde, desafiando a Deus;

Cap. 2, 6 – A limitação imposta por Deus.  Novamente uma mudança de cena: do Céu para a Terra;

Cap. 2, 7 – Novamente uma mudança de cena: do Céu para a Terra; o ataque de Satanás a Jó;

Cap. 2, 8 – O silêncio de Jó;

Cap. 2, 9 – A reação da esposa de Jó;

Cap. 2, 10 – A resposta de Jó a sua esposa; o narrador faz uma observação, de que Jó não havia cometido pecado;

Cap. 2, 11 – O objetivo do consolo, os amigos se condoem com Jó;

Cap. 2, 12-13 – Os amigos choram e fazem silêncio por sete dias e noites;

Cap. 3, 1-10 – O discurso de Jó, que amaldiçoa o dia em que nasceu, e diz que preferiria ter nascido e morrido ao invés de ter que viver a vida e ter que passar passando por aquele sofrimento;

Cap. 3, 11-26 – Jó pergunta por que Deus estava preservando a sua vida e não lhe permitiu morrer;

A indignação dos amigos de Jó:

Cap. 4 e 5 – Elifaz repreende a Jó e faz uma advertência; pede que Jó busque a Deus;

Cap. 6 e 7 – A resposta de Jó a Elifaz, justificando as suas queixas; Jó discute com Deus;

Cap. 8 – A resposta de Bildade, “Deus não perverte o juízo”. Jó está sendo julgado por ter cometido um grande pecado, e Bildade pede para Jó arrepender-se;

Cap. 9 e 10 – Jó responde a Bildade que é incapaz de responder a Deus. Cap. 10, Jó protesta contra a severidade de Deus, 10, 2, o primeiro pedido de Jó, e 10, 18-22, o segundo pedido de Jó;

Cap. 11 – A resposta de Zofar a Jó: de que ele deve abraçar a oportunidade da misericórdia divina;

Cap. 12 – A resposta de Jó aos seus amigos. Protesto contra os três amigos, 12, 1-5 e resposta a Zofar, 12, 14;

Cap. 13 – Jó defende a sua integridade junto aos amigos;

Cap. 14 – Jó conclui o seu discurso; medita sobre a vida;

Cap. 15, 18 e 20 – Os amigos intensificam seus ataques a Jó a fim de defender a justiça de Deus;

Cap. 17 – O pedido de Jó para que Deus seja o seu fiador; já não espera nada da vida;

Cap. 19 – A esperança de Jó em Deus e na ressurreição;

Cap. 21 – Jó descreve a prosperidade dos perversos;

Cap. 22 – Elifaz acusa Jó de ter cometido grandes pecados e faz um último apelo;

Cap. 23 – Jó deseja apresentar-se perante Deus;

Cap. 24 – Os perversos muitas vezes não são castigados;

Cap. 25 – Bildade exalta Deus e deprecia o homem;

Cap. 26 – Jó afirma a soberania de Deus;

Cap. 27 – A diferença entre o ímpio e o que teme a Deus.

28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42

Cap. 31, 35 – Jó declara que a sua vida foi íntegra diante de Deus. Jó refere-se a Deus como inimigo, e espera uma resposta divina.

Cap. 32, 6-35 – Aparece Eliú para defender Deus, e faz quatro discursos condenando sistematicamente a Jó.

Cap. 32, 38-42 – Deus fala com Jó em dois discursos.

Cap. 38, 4 e 39, 30 – Perguntas divinas.

Cap. 40, 1-2 – Deus pede explicações a Jó.

Cap. 40, 3-5 – Jó responde a Deus.

Cap. 40, 6 e 41, 34 – O segundo discurso divino.

Cap. 42, 1-6 – Jó responde novamente a Deus e se arrepende.

Cap. 42, 7-17 – Deus repreende os amigos de Jó, pede o seu reconhecimento.

Jó vive por longos anos, tem novos filhos, adquire novos bens, e depois morre.

Momentos difíceis de Jó:

Cap. 3, 1-26 – Jó amaldiçoa o dia do seu nascimento; deseja pela morte.

Cap. 7, 1-21 – Jó descreve os meses de sofrimento; desejo pela morte.

Cap. 9, 16-24 – Jó questiona a misericórdia de Deus.

Cap. 16, 7-18 – Jó encontra-se exausto, não tem mais forças.

Cap. 17, 1-2 e 4-16 – Jó aguarda a morte.

Cap. 19, 2-23 – Jó declara a opressão e a perseguição de Deus.

Cap. 30, 19-21 – Jó fala sobre a crueldade de Deus.

Os protestos de Jó contra os seus amigos:

Cap. 12, 5 – O desprezo dos amigos.

Cap. 13, 7-13 – Os amigos em favor de Deus, acusam Jó.

Cap. 16, 2-5 – Jó acusa os amigos de consoladores molestos.

Cap. 31, 1-34 – Jó declara a sua integridade.

Cap. 31, 35-40 – Jó dirige-se a Deus e pede que fale com ele.

Os comentários sobre o livro de Jó estão no título O sofrimento bíblico de Jó.

Salmos, ou música, em grego, e louvores, em hebraico, constitui-se por 150 cânticos e poemas proféticos. Os versos foram utilizados pelo antigo Israel como hinário no Templo de Jerusalém, e, hoje o são como orações ou louvores, tanto no judaísmo quanto no cristianismo e no islamismo (o Corão, no capítulo 17, verso 82, refere-se aos salmos como “um bálsamo”).

Está dividido em cinco partes: capítulos 1 a 41; 42 a 72; 73 a 89; 90 a 106 e 107 a 150. A autoria é atribuída a Davi, a Asafe (levita que liderava os músicos do templo), aos filhos de Corá (eram levitas, auxiliares dos sacerdotes), a Jedutum (levita, mestre em música), a Salomão, a Etã, a Hemã e a Moisés. Muitos são anônimos, sem autoria conhecida, provavelmente os levitas.

Com exceção do Salmo 90, atribuído a Moisés (1.525-1.405 a.C.), os demais datam desde o tempo de Davi (1.010-970 a.C.) até os tempos pós-exílios. A coleção deve ter chegado à sua forma final pelas mãos de Esdras, Neemias ou algum escriba posterior ao período desses dois. Portanto, é difícil saber o contexto histórico de cada um. Também, são muitos os temas.

Os Salmos são classificados em 1) os que falam da natureza (Salmo 8); 2) os históricos e nacionais (Salmo 114); 3) os didáticos (Salmo 1, 15); 4) os messiânicos (Salmo 110); 5) os penitenciais (Salmo 51); 6) os imprecatórios – são Salmos de condenação, de maldição sobre os inimigos – (Salmo 52); 7) os de oração (Salmo 4, 82); 8) os de peregrinação (Salmo 121, 128); e os alfabéticos ou acrósticos.

Empregaram três tipos de paralelismo poético: 1) sinônimo; 2) antiético; e 3) sintético.

Sinônimo: “Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos.”

Antiético: “Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.”

Sintético: “Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre.”

O propósito teológico do livro é levar os adoradores a refletir sobre quem é Deus.

A poesia hebraica era estreitamente associada à música. Assim, embora não seja de se excluir para os salmos a possível recitação em forma de leitura, eram cânticos de louvor, ou ainda, oração cantada e acompanhada com instrumentos musicais.

O ponto de partida dos Salmos é o Deus libertador que ouve o clamor do povo e se torna presente, dando eficácia à sua luta pela liberdade e vida (Êxodo 3, 7-8). Por isso, os salmos são as orações que manifestam a fé que os pobres e oprimidos têm no Deus aliado.

Vários salmos são considerados pelos teólogos como proféticos, pois referem-se à vinda do Cristo e, por isso, existem muitas citações de versos dos salmistas no Novo Testamento, com o propósito de provar o cumprimento das profecias na pessoa de Jesus. No catolicismo os Salmos são também fonte teológica para algumas devoções, como é o caso da devoção a Maria.

Sob outro ponto de vista, de cunho não teológico, pode-se considerar os salmos como inseridos num conjunto bíblico de asserções proféticas, que expressam mais o desejo de salvação do humano diante da precariedade, incerteza e incompreensibilidade da vida e do mundo, do que propriamente predições exatas satisfatoriamente justificadas.

Os textos canônicos de Salmos assemelham-se com os poemas do ugarítico, do século II. Podem ser datados dos períodos monástico, persa (período no qual os gregos da antiguidade designavam o território governado pelos reis da dinastia fundada pelo rei Aquemênes da Pérsia,  conquistas territoriais empreendidas por Dario I e Xerxes I) e helenístico (referente ao período da história da Grécia e de parte do Oriente Médio compreendido entre a morte de Alexandre, o Grande, em 323 a.C. e a anexação da península grega e ilhas por Roma em 146-30 a.C.).

Se compararmos os Salmos com os manuscritos encontrados em Uran (os Salmos extra canônicos), o Saltério e o livro Provérbios tiveram sua forma final no século I.

Javé é o Deus vivo; ele se distingue tanto dos ídolos que não falam e que devem ser carregados, porque podem caminhar (Jeremias 10, 5), quanto dos homens, “semelhantes à erva que cresce” (Salmo 10, 5). O homem também é Javé, uma vez que Deus insuflou o “sopro” ou “espírito” (rûah); mas sua existência é de curta duração. Deus é senhor do mundo porque foi seu criador. Reside no Céu e manifesta sua presença ou sua vontade nos fenômenos como relâmpago, trovão, chuva.

Enquanto Deus é espírito, o homem é carne. Essa oposição frisa a precariedade e o caráter efêmero da existência humana, que contrasta com a onipotência e a eternidade de Deus (o homem é uma criatura de Deus).

A mortalidade do homem é consequência do desejo de Adão de tornar-se semelhante a Deus; ela reduz o homem a uma pós-existência no sheol, região escura nas profundezas da Terra. Já que a morte é, por excelência, a negação da sua obra, Javé não reina sobre o sheol, e o morto está privado de relacionar-se com Deus. No entanto, Javé é mais poderoso que a morte: se o desejasse, poderia arrancar o homem da sua sepultura. Alguns salmos aludem a esse prodígio: “Do sheol tiraste a minha alma; tu me reavivaste dentre os que baixam à cova.”.

O homem se distingue das outras criações, pois foi formado à imagem de Deus e reina sobre a natureza. A sua mortalidade é consequência do pecado original. O homem foi tirado do pó e ao pó retornará (Gênese 3, 19).

Salmos é um livro de orações e hinos da Bíblia. Ele contém cânticos de adoração que foram compostos por um longo período da história de Israel.

O livro dos Provérbios é um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento.

O livro levanta questões sobre valores, comportamento moral, o significado da vida humana e uma conduta direita. O tema recorrente é que “o temor a Deus, a submissão à Sua vontade, é o princípio da sabedoria”. A sabedoria é elogiada por seu papel na criação; Deus a manifestou antes de tudo e, através dela, ordenou o caos; e como os homens devem sua vida e prosperidade à conformidade com a ordem da criação, todos devem buscar a sabedoria.

Quase metade do livro é composta por “ditos”, e a outra é composta de longas seções poéticas de tipos variados. Entre elas, “instruções” formuladas como conselhos, e “ditos dos sábios”.

A primeira seção (capítulos 1 a 9) é um convite inicial aos jovens para que tomem o caminho da sabedoria, dez “instruções” e cinco poemas sobre a “sabedoria” personificada numa mulher. Do capítulo 10 até 22, 16, com 375 ditos, está dividido em duas partes. A primeira contrasta o justo e o mau, e a segunda apresenta os discursos do sábio e do tolo. Os capítulos 25 a 29 contrastam o justo e o mau, com um tópico sobre o rico e o pobre. Provérbios 30, 1-4, introduzem a criação, o poder de Deus e a ignorância dos homens.

Eclesiastes é um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento da Bíblia cristã. O título “Eclesiastes” é uma transliteração da tradução grega do termo hebraico Kohelet, que significa “aquele que reúne”, mas que é tradicionalmente traduzido como “professor” ou “pregador” nas traduções da Bíblia em português, e é o pseudônimo utilizado pelo autor do livro.

O livro data do período entre 450 e 180 a.C. e é da tradição de autobiografias míticas do Oriente Médio, na qual um personagem, descrevendo a si próprio como um rei, relata suas experiências e tira lições delas, geralmente autocríticas. O autor, que se apresenta como “filho de Davi”, rei em Jerusalém, ou seja, Salomão, discute o sentido da vida e a melhor forma de viver. Ele proclama que todas as ações de um homem são inerentemente hevel, um termo que significa “vãs” ou “fúteis”, pois tanto os sábios quanto os tolos terminam na morte. Eclesiastes claramente endossa a sabedoria como meio para uma vida terrena bem vivida, pois, apesar dessa falta de importância dos atos, o ser humano deve aproveitar os prazeres simples da vida diária, como comer, beber e se orgulhar de seu trabalho, pois são presentes de Deus. O livro conclui com um mandamento: “Teme a Deus e observa os seus mandamentos, porque isto é o tudo do homem.” (Eclesiastes 12, 13).

Eclesiastes é apresentado como uma autobiografia de Kohelet. A história dele é contada por um narrador, que se refere a Kohelet na terceira pessoa e elogia sua sabedoria, mas lembra ao leitor que a sabedoria tem suas limitações e não deve ser a principal preocupação dos homens. Kohelet relata, planeja, faz, experimenta e pensa. Sua jornada de conhecimento é, no final, incompleta. O leitor é instado a não apenas ouvir a sabedoria de Kohelet, mas a observar sua jornada em direção à compreensão e à aceitação das frustrações e incertezas da vida: a jornada em si é importante.

A maior parte dos comentaristas modernos considera o epílogo do livro como uma adição de um escriba posterior. Alguns identificaram algumas afirmações específicas como adições posteriores, cujo objetivo era tornar o livro mais ortodoxo do ponto de vista religioso (por exemplo, as afirmações sobre a justiça de Deus e a necessidade da fé ou piedade).

O primeiro versículo do livro é um título de página: ele introduz o livro como sendo “Palavra do Pregador Kohelet, filho de Davi, rei de Jerusalém.” (Eclesiastes 1, 1). O poema introdutório, com dez versículos, são palavras do narrador e estabelecem o tom do que virá: a mensagem de Kohelet de que nada tem significado.

Depois da introdução seguem as palavras de Kohelet. Como rei, ele experimentou de tudo e fez de tudo, mas nada foi confiável no final. A morte nivela tudo. O único bem é aproveitar a vida no presente, pois a alegria é obra de Deus. Tudo está ordenado no tempo, e as pessoas estão sujeitas a ele, ao contrário de Deus, que é atemporal. O mundo está repleto de injustiças e apenas Deus pode julgar. As pessoas devem se divertir, mas não devem ser gananciosas; ninguém sabe o que é bom para a humanidade; retidão e sabedoria escapam aos homens. Kohelet reflete sobre os limites da capacidade humana: todos encaram a morte e a morte é melhor que a vida, mas devemos aproveitar a vida enquanto podemos. O mundo está repleto de riscos e ele oferece conselhos sobre como viver com risco. Deve-se aproveitar os prazeres sempre que possível, pois pode vir um tempo no qual ninguém poderá fazer isso. As palavras de Kohelet terminam com uma imagem da natureza persistindo enquanto a humanidade marcha para o túmulo.

O narrador retorna depois com o epílogo: as palavras do sábio são duras, mas elas são aplicadas como o pastor aplica incentivos e castigos ao seu rebanho. O final original do livro era provavelmente a frase “Este é o fim do discurso” em Eclesiastes 12, 13, mas o texto atual continua com uma reprimenda final: “Teme a Deus” (uma frase que Kohelet sempre usa) “e observa os seus mandamentos” (um termo que ele nunca usa) “…pois Deus trará a juízo todas as obras” (Eclesiastes 12, 13-14).

Na minha opinião, Eclesiastes é o livro é o mais sábio da Bíblia.

Cântico dos Cânticos, conhecido também como Cantares ou Cânticos de Salomão, é um dos livros poéticos e sapienciais do Antigo Testamento.

O livro dá “voz para dois amantes que se elogiam e se desejam com convites para o prazer mútuo”. A tradição judaica o interpreta como uma alegoria da relação entre Javé e Israel. A tradição cristã, além de apreciar o sentido literal, de uma canção romântica entre um homem e uma mulher, interpretou também o poema como uma alegoria de Cristo e sua “noiva”, a Igreja Cristã.

A introdução chama o poema de “Cântico dos cânticos”. O poema começa com a expressão do desejo da mulher por seu amante e sua autodescrição às “filhas de Jerusalém”. Segue um diálogo entre os amantes: a mulher pede um encontro ao homem; ele responde atiçando-a. Os dois competem nos elogios mútuos (“o meu amado é para mim como um ramalhete da hena”“a macieira entre as árvores do bosque”“qual uma açucena entre espinhos”). Essa seção termina com a mulher pedindo às filhas de Jerusalém que não despertem um amor como o dela antes de ele estar pronto.

A mulher relembra uma visita de seu amado na primavera e utiliza a imagem da vida de um pastor: seu amado “apascenta o seu rebanho entre as açucenas.” (Cantares 2, 16). Ela fala novamente com as filhas de Jerusalém, descrevendo sua fervente e, em última instância, vitoriosa busca pelo seu amado à noite pelas ruas da cidade. Quando ela o encontra, ela o toma para si e o leva para o quarto no qual sua mãe a concebeu. A mulher revela tratar-se de um sonho “de noite no meu leito” e novamente implora às filhas de Jerusalém que não despertem o amor até que esteja pronto.

A seção seguinte narra uma procissão de um casamento real. Salomão é mencionado pelo nome e as filhas de Jerusalém são convidadas a assistir ao espetáculo. Depois, o homem descreve sua amada: “seu cabelo é como um rebanho das cabras … seus dentes são como o rebanho de ovelhas recém-tosquiadas” (Cantares 4, 1-2). Ele se apressa em chamar sua amada afirmando estar encantado por sua beleza. O texto então torna-se um “poema de jardim”, no qual ele a descreve como um “jardim trancado” (Cantares 4, 12) – uma metáfora para a castidade. A mulher convida o homem a entrar no jardim e provar das frutas; ele aceita o convite e um terceiro diz: “Comei, amigos, Bebei, sim, embriagai-vos, caríssimos.” (Cantares 5, 1).

A mulher conta às filhas de Jerusalém um outro sonho. Ela estava em seu quarto quando seu amado bateu na porta. Ela demorou para abrir e, quando o fez, ele já havia partido. Ela procurou por ele nas ruas novamente, mas não conseguiu encontrá-lo e os vigias, que a ajudaram da primeira vez, desta vez, bateram nela. Ela pede que as filhas de Jerusalém a ajudem a encontrá-lo e descreve a beleza de seu amor. Finalmente ela permite que seu amado entre em seu jardim, em segurança, e tão comprometido com ela quanto ela por ele.

O homem descreve sua amada; a mulher descreve um encontro dos dois. O povo louva a beleza da mulher. O homem afirma sua intenção de provar os frutos do jardim da mulher e ela o convida para um passeio nos campos. Ela, mais uma vez, pede que as filhas de Jerusalém não despertem o amor até que esteja pronto.

A mulher compara o amor à morte e ao sheol: o amor é tão forte e ciumento quanto esses dois e não pode ser apaziguado por nenhuma força. Ela chama seu amante usando o mesmo linguajar já utilizado antes: “o veado ou como o filho da gazela sobre os montes de aromas” (Cantares 8, 14).

O Cântico dos Cânticos não dá nenhuma pista sobre a data, o local e em quais circunstâncias foi escrito. Cantares 1, 1 afirma que o autor é Salomão, mas mesmo se esse versículo puder ser entendido como uma declaração de autoria, ele não pode ser lido da mesma forma como se lê uma afirmação moderna do mesmo tipo.  

Isaías é um livro profético. Sua importância é refletida também no Novo Testamento, considerando-se que há mais de quatrocentas referências diretas ao livro, feitas pelos evangelistas e apóstolos.

Em seus dias, Isaías viveu e narrou a tensão política e militar que o território de Israel experimentava, com eventos decorrentes principalmente de um panorama marcado por intensas e contínuas guerras.

O início do ministério profético de Isaías situa-se em 754 a.C., coincidindo com duas datas históricas precisas: a morte do rei Uzias de Judá e a fundação de Roma.

Isaías, filho de Amoz (não Amós, o profeta vaqueiro), nasceu por volta de 765 a.C. e viveu na corte dos reis de Judá. Letrado, culto e politicamente privilegiado, pode ter feito parte da casta sacerdotal de Jerusalém.

Em 740 a.C., ano da morte do Rei Uzias, ele recebeu sua vocação profética e exerceu seu ministério por quarenta anos, numa época de crescente ameaça que a Assíria fazia pesar sobre os reinos de Israel e Judá.

Embora a teologia tradicional judaico-cristã defenda a existência de um único autor, respaldada por Eclesiastes 48, 24-25, existem evidências de que o livro foi obra de mais de um autor, merecendo destaque o início do capítulo 40, em que se verifica a descontinuidade entre o Primeiro e o Segundo Isaías, pois ocorre uma mudança abrupta do século VIII a.C., para o período do Exílio na Babilônia (século VI a.C.): a Assíria é substituída pela Babilônia.

Para alguns estudiosos, o Livro de Isaías é uma coletânea de profecias de épocas bem diferentes, cuja redação final deve ter acontecido por volta de 400 a.C., ou mesmo posteriormente. Segundo eles, trezentos anos depois da morte de Isaías ainda se atualizavam suas palavras, pois mesmo as profecias da época dele foram relidas na perspectiva pós-exílica. A afirmação crítica baseia-se na pressuposição naturalista de que seria impossível prever, com mais de 300 anos de antecedência, o nome do rei (Ciro) que destruiria Babilônia, conforme declarado no livro de Isaías.

O livro que traz o nome de Isaías pode ser dividido em três grandes partes: os capítulos 1 a 39 contêm a mensagem do profeta chamado Isaías, cuja preocupação central é a santidade de Deus, ou seja, só Deus é absoluto. Em meio a grandes mudanças políticas internacionais, Isaías condena a aliança com as grandes potências, mostrando que a nação só será salva se permanecer fiel a Deus e ao seu projeto, no qual a justiça é o valor supremo.

Isaías foi enfático contra a falsa religião. Na sua época, as pessoas frequentavam o Templo, mas para o profeta isso não bastava, pois encher o Templo com iniquidade e solenidade era um erro enorme, isso porque as pessoas que levavam ofertas para Jeová eram as mesmas que não se importavam em fazer o direito funcionar.

O profeta denunciou o comportamento dos ricos e latifundiários, dos que viviam em grandes festas custeadas pelo trabalho dos pobres, dos que exploravam o povo negando-lhe a justiça e dos que se faziam grandes e importantes vivendo em grandes banquetes.

Os capítulos 40 a 55 foram escritos, segundo estudiosos, por um profeta anônimo que iniciou a pregação após 550 a.C., no final da época do exílio na Babilônia, quando ocorriam as primeiras vitórias de Ciro II. Apresentam uma mensagem de esperança e consolação. O fim do exílio, de 587 a.C. a 538 a.C., é visto como um novo êxodo e, como no primeiro, Jeová será o condutor e a garantia dessa nova libertação. O povo de Deus convertido, mas oprimido, é chamado “Servo de Jeová”. O Novo Testamento atribui esse título a Jesus, o justo que sofreu e morreu para nos libertar. A comunidade, depois de convertida e libertada, se tornará missionária, luz para que as nações se voltem para o verdadeiro Deus.

O Segundo Isaías, pode ser subdividido em duas partes: capítulos 40 a 48, queda da Babilônia, libertação por Ciro II; e capítulos 49 a 55, restauração de Sião, insistência no universalismo da salvação.

Os capítulos 56 a 66 são atribuídos por estudiosos ao Terceiro Isaías. Apresentam uma coleção de profecias que procuram estimular a comunidade que veio do exílio na Babilônia e se reuniu em Jerusalém com os que estavam dispersos. Condena os abusos que começam de novo a aparecer e mostra qual é o verdadeiro jejum (Isaías 58, 1-12) necessário para que haja novos céus e nova terra.

O Terceiro Isaías não é de um autor único. Essa parte é uma coletânea diversificada: Isaías 63, 7 e 64, 11 parecem anteriormente ao fim do exílio na Babilônia, enquanto a profecia de 66, 1-4 é contemporânea da reconstrução do Templo, aproximadamente em 520 a.C.

Conteúdo do livro:

1-Cap. 1, 1 ao 6, 13 – A mensagem e o mensageiro.

2-Cap. 7, 1 ao 12, 6 – Expectativas do reino, contemporâneas e futuras.

3-Cap. 13, 1 ao 23, 18 – O panorama das nações.

4-Cap. 24, 1 ao 27, 13 – Israel no palco do mundo da época.

5-Cap. 28, 1 ao 35, 10 – Verdadeiras e falas esperanças em Sião.

6-Cap. 36, 1 ao 39, 8 – Adiamento do julgamento de Jerusalém.

7-Cap. 40, 1 ao 56, 8 – A promessa do livramento divino.

8-Cap. 56, 9 ao 66, 24 – Estabelecimento do reino de Deus.

Dos Cap. 40 ao 53, os “Cânticos do Servo” (são quatro cânticos).

O Livro de Jeremias é um livro profético. Filho do sacerdote Hilquias, da Tribo de Benjamim, nasceu entre 650 e 640 a.C. Jeremias foi sacerdote e previu, segundo a Bíblia, a invasão babilônica – Nabucodonosor II atacou Israel em 597 a.C. e novamente em 586 a.C., quando os caldeus destruíram Jerusalém e queimaram o Templo.

O livro está contextualizado no período do décimo terceiro ano do reinado de Josias até o décimo primeiro ano de Zedequias.

O período em que Jeremias viveu foi marcado por uma profunda desconstrução do universo simbólico de Israel. Durante décadas as noções de religiosidade, ritual e justiça foram desconstruídas sob o domínio babilônico.

Acredita-se que o livro tenha começado a ser escrito por volta de 605 a.C., quando Jeremias foi preso, e começou a ditá-lo ao seu secretário Baruc. A obra só foi completada após a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor II.

No início do reinado de Josias, em 627 a.C., Jeremias proclamou um julgamento contra Israel e Judá por causa da sua infidelidade a Jeová e veneração a outros deuses, especialmente os deuses que garantiam a fertilidade da terra.

Com a decadência da Assíria (queda de Nínive em 612 a.C.), outros povos entram no cenário: citas, medos, babilônios e os egípcios, que tentam ressurgir após um período decadente. Com isso, a Palestina volta a ser palco de disputas políticas e militares. Josias morre em Megido, em 609 a.C. Jeocaz, que sucedera a Josias, é deposto, e Jeoaquim assume o trono de Judá. O povo detestava Jeoaquim e Jeremias o critica violentamente (Jer 22,13-19). É dessa época o discurso contra o Templo, que quase custou a vida do profeta.

A Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor II. Jeremias adverte os israelitas da breve invasão dos babilônios. Por volta de 605 a.C., quando Nabucodonosor II venceu o Faraó Neco II e ameaçou Judá, o profeta foi ao pátio do Templo e anunciou a destruição de Jerusalém (Jer 19, 14-20).

Jeremias continuou denunciando o povo que havia se esquecido de Deus, por falsear o culto, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais e aponta que os principais responsáveis são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes).

Jeoaquim tinha morrido quando, em 598 a.C., o exército babilônio estava prestes a invadir Jerusalém. Seu filho e substituto Jeconias, também chamado Joaquim, não teve tempo para nada. Após três meses, Jerusalém era invadida e o profeta e parte da elite judaica foram levados para o exílio na Babilônia (597 a.C.). Jeremias afirmou que esse castigo era decorrente da ruptura da aliança com Deus.

Alguns estudiosos afirmam haver uma desorganização cronológica do livro, e isso é tido como indício de autenticidade textual.

Estrutura do livro:

Cap. 1, 1-19 – O chamado de Jeremias como profeta.

Cap. 2, 1 ao 15, 19 – Profecias contra Judá.

Após o chamado, o profeta presta as suas primeiras mensagens públicas: acusação de infidelidade e de maldade de Judá, para que o povo se arrependa, a advertência sobre o desastre iminente, e a promessa de restauração.

Dos cap. 7 ao 10, mensagens de Jeremias de diferentes ocasiões (na maior parte durante o reinado de Jeoiaquim, 609 a 598 a.C. – oráculos sobre idolatria, sacrifícios de crianças, e termina com o anúncio de sua ida para o exílio na Babilônia.

Dos cap. 11, 1 ao 15, 21, a quebra da aliança entre Israel e Deus, e o profeta faz confissões.

Cap. 16, 1 ao 29, 32 – Resposta à ameaça divina de julgamento.

De 16, 1 ao 20, 18, o profeta continua com as advertências e os pedidos para que os israelitas retornem para Deus.

Do cap. 21, 1 ao 25, 38, trata sobre o julgamento e esperança.

Cap. 30, 1 ao 33, 26 – A nova aliança; o texto fala de esperança, anunciando a futura restauração de Israel.

Dos cap. 26 ao 45, o profeta registra eventos da sua vida, que incluem a queda de Jerusalém e a mensagem dada do Egito.

Cap. 34, 1 ao 39, 18 – Os últimos dias de Jerusalém.

Os cap. 34 ao 39 tratam principalmente do papel de Jeremias durante o cerco e a queda de Jerusalém (588 – 587 a.C.). Narram eventos que ocorreram durante o reinado de Jeoiaquim. O cap. 35 revela que a fidelidade dos recabitas deve servir de exemplo. O cap. 36 retrata o clímax da rejeição de Deus por Judá. Os cap. 37 ao 39 registram os eventos durante o cerco de Jerusalém pelo exército de Nabucodonosor e as provações do povo israelita.

Cap. 40, 1 ao 45, 5 – O destino daqueles deixados na terra.

Cap. 46, 1 ao 51, 64 – profecias contra outras nações.

Cap. 52, 1-34 – A queda de Jerusalém e o cativeiro babilônico.

O Livro das Lamentações é um conjunto de cinco poemas, provavelmente escritos após a queda e destruição de Jerusalém por Nabucodonosor II, nos anos 587-586 a.C.

No livro o au­tor se lamenta acerca da si­tua­ção miserável e humilhante em que se encontra o povo e as instituições de Israel, em decorrên­cia do mau proceder do povo e da sua infidelidade à Aliança.

As “confissões” são diálogos com Jeová: lamentos e orações quando Jeremias mais sentiu o peso de sua missão. Obrigado a pregar a desgraça para o seu povo, a ser do contra, ameaçado, rejeitado, caluniado, desprezado, ele se lamenta, amaldiçoando até mesmo o dia em que nasceu.

É possível que tenham sido escritos em 605 a.C. como um desabafo das crises vividas pelo profeta desde o começo de sua atividade.

Os capítulos 1, 2 e 4 são cantos fúnebres, enquanto o capítulo 3 é uma lamentação individual, e o capítulo 5 é uma lamentação coletiva, também conhecida como Oração de Jeremias.

Ezequiel foi um sacerdote chamado para profetizar durante o exílio do povo judeu na Babilônia, tendo exercido sua atividade entre os anos 593 e 571 a.C.

O propósito das profecias de Ezequiel foi entregar a mensagem divina do juízo ao povo apóstata de Judá e de Jerusalém, e às sete nações estrangeiras ao seu redor, além de conservar a fé do povo remanescente fiel a Deus no exílio.

O profeta também ressaltou a responsabilidade pessoal de cada indivíduo diante de Deus, ao invés de somente culpar os antepassados e seus pecados como a causa do exílio como julgamento.

Segundo ele, a sociedade sofria de doença crônica e incurável, pois havia abandonado o projeto de Yahweh em troca de uma vida luxuosa e fascinante. Por isso, Ezequiel vê o próprio Deus deixando o Templo (11, 22-24) e largando os rebeldes ao bel-prazer dos amantes.

Com esse programa profético, vislumbrava-se um futuro novo: Deus voltaria para o seu povo (43,1-7), provocando o surgimento de uma sociedade nova.

A doutrina desse profeta busca a renovação interior: é preciso criar, para si, um coração novo e um espírito novo (18, 31); ou ainda, o próprio Deus dará “outro” coração, um coração “novo”, e infundirá, no homem, um espírito “novo” (11,19 e 36, 26).

Daniel, também chamado de Beltessazar, foi um jovem príncipe judeu levado como prisioneiro de guerra pelas tropas do Império Babilônico, em meio à rebelião para a independência de Judá.

O livro de Daniel contém um registro de certos incidentes históricos da vida de Daniel e de seus três amigos, judeus deportados que estavam à serviço do governo da Babilônia, e o registro de um sonho profético do rei Nabucodonosor, interpretado por Daniel, juntamente com o registro de visões recebidas pelo profeta.

Depois de terem sido levados para Babilônia no primeiro cativeiro no ano 605 a.C., durante a primeira campanha do rei Nabucodonosor contra Síria, Daniel e outros príncipes foram escolhidos para serem preparados para o serviço governamental.

O rei Jeoaquim, durante cujo reinado Daniel tinha sido levado cativo, permaneceu leal a Babilônia durante alguns anos. No entanto, mais adiante se rebelou. Judá sofreu invasões militares; seus cidadãos perderam a liberdade e foram levados para o cativeiro, e o rei perdeu a vida. Joaquim, filho e sucessor de Jeoaquim, depois de um breve reinado de só três meses, viu a volta dos exércitos babilônicos para castigar a deslealdade dos judeus. Junto com milhares dos principais cidadãos de Judá, foi levado cativo no ano 597 a.C. Seu sucessor, Zedequias, tratou de permanecer leal a Babilônia. No entanto, devido aos sentimentos antibabilônicos de seus principais conselheiros, levou Nabucodonosor, já cansado das repetitivas revoltas ocorridas na Judéia, a acabar com o reino de Judá. Os exércitos da Babilônia assolaram a terra de Judá, tomaram e destruíram as cidades, inclusive Jerusalém com seu templo e seus palácios, e levaram cativos à maioria dos habitantes de Judá no ano 586 a.C.

Daniel esteve na Babilônia durante esses dias agitados. Durante os anos de cativeiro ele e seus três amigos cumpriram lealmente e sem alardes seus deveres como servidores do rei e súditos do reino. Depois de sua esmerada instrução, chegaram a ser membros de um grupo que servia ao rei como conselheiros. Foi então quando Daniel teve a oportunidade de explicar a Nabucodonosor o sonho dos impérios futuros. Como resultado Daniel foi nomeado para um cargo importante, que reteve durante muitos anos.

Estão registrados no livro de Daniel quatro acontecimentos principais do reinado de Nabucodonosor, e em três deles figura Daniel:

-A educação dos príncipes judeus durante os três primeiros anos de seu reinado;

-A interpretação do sonho de Nabucodonosor no segundo ano do reinado do monarca;

-A libertação extraordinária dos amigos de Daniel;

-A interpretação do sonho de Nabucodonosor, que anunciou que o rei perderia a razão durante sete anos, o que provavelmente ocorreu durante os últimos anos do monarca.

Os babilônios pediram novamente os serviços de Daniel durante a noite da queda de Babilônia no ano 539 a.C., para que lesse e interpretasse a escritura no muro da sala de banquetes de Belsazar, filho de Nabonido, último rei persa. Daniel voltou a ser o principal conselheiro da coroa. Foi ele quem mostrou ao rei as profecias de Isaías, as quais influíram sobre o monarca persa para que promulgasse a Declaração de Ciro, o decreto que terminava com o exílio dos judeus e lhes dava novamente uma pátria e um templo. Ademais recebeu outras visões importantes durante estes últimos anos de sua vida, primeiro durante o reinado de Dario, e depois durante o de Ciro.

A profecia da estátua de Nabucodonosor é relatada no segundo capítulo do livro de Daniel: no ano de 606 a.C., o Império Babilônico dominava o mundo de então. Nabucodonosor II, o rei deste império, tinha subjugado o povo de Israel e muitos foram levados para o cativeiro.

O sonho da estátua, tido por Nabucodonosor, teria o seguinte significado, segundo Daniel:

cabeça de ouro: Império Babilônico; peito e braços de prata: Reino Medo; ventre e coxas de bronze: Império Aquemênida (Persa); pernas de ferro e pés de ferro/argila: Império Grego de Alexandre, depois dividido entre Ptolomeus e Selêucidas.

A pedra simboliza o reino messiânico, o reino divino, definitivo, que destrói os poderes humanos. Esta é a pedra que esmaga o Império Selêucida, que oprime o povo judeu.

Outra profecia atribuída a Daniel é a das Setenta Semanas. A narrativa bíblica diz que no primeiro ano do rei Dario, Daniel notou, nos escritos de Jeremias, que o fim dos setenta anos de desolação de Jerusalém estava se aproximando. Ele recebeu uma revelação transmitida pelo anjo Gabriel, anunciando a reconstrução da cidade e a morte de um Ungido. Outra profecia é a do carneiro e do bode, na qual se mostra a derrota e a conquista do Império Medo e do Império Persa pelas mãos de Alexandre, o Grande.

No terceiro ano do governo de Ciro (536 a.C.), Daniel recebeu novas visões apocalípticas. A profecia revelava que o cenário mundial passaria a ser dominado por duas principais potências políticas opostas.

Daniel previu a destruição de Jerusalém e do templo e anteviu o sofrimento do povo dos israelitas na Babilônia. E forneceu um novo conceito para a morte, falando da ressurreição dos mortos (Daniel 12, 2) – E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno.”

O Livro de Oseias possui catorze capítulos.

O profeta Oseias exerceu sua atividade no Reino de Israel entre o final do reinado de Jeroboão II e a queda de Samaria (750-722 a.C.). Esse foi um período difícil para Israel, devido a vários acontecimentos importantes, como as conquistas assírias entre 734 e 732 a.C., quatro reis que foram assassinados e à corrupção religiosa e moral.

A pregação de Oseias teve como ponto de partida uma experiência pessoal (capítulos 1 e 3). Ele amava a sua esposa, mas ela o deixou para se entregar a outros amantes. Esse amor não correspondido ultrapassou o nível de frustração pessoal para ser uma enorme força de anúncio: o profeta apresentou a relação entre o Deus, sempre fiel e cheio de amor, e seu povo, que o abandonou e preferiu correr ao encontro dos ídolos.

Oseias passou, então, a denunciar todo tipo de idolatria, que ele chamava de prostituição. Essa comparação será, a partir de então, uma constante nos escritos bíblicos. Tais prostituições, segundo Oseias, não consistiam somente em adorar imagens de ídolos, mas inclusive em fazer alianças políticas com potências estrangeiras que provocavam dependência, exploração econômica e opressão (7, 8-12 e 8,9-10). Prostituições são também os golpes de Estado que preservam interesses de uma pequena minoria (7, 3-7), a confiança no poder militar e nas riquezas (8,14 e 12,9), e todo tipo de injustiças (4,1-2; 6,8-9 e 10,12-13).

Oseias repreendeu principalmente as classes dominantes da sociedade: os reis escolhidos contra a vontade de Jeová, que rebaixaram o povo eleito ao nível dos outros povos e os sacerdotes que espalharam ignorância e, cheios de ganância, levaram o povo à ruína.

O profeta condenou as injustiças e a violência, denunciou uma corrupção moral profunda em Israel (4,1-2, 6, 7-10 e 7,1), a falta de justiça social e a responsabilidade culposa das elites.  Além disso, ele anuncia o amor fiel e misericordioso de Deus para com seu povo.

Alguns estudiosos sustentam que o livro de Joel – que não se refere a nenhum rei, nem ao exílio – foi escrito no final da era monárquica. No entanto, a maioria dos exegetas afirma que foi escrito após o Exílio na Babilônia e após a reconstrução do Templo de Jerusalém, aproximadamente em 400 a.C. O livro não se refere a nenhum rei, nem ao Exílio.

A mensagem do profeta é o “julgamento que Deus fará contra os inimigos de Israel e, de uma perspectiva escatológica, a vitória final do povo de Deus”.

Pode-se dividir o livro em duas partes: os dois primeiros capítulos narram uma terrível invasão de gafanhotos que devasta a plantação do país, e Joel pede a participação de todos (profetas, sacerdotes e povo), com arrependimento e jejum, para suplicar a Deus que afaste a catástrofe. Deus mostra a sua misericórdia e anuncia a libertação da praga e as bênçãos para uma nova plantação. Como o profeta compara esses gafanhotos a um exército, talvez se possa pensar que ele esteja falando de uma invasão inimiga. Os dois últimos capítulos descrevem o julgamento de Deus sobre as nações e a vitória final.

O que na primeira parte eram gafanhotos ou exército inimigo, na segunda se transforma em exército de Deus e a praga se torna apenas uma imagem do grande dia em que a humanidade prestará contas a Deus. Assim como afastou os gafanhotos, também a misericórdia de Deus, alcançada pelo arrependimento e jejum, transforma o julgamento em dia de libertação e salvação: arrasada a plantação, esta ressurge nova e viçosa. Desse modo, uma praga de gafanhotos observada atentamente serviu para que Joel anunciasse o dia de Javé.

Amós, um contemporâneo mais antigo de Oseias e Isaías, estava ativo por volta de 750 a.C. durante o reinado de Jeroboão II (788-747 a.C.), sendo o primeiro livro profético da Bíblia a ser escrito. Amós viveu no reino de Judá, mas pregou no reino do norte de Israel. Seus principais temas são a justiça social e o julgamento divino.

Aproximadamente no 760 a.C., Amós era um pastor de ovelhas (1, 1 e 7,14) e cultivador de sicômoros (7, 14), um fruto comestível que se parece com o figo.

Há uma breve introdução (1, 2), seguida por uma série de oráculos (1, 3 até 2, 16) contra as nações vizinhas – Damasco, a nordeste; Gaza, no poente; Tiro, a noroeste; Edom, a sudeste e Amon e Moabe a leste –, por suas crueldades.

Os capítulos de 3 a 6 condenam Israel por sua hipocrisia (porque apesar de terem cometido idolatria, ainda realizavam as festas do Pentateuco) e injustiça social, merecendo destaque o discurso contra a impenitência de Israel (4, 6-13), as palavras contra o culto de Betel (4, 4-5 e 5, 4-5), as denúncias contra a injustiça social (3, 9-11 e 4,1-3), contra o orgulho e a falsa segurança (3, 1-22; 5, 18-20 e 6, 1-7).

Em cinco visões, Amós anuncia o fim do Reino de Israel, porque a situação era insustentável diante de Deus – os gafanhotos 7, 1-3 e o fogo 7, 4-6; o estanho 7, 7-9 e o fim do verão 8, 1-3; a visão do santuário 9, 1-4.

Alguns de seus principais ensinamentos são: orações e sacrifícios não compensam más ações e comportar-se com justiça é muito mais importante que o ritual (Amós 5, 21-24). Não há um verso em seus escritos que admita a existência de outras divindades.

O Livro de Obadias ou Abadias é o menor livro da Bíblia, com apenas um capítulo. Sua autoria é atribuída a Abadias.

Os primeiros nove versículos do livro preveem a destruição total na terra de Edom por Deus. Obadias escreve que essa destruição será completa e Deus fará com que todos os aliados da nação de Edom não só a abandonem como se voltem contra ela, ajudando a expulsar seu povo. Os versículos 10 e 14 explicam que, quando o povo de Deus foi atacado, Edom recusou-se a ajudá-lo, agindo assim como um inimigo. Por esse tratamento, Edom seria coberta de vergonha e destruída para sempre. Os últimos versículos, do 15 ao 21, relatam a restauração de Israel e a aniquilação dos edomitas. O versículo 18 afirma que “ninguém mais restará da casa de Esaú”. Israel se tornará um lugar santo, e seu povo retornará do exílio e habitará a terra que foi ocupada pelos edomitas. O versículo final da profecia coloca Deus como o rei que governará sobre todas as montanhas de Edom.

Jonas, segundo a interpretação tradicional, seria um relato biográfico do profeta Jonas, no qual o Deus de Israel o teria mandado profetizar ao povo de Nínive, capital do Império Assírio, para persuadi-lo a se arrepender ou, caso contrário, a cidade seria destruída dentro de 40 dias. Jonas profetizou no Reino de Israel Setentrional, no século VII, no reinado de Jeroboão II.

O profeta tentou fugir da “presença do Senhor” indo para Jope e navegando para Társis, quando uma tempestade surgiu. Os marinheiros, percebendo que não era uma tempestade comum, lançaram a sorte e descobriram que Jonas era o culpado. Jonas admitiu isso e afirmou que se ele fosse jogado ao mar, a tempestade cessaria. Os marinheiros se recusaram e continuam a remar, mas todos os seus esforços fracassaram, sendo forçados a jogar Jonas ao mar. Como resultado, a tempestade se acalmou e os marinheiros ofereceram sacrifícios a Deus. Jonas foi milagrosamente salvo por ser engolido por um peixe grande, onde passou três dias e três noites. Enquanto estava no grande peixe, Jonas orou para Deus, e se comprometeu a agradecer e a pagar o que prometera. Deus então ordenou que o peixe vomitasse Jonas, e novamente ordenou que Jonas viajasse para Nínive e profetizasse aos seus habitantes.  Depois que Jonas profetizou em Nínive, o povo acreditou em sua palavra e proclamou um jejum. Deus viu seus corações arrependidos e poupou a cidade, humilhada.

Descontente e enfurecido pela humilhação sofrida pelo povo, Jonas saiu da cidade e construiu um abrigo, esperando para ver se a cidade seria ou não destruída. Deus fez com que uma planta crescesse sobre o abrigo de Jonas, para lhe dar alguma sombra. Depois, Deus fez com que uma lagarta mordesse a raiz da planta e ela murchasse. Jonas, sendo exposto a toda a força do sol desmaiou, e pediu a Deus que o matasse.

Miquéias profetizou de 740 a 690 a.C., nos reinados de Jotão (742-735 a.C.), Acaz (735-715 a.C.) e Ezequias (715-687 a.C.). Foi contemporâneo de Oséias (profeta do norte) e Isaías (profeta do sul).

Nesse período os assírios expandiram o território em direção ao Mediterrâneo, e em 734-732 a.C. Tiglath-Pilkeser III atacou Israel, e boa parte do seu povo foi deportada para a Mesopotâmia. Esse rei capturou a cidade de Gaza em 734 a.C. e, anos mais tarde, em 721 a.C., outro rei, Sargão II conquistou Asdobe.

Em 701 a.C. Senaqueribe invadiu Judá, destruiu inúmeras cidades, e deportou boa parte da população para a Assíria. Jerusalém permaneceu em pé, porém em 586 a.C. foi destruída pelos babilônios. (Mal 4, 10).

Esse livro profético se caracteriza pela condenação dos ricos, por explorarem os pobres, denunciando os governantes, chefes e ricos das cidades de Jerusalém e Samaria. Estes estavam roubando o povo, exigiam presentes e subornos. Miqueias também denunciou a cobiça, os ganhos imorais, a maldade planejada, a balança desonesta e o crime organizado.

Miqueias é conhecido como o defensor dos oprimidos. Ele condenou os ricos latifundiários por tirarem a terra dos pobres, atacou os comerciantes desonestos por usarem balanças fraudulentas, subornarem os juízes e cobrarem juros extorsivos. Até mesmo os sacerdotes e profetas tinham-se deixado levar pela onda de ganância e desonestidade que varria Israel. Miqueias falou de forma extremamente dura com aquele povo, que estava mais preocupado em seguir rituais do que em viver retamente.

No livro de Miqueias existem também promessas e esperanças.

Estrutura do Livro:

Cap. 1 a 3 – Destruição.

O livro inicia com uma teofania, e anuncia um julgamento de Deus. O capítulo 2 detalha as práticas (pecados) dos povos de Judá e de Jerusalém. Miquéias anuncia a destruição de Jerusalém e do Templo. No capítulo 3 são ditas palavras contra a liderança de Israel.

Cap. 4 e 5 – Visões.

Deus anunciou através do profeta a restauração do Templo de Jerusalém, o retorno daqueles que estavam no exílio, e a vinda de um rei que iria apascentar a nação. Miquéias também anunciou que seria de Jerusalém que sairiam os ensinamentos de Deus a todas as nações.

Cap. 6 e 7 – Discórdia e conciliação.

Nos dois últimos capítulos, Deus anuncia uma acusação contra o povo de Israel:

– Um alerta e convocação de testemunhas;

– Perguntas que implicam em uma acusação;

– Recordação dos benefícios concedidos aos israelitas, e das ofensas que quebraram a aliança;

– A inutilidade de rituais e de sacrifícios.

Ao final, Deus anuncia o que esperava dos israelitas, o juízo contra Jerusalém e a reconciliação entre Deus e Judá.

O livro de Naum é uma “pronúncia contra Nínive”, capital do Império Assírio. Teria sido escrito algum tempo depois de a cidade egípcia de Nô-Amom (Tebas) sofrer uma derrota no século VII a.C., e completado antes da predita destruição de Nínive, em 632 a.C.

Naum aborda a queda da Assíria, o opressor de Israel. Um salmo inicial mostra Javé como juiz que age na história (1, 2-8). Ele é apresentado como um Deus ciumento e vingador, cheio de furor, e ao mesmo tempo como um Deus bom, o abrigo para os que são perseguidos.

O livro começa com uma mensagem sobre a justiça de Deus contra a Assíria, o poder dominante na época do profeta (671 a.C.).

A Assíria tinha aniquilado o reino de Israel nos governos dos reis Tiglat-Pileser III (734-732 a.C.), Salamaser V (722 a.C.) e Sargão II (720 a.C.).

No ano de 701 a.C. o rei Senaqueribe fez uma campanha militar contra Judá, e boa parte do povo foi deportado para a Mesopotâmia. Judá viveu sob o jugo dos assírios até o fim do Império no século VII a.C.

A destruição de Nínive é descrita de maneira grandiosa, não deixando dúvidas sobre quem destrói a capital sanguinária e idólatra: o próprio Deus.

Estrutura:

Cap. 1 – Anúncio da destruição de Nínive;

Cap. 2 – Descrição da destruição de Nínive;

Cap. 3 – Os resultados da destruição de Nínive.

O fim do Império Assírio se deu principalmente devido:

– território muito extenso;

– pressão dos povos medos (oriente) e caldeu (sul);

– destruição de Assur em 614 a.C.;

– destruição de Nínive em 612 a.C.

Habacuque é o livro cuja autoria é atribuída ao profeta de mesmo nome e a data em que esse livro foi escrito é muito discutida: pouco antes da queda de Nínive em 612 a.C. – nessa hipótese, os opressores seriam os assírios –, ou entre a Batalha de Carquemis em 605 a.C. e o primeiro cerco a Jerusalém em 597 a.C. e, nesse caso, os opressores seriam os caldeus.

O livro tem três capítulos, e é uma canção, sendo que os últimos versos são considerados uma das maiores expressões de fé do Antigo Testamento.

Habacuque é diferente dos demais livros dos profetas em seu estilo literário, pois não há profecias contra esta ou aquela nação ou pessoa em particular, mas um diálogo entre o profeta e Deus.

O profeta inicia o livro fazendo perguntas a Deus e pedindo socorro, pois está cansado de ver Israel sofrer opressão.

Sofonias possui três capítulos. O profeta era tetraneto do rei Ezequias e seu ministério ocorreu no tempo do rei Josias, em 640-609 a.C.

O tema de sua mensagem é que Deus está firmemente em controle do Seu mundo, apesar das aparências contrárias, e que comprovará isso em breve, ao aplicar um castigo terrível sobre a nação desobediente de Judá, além de completa destruição das nações pagãs gentias. Somente através de um arrependimento é que haveria possibilidade de escape dessa ira.

O profeta Sofonias viveu e exerceu a sua atividade em um momento em que Judá era disputado pelas grandes potências da época. Dentro do país se formaram dois partidos: um querendo ficar sob a influência do Egito, outro da Assíria.

Nesse contexto, Sofonias exerce seu ministério entre os anos 640-630 a.C., durante a menoridade de Josias. O Dia de Javé ou O Dia do Senhor não é o fim do mundo e da história, mas a transformação do povo de Deus e o fim de uma era de idolatria.

O livro descreve um tempo de grande apostasia e corrupção, quando as condições morais e religiosas então prevalecentes eram baixas, devido à influência maligna dos reinados de Manassés e Amom.

O profeta adverte o seu povo sobre a aproximação do Dia do Senhor, e há o apelo ao arrependimento. O livro está dividido: 1.o julgamento de Judá (O Dia de Javé); 2.o julgamento de nações; 3.os motivos do julgamento de Jerusalém; e 4.o remanescente e o reino Messiânico.

A estrutura do livro:

Cap. 1, 1-4 – A destruição do povo israelita;

Cap. 1, 5-10 – O juízo contra os idólatras;

Cap. 1, 11-14 – As providências de Deus;

Cap. 1, 15-18 – A consequência do pecado;

Cap. 2, 1-4 – A humildade e a justiça;

Cap. 2, 5-11 – Ameaça de Deus às nações;

Cap. 2, 2-15 – As ruínas das nações;

Cap. 3, 1-5 – A justiça humana e a justiça de Deus;

Cap. 3, 6-10 – A promessa de purificação;

Cap. 3, 11-14 – A felicidade dos remanescentes;

Cap. 3, 15-20 – O Deus que muda.

O livro de Ageu tem dois capítulos e sua autoria é atribuída ao profeta homônimo, um dos líderes que coordenou o retorno dos judeus do exílio na Babilônia. No século VI a.C. Judá era lugar de pobreza generalizada, uma vez que havia sido destruída pela Babilônia.

As profecias de Ageu se deram aproximadamente durante quatro meses no ano de 520 a.C., quando os israelitas começavam a voltar da Babilônia, após o decreto de Ciro, rei da Pérsia.

A estrutura do livro:

Cap. 1, 1-15 – Acusação contra os judeus que estavam reconstruindo suas casas e não o templo;

Cap. 2, 1-9 – O contraste entre os dois templos (o primeiro construído por Salomão e o segundo sob a liderança de Zerobabel e o sumo sacerdote Josué);

Cap. 2, 10-19 – Ageu apela aos judeus para serem fiéis à aliança (pureza ritual de Levítico) e os lembra que é a fidelidade para com esse pacto com Deus que permitiria que as bençãos Dele fossem derramadas (Deuteronômio 28);

Cap. 2, 20-23 – O futuro de Judá. Yahweh destruiria todas as nações que oprimiriam Judá e estabeleceria um rei sobre o trono de Davi (2 Samuel 7).

Apresentado como neto de Ido (Zacarias 1, 1 e 1, 7), Zacarias deve ter sido, por volta de 500 a.C., chefe da família sacerdotal de Ido, pai de Baraquias, umas das famílias sacerdotais da tribo de Levi.

Contemporâneo de Ageu, foi um dos profetas pós-exílio, e viveu em uma época em que a comunidade judaica procurava reconstruir as suas bases de fé e vida social.

Os exilados que retornaram à sua terra natal em 536 a.C., sob o decreto do rei persa Ciro, estavam entre os mais pobres dos judeus. Cerca de cinquenta mil pessoas retornaram para Jerusalém sob a liderança de Zorobabel e Josué. Reconstruíram o altar e iniciaram a construção do templo. Logo, todavia, a apatia se estabeleceu, à medida que eles foram cercados pela oposição dos vizinhos samaritanos, que conseguiram uma ordem do governo persa para interromper a construção na satrapia judia. Durante cerca de doze anos a construção foi impedida.

O profeta, em oráculos e visões, mostrou que Deus queria realizar o seu projeto através da comunidade. O profeta reanimou a esperança do povo, que passou por grandes dificuldades materiais e dúvidas de fé.

Zacarias, assim como Ageu, preocupou-se com a reconstrução do Templo de Jerusalém, mas deu maior destaque à restauração nacional e às suas exigências de pureza e moralidade.

A primeira parte do livro, dos capítulos 1 a 8, contém os oráculos do profeta. A segunda parte, dos capítulos 9 a 14, foi escrita no final do século IV a.C. (o estilo é diferente e não há menção a Zorobabel, Josué, nem à reconstrução do templo, por exemplo). Nesse período os gregos dominavam a Palestina, depois da grande campanha de Alexandre, o Grande. O autor olhou para o futuro do povo de Deus e anunciou o aparecimento do Messias com três características: rei (Zacarias 9, 9-10), bom pastor (Zacarias 11, 4-17 e 13, 7-9) e “transpassado”, ou que transgrediu as normas (Zacarias 12, 9-14).

A introdução do livro foi escrita em 520 a.C., provavelmente dois meses após a primeira profecia de Ageu, e as oito visões do profeta foram no início de 519 a.C. (Zacarias 2, 4). Os capítulos 7 e 8 foram escritos dois anos mais tarde, em 518 a.C. A referência à Grécia em Zacarias 9, 13 pode indicar que os capítulos 9 a 14 foram escritos depois de 480 a.C., quando a Grécia substituiu a Pérsia como o grande poder mundial.

Estrutura do livro:

Cap. 1, 1-6 – Chamado ao arrependimento;

Cap. 1, 7 a 6, 8 – Oito visões e profecias;

As visões de Zacarias: reconstrução de Jerusalém, retorno do exílio de Babilônia, lideranças política (Zorobabel) e espiritual (Josué) e obediência a Deus.

Cap. 6, 9-15 – A coroação de Josué como sumo sacerdote;

Cap. 7 e 8 – Sobre o jejum, a desobediência a Deus, e as ações de Deus junto aos israelitas;

Cap. 7, 1-14 – Justiça e misericórdia uns com os outros e não jejum;

Cap. 8, 1-23 – A restauração de Sião;

Cap. 9, 1-8 – Oráculo contra as nações estrangeiras (Hadaque, Damasco, Tiro, Sidom, Gaza, Asquelom, Ecrom, Asdode);

Cap. 9, 9-17 – A vinda do rei de Sião;

Cap. 9, 11 – Oráculo sobre o rei para apascentar a comunidade;

Cap. 10, 1-12 – O cuidado de Deus por Israel e Judá;

Cap. 12 a 14 – Oráculo sobre uma batalha envolvendo Jerusalém – Jerusalém prosperará.

Zacarias é referido como o mais messiânico de todos os livros do Antigo Testamento. Dentre as referências ao Messias: Como o Servo do Senhor, o Renovo (Zacarias 3, 8); Como o homem cujo nome é Renovo (Zacarias 6, 12); Como Rei e como sacerdote (Zacarias 6, 13); Como o verdadeiro Pastor (Zacarias 11, 4-11); Rei Messias humilde e pacífico (Zacarias 9, 9-10).

O profeta anuncia a traição a Cristo por trinta moedas de prata (Zacarias 11, 12-13 e Mateus 27, 9), sua crucificação (Zacarias 12, 10), seus sofrimentos (Zacarias 13, 7) e a sua segunda vinda (Zacarias 14, 4). A entrada de Jesus em Jerusalém é descrita com detalhes em Zacarias 9, 9, quatrocentos anos antes do acontecimento (Mateus 21, 4 e Marcos 11, 7-10).

Malaquias profetizou em Judá no período pós-exílio. Se sabe que o profeta viveu no tempo de Esdras e Neemias e seu ministério ocorreu em algum momento entre 458 e 433 a.C. Havia pobreza severa, fome, confisco de propriedades e escravidão por dívida. As ênfases de Malaquias foram aos problemas de conflitos sociais e de relaxamento no culto.

Não há evidências quanto a autoria do livro. É uma literatura profética, exortativa e confrontativa; os discursos são sumários, em prosa, na terceira pessoa. Há uma acusação (Mal 1, 2 e 2, 7); a ameaça do julgamento divino (Mal 3, 1-5); instrução (Mal 3, 6-12); e as consequências (Mal 3, 14 e 4, 3).

O primeiro discurso de Malaquias foi direcionado à comunidade hebraica pós exílio, que vivia em Jerusalém. O segundo discurso foi direcionado aos sacerdotes e levitas que serviam no Templo. Os últimos quatro discursos foram novamente direcionados à comunidade pós exílio, em Jerusalém.

O profeta falou contra o casamento com mulheres estrangeiras (Mal 2, 11-15; Neemias 13, 23-27), combateu a negligência sobre o dízimo (Mal 3, 8-10; Neemias 13, 10-14), criticou severamente as práticas reprováveis de um sacerdócio corrompido (Mal 1, 6 e 2, 9; Neemias 13, 7-8) e repreendeu o povo pelos pecados sociais praticados (Mal 3,5; Neemias 5, 1-13).

Malaquias enfrentou os mesmos problemas que Esdras e Neemias, pois foram contemporâneos. Ele denunciou o estado de corrupção pelo pecado em que o povo de Israel se encontrava. Naquela época o povo estava desanimado, tomado pela desilusão e com muitas dúvidas, pois acreditavam que as promessas de Deus que diziam respeito à restauração após o cativeiro babilônico não haviam se cumprido. Além dessa angústia, Judá ainda estava sob o domínio de uma nação estrangeira, os persas, e uma pesada carga de impostos era cobrada do povo, o que acabava gerando muita pobreza e problemas financeiros, além de sofrer a hostilidade das nações vizinhas. Esse cenário fez com que o povo deixasse de lado o zelo pela obra de Deus, e o culto acabou prejudicado.

O profeta, então, falou sobre a realidade do amor de Deus (Mal 1, 1-5), denunciou a infidelidade de Israel (Mal 1, 6 e 2, 16) e exortou sobre a certeza da justiça de Deus, que julgará adequadamente o justo e o ímpio (Mal 2, 17 e 4, 6). A mensagem do profeta também aponta para Cristo, no sentido de que por mais que o povo estivesse desanimado, Deus enviaria o Messias para purificar seu povo. Malaquias também profetizou que o culto a Deus se espalharia por todas as nações (Mal 1, 11).  Assim, o grande objetivo da mensagem do profeta  foi convocar o povo ao arrependimento, falando sobre a importância da fé, renovada no cumprimento da promessa sobre a vinda do Messias que julgaria ímpios e justos.

A estrutura do livro:

Cap. 1, 1 – Cabeçalho;

Cap. 1, 2-5 – O amor de Yahweh por Israel;

Cap. 1, 6 e 2, 9 – Acusação da corrupção sacerdotal;

Cap. 1, 6-9 e 1, 11-14 – Denúncia do fato de os sacerdotes fazerem ofertas impróprias a Deus;

Cap. 1, 2 a 2, 9 – Os sacerdotes são avisados e advertidos a não desonrarem a Deus;

Cap. 2, 10-16 – Acusação sobre a infidelidade do povo;

Cap. 2, 17 a 3, 6 – O que está por ocorrer; Deus, mensageiro da justiça de julgamento;

Cap. 2, 17 – O profeta preocupado com a indiferença do povo, que culpava a Deus por seus problemas sociais e financeiros;

Cap. 2, 10 a 3, 6 – A comunidade de Judá é advertida quanto a ser infiel a Deus;

Cap. 3, 1-6 – Quatro anúncios sobre o futuro;

Cap. 3, 7 a 4, 6 – O povo de Judá é convidado a retornar para Deus e lembrar a lei;

Cap. 3, 7-12 – O chamado para servir a Yahweh;

Cap. 3, 10-12 – Deus mostra o que faria se o povo voltasse para Ele;

Cap. 3, 13 a 4, 4-6 – O que está por vir no dia do julgamento.